quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Perguntas sem resposta

Por Moisés Mende

1. Por que só 5 mil pessoas invadiram Brasília? Alguns dizem até hoje que tinha muita gente no 8 de janeiro. Não tinha. O cálculo mais superestimado cita essas 5 mil pessoas. O resto é chute. É público de ginásio de esportes de qualquer cidade média do interior. Por que não apareceu mais gente do entorno de Brasília e os invasores se resumiram aos acampados e aos que foram levados no dia em veículos fretados?

2. Por que não houve reação à tentativa de golpe? Um pouco mais de 5 mil pessoas invadem Brasília e 212 milhões de brasileiros ficam olhando a invasão pela TV. Nem no dia 8, nem no dia seguinte e nem dias depois houve qualquer articulação de resistência nas ruas pela democracia e em defesa da posse de Lula. Se houver outra tentativa de golpe, essa inércia irá se repetir?

3. Por que nenhum líder do golpe mostrou a cara? Eram manés, patriotas ou ‘todos eram 171’, como disse Lula, mas não havia ninguém com alguma relevância ou algum passado de ativismo político entre os invasores. Por que só as manadas foram empurradas para o golpe, enquanto os grandes líderes fugiam e os chefes intermediários se escondiam?

4. Por que os acampados de fora de Brasília foram poupados? As primeiras prisões foram feitas no dia 8. As outras, no acampamento do QG do Exército, no dia seguinte. Os demais acampamentos perto de quartéis reuniram muita gente por todo o país, como os 5 mil de Itajaí. Todos conspirando contra a posse de Lula. Esses outros manés, nunca presos e indiciados, não cometeram nenhum crime?

5. O golpe foi uma articulação com várias frentes, muito antes do 8 de janeiro, incluindo os tios do zap que disseminavam fake news junto com a alerta de que algo iria acontecer. Além dos casos de ativistas com dinheiro que foram para restaurantes dizer que o bloqueio de estradas deveria ser mantido. Esses, que espalharam o terror, como o conselheiro do TCU João Augusto Nardes, estão impunes até hoje. Alysson Paulinelli, outro disseminador do levante militar, poderia ser processado se ainda estivesse vivo, ou estaria na mesma turma de Nardes, que se acomodou na moita?

6. O que vai acontecer com os que se negam a admitir que cometeram crimes? Os que não aceitam o acordo da persecução penal (com admissão dos delitos, mas sem cumprir penas) continuam fugindo da Justiça, assim como os condenados foragidos que estão na Argentina e em outros países da região. O que vai acontecer com os blogueiros golpistas foragidos Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio, se não forem extraditados e continuarem livres e debochando de Alexandre de Moraes e do Judiciário?

7. Por que até hoje os grandes financiadores das estruturas do fascismo não foram alcançados? Por que os milionários da extrema direita, investigados como criminosos desde 2019, até hoje estão impunes? Seria pela força do poder econômico, que se sobrepõe ao poder político e até ao poder militar?

8. Quem estará ao lado de Lula no evento que relembrará em Brasília o segundo ano da tentativa de golpe do 8 de janeiro? No ano passado, muitos valentes com altas funções institucionais se acovardaram. Continuarão acovardados, mesmo que o chefe militar do golpe esteja preso?

9. O que eles estão preparando para 2025, em currais fascistas ainda intactos, em preparação ao que pretendem fazer em 2026?

10. E se Bolsonaro não for preso?

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/10-perguntas-sobre-o-antes-o-durante-e-o-depois-do-8-de-janeiro-por-moises-mendes/

Começou a perseguição

Dois vereadores estreantes na Câmara Municipal de São Paulo, Amanda Vettorazzo (União) e Lucas Pavanato (PL), iniciaram seus mandatos protocolando três CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) contra movimentos sociais e ONGs. As iniciativas miram o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), a Frente de Luta por Moradia (FLM) e organizações que atuam na Cracolândia. Segundo reportagem do UOL, as ações buscam mobilizar o eleitorado bolsonarista e manter os dois políticos em evidência.

Amanda Vettorazzo, ex-integrante do MBL, protocolou um pedido de CPI para investigar o MTST e a FLM, associando as ocupações de moradia a desastres ambientais. Em documento, ela afirmou que “as áreas e propriedades invadidas comumente são áreas de risco, como prédios com risco estrutural e áreas de encosta com risco de deslizamento”. Em uma postagem nas redes sociais, Vettorazzo declarou: “Vou tratar invasores como criminosos terroristas”. Para ela, a CPI também busca investigar supostos pagamentos de aluguéis em ocupações e rastrear o destino desses valores.

Lucas Pavanato, por sua vez, preferiu não nomear grupos específicos em seus pedidos de CPI, mas sua assessoria admitiu ao UOL que os movimentos sociais podem ser alvos da investigação. “A CPI é para investigar ONGs que estão à frente de invasões em propriedades da cidade. Mesmo que o MTST não seja citado no projeto, pode ser que o movimento seja investigado durante a CPI”, explicou. Pavanato também protocolou um pedido para investigar ONGs que atuam na Cracolândia, alegando falta de transparência no uso de verbas públicas.

Os cientistas políticos Fabio Andrade, da ESPM, e André César, da Hold Assessoria Parlamentar, destacam que as ações dos vereadores são estratégias para se posicionar como opositores à esquerda. “É uma demarcação de território que inflama e mantém o eleitorado bolsonarista mobilizado”, afirmou César ao UOL. Andrade complementa que essas iniciativas visam marcar presença diante da Mesa Diretora da Câmara, liderada por Ricardo Teixeira (União), considerado um político de centro.

A UNE (União Nacional dos Estudantes) também se posicionou sobre as CPIs, criticando a atuação de Vettorazzo e Pavanato. Em nota ao UOL, a entidade afirmou que essas propostas “enfraquecem o debate público” e “retiram espaço na agenda política para decisões urgentes sobre segurança, moradia, saúde e educação na cidade”. Segundo a UNE, os projetos são uma tentativa de “circular desinformação para manter o engajamento dos eleitores alinhados a esse pensamento”.

Ao final do primeiro dia de trabalho, Pavanato comemorou nas redes sociais, afirmando que já estava “aterrorizando a extrema-esquerda”. Vettorazzo, por sua vez, reforçou seu compromisso em combater movimentos de moradia ligados a Guilherme Boulos (PSOL).

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/bolsonaristas-eleitos-em-sp-miram-organizacoes-civis-como-alvo-ja-no-1o-dia/

Um ensaio de teocracia


“O governo Jair Bolsonaro foi um ensaio de teocracia. Se continuarmos desse jeito estaremos indo para uma teocracia, como os Estados Unidos também estão”, afirmou o historiador Rodrigo de Sá Netto, autor do livro “O Partido da Fé Capitalista - Imperialismo religioso e dominação de classe no Brasil”, da editora Da Vinci Livros, em entrevista ao programa Mario Vitor e Regina Zappa.

Depois de uma intensa pesquisa que durou muitos anos, Rodrigo de Sá Netto traz em seu livro, lançado recentemente, um importante estudo sobre a penetração no Brasil de igrejas e organizações, sobretudo evangélicas, provenientes dos Estados Unidos. O livro é baseado inteiramente em fontes documentais do SNI, da SAE, da CIA e do Arquivo Nacional dos EUA, é um vasto panorama desse tema desde os anos 50 e traz uma história impressionante sobre as organizações, as estratégias e as ideias que legitimam a dominação de classe através da religião no Brasil.

Uma das questões abordadas na conversa foi sobre o que o Estado pode fazer para neutralizar o avanço da dominação capitalista e conservadora das igrejas evangélicas. Algumas declarações de Rodrigo:

 “Em relação, por exemplo, a organizações missionárias que estão atuando junto a indígenas na Amazônia, sobretudo indígenas isolados, o governo brasileiro tem que expulsar essas agências, não tem outro caminho. É preciso fortalecer a Funai.”

“Outra providência é taxar essas igrejas, que são igrejas, mas também são empresas.”

“Essas igrejas não têm apenas uma teologia, mas também uma filosofia econômica, que estimula o empreendorismo individual, a precarização das relações de trabalho e usam o dinheiro do dízimo para aplicar em outras empresas. Além disso, tem pastores que são também empresários.””

Taxando as igrejas podemos começar a quebrar o monopólio religioso de um pequeno número de líderes religiosos, que têm rádio televisões, sobre o público evangélico brasileiro.”

Fonte: https://www.brasil247.com/entrevistas/o-brasil-corre-o-risco-de-se-tornar-uma-teocracia-diz-rodrigo-de-sa-netto

Estou calmo em Estocolmo


Um dos assuntos mais comentados nessa virada de ano tem sido a ameaça feita por um policial civil à jornalista da GloboNews, Natuza Nery. Segundo o policial, emissora e Natuza são responsáveis pela situação do país e jornalistas como ela “merecem ser aniquilados”.

Evidentemente, agressões e ameaças são condenáveis. Porém, esse caso (longe de ser exceção) revela que a grande mídia realmente é uma das responsáveis pela situação do país. Não no sentido que pensa o policial. É responsável por tirar o fascismo da coleira, o que, ironicamente faz com que situações como a relatada neste texto sejam cada vez mais comuns.

Para entender o presente contexto, podemos voltar uma década, mais precisamente ao mês de junho de 2013. Na época, para engrossar as manifestações que tomavam conta do país (a princípio centradas em questões municipais, mas em pouco tempo direcionadas para a atacar o governo Dilma), a grande imprensa convocou todos os setores antipetistas para saírem às ruas, independentemente do direcionamento ideológico. Como dizia um famoso jargão: o importante era tirar o PT.

No caso da extrema direita, o cálculo era claro. A cadela do fascismo (sempre no cio, lembrando Brecht) seria retirada da coleira para morder o PT. Assim que o Partido dos Trabalhadores saísse do Planalto, com a direita tradicional retornando ao poder, a cadela do fascismo voltaria para a coleira.

Como sabemos, tal estratégia não deu certo. Dilma foi reeleita e a cadela do fascismo se tornou um ator relevante no espaço público. Diante dessa realidade, não se poderia aceitar mais um mandato do PT. Se a via eleitoral não deu certo, era preciso recorrer a clássica tática do golpe de Estado. Em mais uma oportunidade, a cadela do fascismo foi convocada para morder o PT, dessa vez vestindo verde e amarelo nos atos pelo golpe contra Dilma.

Concretizado o golpe, a cadela do fascismo, já como força hegemônica na direita brasileira, queria voos mais altos: chegar à presidência da República.

Foi o que aconteceu em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro. A mídia, por sua vez, apoiou o mito. Lembrando o mantra: o importante é tirar o PT. Acreditava-se que, na presidência, a cadela do fascismo seria domesticada.

Não foi o que ocorreu. Muito pelo contrário. No poder, a cadela do fascismo ficou mais empoderada ainda. Qualquer um que fosse minimamente contrário às ideias de Bolsonaro, seria mordido pela cadela do fascismo. Como a grande mídia adota a agenda woke do imperialismo estadunidense, logo é contra os valores da tradicional família cristã, merece ser repudiada. Jornalistas que criticaram a postura negacionista de Jair Bolsonaro durante a pandemia da Covid-19 foram atacados em todo país. E assim por diante.

Hoje, a cadela do fascismo está fora do poder. Mas se engana quem acredita que a grande mídia rompeu com o extremismo de direita. Se preciso for, para derrotar Lula ano que vem, jornalistas como Natuza Nery vão abraçar a cadela do fascismo novamente. Seja com Zema, Tarcísio ou qualquer outro que morda a esquerda. 

Como diz o mantra: o importante é tirar o PT.

Fonte: https://revistaforum.com.br/opiniao/2025/1/2/midia-liberal-ajudou-tirar-fascismo-da-coleira-agora-mordida-por-ele-171877.html

O despertar da Bunny Black


Yami Kurokawa sempre foi uma mulher de grandes habilidades e determinação, sua trajetória começou nas forças armadas, onde se destacou como uma soldado de elite, ganhando a respeitável boina preta. Após anos de serviço, ela decidiu usar suas habilidades de forma diferente e se tornou segurança no Cassino Dragão Dourado, um local repleto de brilho e ostentação, mas também de segredos obscuros. O cassino atraía uma multidão diversificada, e Yami, com seu olhar atento e instintos aguçados, rapidamente se tornou uma figura respeitada entre os funcionários e clientes.

Certa noite, enquanto patrulhava a área dos jogos, Yami sentiu uma onda estranha percorrer seu corpo. A energia pulsava em suas veias como se algo oculto estivesse prestes a se revelar. Naquele instante, ela percebeu que não era apenas uma segurança comum; algo dentro dela estava despertando. Lembranças de sua vida passada começaram a fluir, e a figura de Bunny Black surgiu em sua mente — uma lendária heroína conhecida por sua astúcia e habilidades sobre-humanas. Yami, em sua essência, era essa heroína, e a conexão com seu passado militar a tornou ainda mais forte e preparada para enfrentar desafios.

À medida que os dias passavam, Yami começou a explorar seus novos poderes. Com a agilidade de um felino e a precisão de um atirador experiente, ela usou suas habilidades para proteger o cassino de ameaças invisíveis, como fraudes e conspirações. A atmosfera do Cassino Dragão Dourado, que antes parecia apenas um palco de jogos e apostas, transformou-se em um campo de batalha onde Yami, como Bunny Black, lutava para manter a ordem. Seus colegas começaram a notar as mudanças nela, admirando sua coragem e determinação, sem saber que a segurança que respeitavam havia se transformado em uma guardiã misteriosa que desafiava as sombras que ameaçavam o lugar.

Criado com Toolbaz.
Arte gerada por IA.

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Nikolas 2030?

A possível ascensão de novos nomes da direita brasileira tem sido alvo de debates cada vez mais intensos. Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o professor João Cezar de Castro Rocha afirmou que “Nikolas Ferreira é o projeto da extrema-direita para 2030”. Em suas palavras, o parlamentar eleva a discussão sobre o que denomina “extrema-direita 24/7”, em referência ao caráter contínuo de campanha política desempenhado por certos grupos.

Durante a conversa no Boa Noite 247, o professor ressaltou a força de lideranças que, em sua maioria, nasceram na década de 1990. “Isso é bem importante. Eu acho que é uma questão demográfica e essa questão demográfica será decisiva em 2026. Você sabe em que ano nasceu Nikolas Ferreira? 1995. André Fernandes e Bruno Engler nasceram em 1996, Lucas Pavanato em 1997. Há uma questão demográfica”, destacou. Segundo ele, a extrema-direita “triunfa porque viver em campanha é o próprio da extrema-direita. Eles não fazem campanha nos dois ou três meses anteriores a uma eleição majoritária, eles fazem campanha vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, trezentos e sessenta e cinco dias por ano”.

Outro ponto de reflexão foi a atuação das igrejas evangélicas, especialmente na comunicação em Libras (Língua Brasileira de Sinais). O professor lembrou que, na posse do então presidente Jair Bolsonaro, Michelle Bolsonaro “inovou de duas formas. Ela fez discurso e ela fez discurso em libras”. Essa iniciativa, segundo ele, evidencia uma estratégia de mobilização religiosa que vem sendo praticada há pelo menos duas décadas no Brasil: “As igrejas evangélicas no Brasil, de todas as denominações, há pelo menos duas décadas, preparam fiéis que aprendem a falar libras”.

O tema do futuro de Jair Bolsonaro também foi abordado. “Eu acho muito difícil que o Bolsonaro se torne elegível uma vez mais, e mais difícil ainda que ele consiga escapar da prisão”, afirmou João Cezar de Castro Rocha, referindo-se a processos que tramitam contra o ex-presidente. Segundo o professor, entretanto, a provável ausência de Bolsonaro no cenário eleitoral não deve enfraquecer a extrema-direita, que já estaria “projetando o cenário” com outros nomes e estratégias.

Ele também chamou a atenção para o contexto internacional. “A extrema direita brasileira estará profundamente reenergizada […] a partir do dia 20 de janeiro, com a posse de Donald Trump e com o papel importantíssimo que Elon Musk desempenhará”, afirmou. Para ele, Musk teria o objetivo de desmontar barreiras institucionais, abrindo caminho para projetos autoritários nos Estados Unidos e, por consequência, influenciando outros países, como o Brasil. “É muito claro o projeto agora. Neste instante, enquanto estamos falando, Elon Musk está tentando influenciar a eleição na Inglaterra e na Alemanha. […] Imagine o que acontecerá no Brasil em 2026.”

O professor sublinha que a esquerda deve entender as dinâmicas da extrema-direita se quiser reagir de forma eficiente. “Porque a esquerda perdeu a sua capacidade de militância desse jeito permanente, de estar nas comunidades, de fazer trabalho nas bases…”, disse. No contexto brasileiro, esse fator — somado ao universo digital — indica uma tendência de crescimento de lideranças jovens, como Nikolas Ferreira, André Fernandes, Bruno Engler e Lucas Pavanato.

Para João Cezar de Castro Rocha, a estratégia bolsonarista consiste em manter a “chama acesa” enquanto se busca um espaço de barganha política. Entretanto, ele avalia que o núcleo duro do bolsonarismo, “embora não vá dizê-lo”, já trabalha com a hipótese de Bolsonaro não participar do pleito de 2026. Nesse cenário, novos nomes ganham força como alternativas para a condução do projeto conservador.

Fonte: https://www.brasil247.com/entrevistas/nikolas-ferreira-e-o-projeto-da-extrema-direita-para-2030-diz-joao-cezar-de-castro-rocha

Ingerência


Em entrevista ao programa "Boa Noite 247", o professor João Cézar de Castro Rocha expôs preocupações sobre a influência crescente dos juristas evangélicos no cenário legislativo brasileiro através da Anajure (Associação Nacional de Juristas Evangélicos). Rocha destacou que a organização tem como objetivo principal monitorar e assegurar que a legislação brasileira não prejudique a fé evangélica.

“Em 2012 foi criada no Brasil a Associação Nacional de Juristas Evangélicos. Qualquer pessoa que entrar na página da internet e procurar Anajure e se der o trabalho de ler o que está exposto publicamente como os objetivos e a declaração de princípios da Anajure, cai da cadeira. O terceiro objetivo da Anajure diz que eles querem manter sob escrutínio permanente a legislação brasileira e os projetos de lei apresentados na câmara, para terem certeza de que não há nenhum prejuízo à fé evangélica”, afirmou Rocha.

O professor também abordou a declaração de princípios que todos os membros da Anajure devem assinar, ressaltando o impacto dessa declaração na conduta dos juristas evangélicos na sociedade brasileira. “Na declaração de princípios que todo membro da Anajure deve assinar, diz que a conduta deles na sociedade é definida pela crença no caráter inerrante da Bíblia. Esse caráter inerrante da Bíblia remete ao fundamentalismo no início do século 20 e à ideia de que é uma palavra infalível, que não pode ser questionada e, portanto, não tem sentido atualizá-la de acordo com o mundo moderno. A Bíblia guia mais a ação deles do que qualquer espécie de preceito social.”

Além disso, Rocha fez uma comparação preocupante com movimentos de extrema direita em outros países, como Hungria, destacando as intenções de transformar o ordenamento jurídico brasileiro em uma ordem teocrática. “O objetivo da extrema direita no Brasil é fazer uma engenharia social similar à de Viktor Orban da Hungria. Aqui no Brasil eles já não querem tanto a presidência da República em 2026, eles querem maioria no Congresso, porque se dispuserem de maioria na Câmara e maioria no Senado, eles podem aprovar as propostas de emenda constitucional que desejarem e encaminhar o ordenamento jurídico brasileiro para uma ordem teocrática. Isto é, fiel ao antigo testamento.”

Rocha também discutiu as divisões internas no movimento MAGA (Make America Great Again) nos Estados Unidos, mencionando figuras influentes como Steve Bannon, Elon Musk e Peter Thiel. “O cenário mais provável com a divisão que agora vai ocorrer no MAGA, o Make America Great Again, é entre uma pulsão de caráter populista radical, que é uma pulsão representada pelo Steve Bannon, e um projeto de engenharia institucional que é o projeto representado pelo Elon Musk e pelo Peter Thiel, que tem sido pouco mencionado no Brasil, mas ele certamente desempenhará papel importante no governo do Trump.”

O professor ressaltou a dependência de figuras como Elon Musk do estabelecimento americano e a tensão representada por Steve Bannon e Peter Thiel, que visam uma modificação interna da democracia americana. “Elon Musk não existiria, ou praticamente não teria o poder econômico que possui, sem os acordos ultra milionários que ele tem com o Estado norte americano, com a NASA, entre outras agências do governo dos USA. Portanto, o Elon Musk é dependente do establishment americano. Já o Steve Bannon representa uma tensão revolucionária, um caráter revolucionário conservador populista e politicamente sempre mais radical que o de Elon Musk, e especialmente, o Peter Thiel, que representarão uma tendência de engenharia institucional. O que que eu quero dizer com isso é que em lugar de uma ideologização da política pública e de uma hiper politização de cada gesto do governante, o Elon Musk, e sobretudo, o Peter Thiel, estarão mais preocupados com a modificação interna da democracia americana, de modo a produzir nos Estados Unidos algo similar ao que o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, logrou êxito em fazer.”

A análise de Rocha aponta para uma crescente influência de grupos religiosos na política e o risco de uma legislação baseada em princípios religiosos, o que poderia impactar a laicidade do Estado brasileiro e os direitos de minorias. A entrevista serve como um alerta sobre a necessidade de vigilância e debate público sobre os rumos da legislação no país.

Fonte: https://www.brasil247.com/entrevistas/joao-cezar-de-castro-rocha-juristas-evangelicos-querem-regular-a-legislacao-brasileira-com-base-na-biblia

Nota: Afeganistão e Talibã estão ali na próxima esquina.
Arte gerada por IA.