Trata-se do ensaio de capa da Playboy que chegou às bancas de Portugal no dia 1.º de julho e que conseguiu, ao mesmo tempo, reunir críticas e elogios tanto de fãs do autor quanto daqueles que condenavam seu ateísmo. Numa espécie de Pietá com papéis invertidos, um homem representando Cristo apoia uma mulher seminua e tatuada no colo, sobre uma cama em cuja cabeceira lê-se a inscrição O Evangelho Segundo Jesus Cristo - nome do livro de 1991 que acirrou a briga entre Saramago e a Igreja Católica. A chamada principal da revista é para entrevista com o escritor, a mesma que foi publicada em 1995 pela Playboy brasileira. A conversa vem acompanhada por ensaio no qual o personagem aparece cercado de mulheres seminuas em situações variadas: num "flagrante" de prostituição; numa cozinha, perto de uma mulher armada; observando uma cena de lesbianismo, etc.
A publicação teve suas fotos reproduzidas em sites de vários países, como Brasil, Espanha, EUA e Inglaterra, e dividiu internautas. O site Gospel+, por exemplo, publicou a capa com uma tarja, mas deu o link para a imagem original, argumentando que não publicaria "qualquer conteúdo pornográfico, tão pouco essa agressão e desrespeito a nossa fé".
Uma jornalista do Departamento de Comunicação da revista disse ao Estado que "parece que as pessoas não entenderam bem o conceito". "Elas se esquecem de que o verdadeiro conceito da Playboy é ser uma revista interventiva, que desafia a refletir. O que fizemos foi usar uma produção para falar da obra de José Saramago. Não falamos mal de Jesus, falamos bem, porque Jesus defendia as mulheres."
As imagens, explicou, referem-se a situações como a violência doméstica, o aumento da prostituição e o direito ao casamento homossexual. O editor de Saramago em Portugal, Zeferino Coelho, avaliou como " boa" a iniciativa da revista. "Com a morte dele saíram muitas homenagens, e essa é mais uma. É válida."
Com circulação de 80 mil exemplares, a Playboy portuguesa existe desde abril de 2009 e é, segundo o Departamento de Comunicação, "mais ousada que outras revistas masculinas do país".
Fonte: Estadão [link morto]
Nota da casa: Não é caso de falar em censura ou de cerceamento do direito da liberdade de expressão. Mas sim do mesmo medo e tabu em ver na nudez [especialmente a feminina] uma expressão da espiritualidade, do sagrado, do divino.
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