Não é difícil entender por que as bruxas são tão temidas. Esse é o nosso Pai, o Deus Cornífero, o Deus das Feiticeiras.
O condutor da fertilidade, aquele que nos faz sentir a vida correndo nas veias, no corpo, nos fluidos, no nosso fogo mais primitivo. Incompreendido e relegado a qualquer lugar onde seu nome não possa ser mencionado... Por que ele assusta aqueles que não o compreende.
Nesse ponto da nossa jornada, encontramos o aspecto de Deus que nos mostra a nossa escuridão e também a nossa verdadeira luz. Com ele dançamos a dança mágica e frenética da vida. Ele é Pan, é Dionisio, é Cernunnos... é o Deus selvagem que arrasta as Bacantes. Profundamente incompreendido, nos leva a cruzar nossos próprios horizontes, a mirar o espelho do mais profundo do nosso eu.
Cruzar com esse Deus logo após vivenciar a Temperança é uma tarefa difícil, pois implica saber que é possível conciliar, fundir os opostos... mas que para isso é preciso chafurdar na nossa lama... lama que é terra, que é matéria, como é também o Deus Cornífero.
Somente quando vivenciamos esse momento compreendemos por completo o que é a união apresentada na Temperança. Nela a fusão vem acompanhada de um profundo sentimento de emoção, de fluidez. Agora, com O Diabo, estamos diante do espelho negro da bruxa, o espelho negro que é o instrumento usado para ver o que os olhos não deixam... ou não querem: nosso eu mais escondido, mais feio, mais nosso que qualquer outro eu.
O Deus das Bruxas não se presta tão somente como o fertilizador da Deusa, seu chifre simboliza a renovação, a regeneração, o novo que surge a partir do momento em que aceitamos que somos também trevas. Somente quando esses aspectos de nós mesmos são trazidos à consciência é que podemos dizer que tocamos sim boa parte dos mistérios.
É um encontro doloroso por que estamos acostumados a ter Deus como um ser bom sentado numa nuvem, lá longe. Mas para nós, praticantes da Arte, ele está aqui dentro e aí dentro de você, e nas árvores, nas folhas, nas fezes, nos fluidos corporais.
Ele nos ensina que não há a quem culpar, nunca houve. E agora, nesse ponto da caminhada, quando já passamos por muitas coisas no nosso treinamento mágico, que é treinamento de vida, a responsabilidade é maior... assim como é maior a felicidade e a alegria de estar vivo.
Ele nos mostra que o inferno não existe a não ser nos nossos corações, nos nossos atos. Somos responsáveis por tudo!
Foi ele quem nos ensinou isso e somente quando damos a mão para ele e com ele dançamos é que compreendemos a profundidade do querer e ousar. Compreendemos que ele é o Deus da Luz e é também o Deus das trevas... ele é escuridão e fogo...
O preço que se paga por trilhar verdadeiramente o caminho é a, na verdade, o de ser completo. E ser completo implica saber... saber o bem e saber o mal, o nosso e o dos outros... mas principalmente o nosso.
Autora: Lua Serena, na Sociedade Wicca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário