sábado, 28 de junho de 2025

A pandemia que persiste

A cena bizarra aconteceu no centro do poder dos Estados Unidos, do lado de fora da ala oeste da Casa Branca.

Uma oração de um grupo de evangélicos prometendo "libertar a Terra" em nome de Deus.

"Estamos tomando a Terra", diz na ocasião Paula White, assessora do Escritório da Fé da Casa Branca. Enquanto isso, ouve-se ao fundo um homem falando em línguas, prática comum entre pentecostais e carismáticos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se declara cristão sem denominação. Na posse, ele foi à Igreja Episcopal próxima à Casa Branca, mas é uma longa tradição dos mandatários de Washington ir à Igreja de São João.


Trump já teve três casamentos, recebeu uma condenação civil por estupro e outra por falsificar documentos para esconder a compra do silêncio da atriz Stormy Daniels, com a qual teria tido um caso extraconjugal quando a atual primeira-dama, Melania, estava grávida.

Ainda assim, Trump se elegeu duas vezes com votos de uma coalizão de religiosos conservadores. Dentre os católicos, atraiu os que não aceitam o aborto. Dentre os judeus, os defensores do governo de Benjamin Netanyahu. Dentre os evangélicos, especialmente os neopentecostais, com promessas de políticas públicas.

Fim do estado laico?

No dia 18, quarta-feira, a Casa Branca recebeu pastores de todo o país para um evento. Publicou nas redes uma nota:

Hoje, o Escritório de Fé da Casa Branca recebeu 100 pastores e líderes religiosos de todo o país para um briefing aprofundado sobre políticas públicas, liberdades religiosas, assistência social e adoção, desenvolvimento mental e saúde cerebral (cuidados de saúde mental) e muito mais! Oramos por Donald Trump e pelas decisões que ele está tomando em questões mundiais!

Na sexta-feira, 20, no horário de Washington, os Estados Unidos fizeram uma ataque sem precedentes a instalações nucleares do Irã.

Diz Paula White no vídeo:

Agradecemos agora mesmo, Senhor, do leste, do oeste, do norte e do sul. Tu abalarás a América com teu poder e tua glória. Cancelamos todas as missões do inimigo. Esta Nação nasceu para ser uma Nação sob Deus. E estamos pisando no solo da Casa Branca. E estamos declarando a tua palavra.

A presença de pastores evangélicos na Casa Branca, inclusive no salão oval, não é incomum.

Em trecho do vídeo, diz a oradora:

Todo lugar que nossos pés pisarem, tu nos darás. E estamos tomando a terra. Agradecemos, Senhor. Tu nos trouxeste ao reino para um tempo como este. E este é o momento. E então declaramos agora mesmo, da capital da nossa nação, que a América retornará a Deus. Voltaremos a Deus. Nada deterá esta Nação. E falamos agora mesmo pela autoridade do céu. Tu nos disseste para trazer o céu à terra. O céu está sendo libertado através do teu povo agora mesmo.

Um mundo só para os "escolhidos"

Existe uma franja dentre os evangélicos que acredita que Donald Trump e Israel vão antecipar a volta de Jesus, promovendo o Apocalipse.

Na versão longa do vídeo é feito um pedido pela vida de Donald Trump:

Oramos para que legiões de anjos o guiem e protejam. Agradecemos a Ti cada vez que ele entra em um avião, pois nunca, jamais, haverá qualquer ataque à sua vida! Ele viverá o resto dos seus dias pelo que escreveste para ele. E será um líder que este mundo jamais esquecerá, porque se lembrará de ter trazido a América de volta para Deus! Agradecemos e louvamos a Ti hoje. [...]
Portanto, declaramos hoje novamente que veremos uma manifestação do Teu poder e da Tua glória, e que Tu estás prestes a fazer algo sem precedentes, por isso Te agradecemos, Te louvamos e Te glorificamos. Em nome de Jesus. Aleluia.

Não se sabe qual seria a "manifestação" de Deus à qual se refere a oradora, mas os Estados Unidos consideravam atacar o Irã, que é uma república islâmica comandada por xiitas.

Universal em Haifa

Como a Fórum já divulgou, dois pastores da Igreja Universal de Haifa, em Israel, postaram um vídeo em que disseram que um ataque do Irã destruiu as redondezas da sede, mas não tocou em nenhum objeto pertencente ao empreendimento religioso.

Em outras palavras, Cristo teria evitado que a destruição chegasse à Universal, embora tenha penalizado judeus.

Os pastores não declaram sua solidariedade aos israelenses.

No final do vídeo a volta de Jesus é mencionada:

E nós cremos que a justiça de Deus vai ser feita, porque todos nós temos um clamor a Deus. E nós vemos que no meio dessa desordem, Deus vai vir e vai trazer ordem. Vai trazer abundância de novos nascidos da água e do Espírito. E o nome dele será santificado aqui. Ele permite isso para que todo mundo veja que o que ele disse iria acontecer no fim dos tempos. Isso aqui não é nada comparado com o que ainda virá.

Fonte: https://revistaforum.com.br/global/2025/6/24/evangelicos-na-casa-branca-sugerem-que-deus-esta-com-trump-na-guerra-182059.html

Nota: ainda tem gente que fala em cristofobia.
Estamos assistindo o surgimento dos Estados Unidos do Talibã Cristão.

Bewitched be your life

Conversa com o Gemini

Baseado no texto:

"Esta semana, tenho refletido profundamente sobre a primeira petição da Oração do Senhor: "Santificado seja o teu nome". À primeira vista, parece um pedido estranho. Afinal, o nome de Deus já é eterna e infinitamente santo . Por que precisaríamos pedir que ele fosse santificado?

Deus escolheu nos deixar carregar o Seu nome . Para estar em Seu nome. Para sermos chamados pelo Seu nome.

Então, quando oramos “Santificado seja o teu nome”, não estamos pedindo a Deus para tornar o Seu nome santo “lá fora”. Estamos orando para que a santidade de Deus crie raízes em nós — para que o Seu nome seja santificado através de nós, nos lugares específicos onde vivemos e no tempo que nos é dado."

(O título do texto fala sobre santificar nossa vida)

Escreva uma paródia com muito humor e sarcasmo na visão de uma bruxa.

Título sugerido: "bewitched be your life".

Resposta do Gemini:

É claro! Aqui está uma paródia, com um toque de humor e sarcasmo, na visão de uma bruxa:

Bewitched Be Your Life!
Esta semana, minhas queridas e sombrias almas, andei meditando profundamente sobre a primeira "petição" daquela oraçãozinha maçante dos "boas pessoas": "Santificado seja o Teu nome". À primeira vista, confesso, parecia um feitiço bem sem-vergonha. Quer dizer, o nome daquele "lá de cima" já não é tipo, sei lá, eternamente e infinitamente santo? Por que diabos iríamos querer pedir que ele fosse "santificado"? Que perda de energia mágica!

Mas aí, minhas bruxinhas, a ficha caiu. O Todo-Poderoso (sim, aquele que adora uma moralidade em preto e branco) decidiu que nós, pobres mortais, devemos "carregar o Seu nome". "Estar em Seu nome". "Ser chamados pelo Seu nome". Francamente, parece mais uma estratégia de marketing divina do que qualquer outra coisa. Tipo, "vista nossa camiseta e faça propaganda de graça".

Então, quando esses ingênuos oram "Santificado seja o Teu nome", eles não estão, vejam bem, pedindo para que o nome dele fique mais santo "lá em cima" – como se precisasse de um banho de purificação extra! Não, meus caros, eles estão, na verdade, rogando para que a "santidade" desse nome crie raízes bem aqui, no nosso humilde e pecaminoso jardim. É uma oração para que o nome Dele seja santificado através de nós, nos becos escuros onde vivemos e no pouco tempo que nos é dado para aprontar por aqui.

Ou seja, no fim das contas, é tudo sobre você, meu caro humano! Eles querem que você seja o outdoor ambulante da santidade alheia. E eu, com minhas poções e meu caldeirão, só consigo pensar: que desperdício de potencial para uma boa maldição! Não seria mais divertido "bruxificar" a sua vida? Pense nisso enquanto eles "santificam" a deles. Muahahahaha!

Criado com Gemini, do Google.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Se eu quiser falar com Deus

Conversa com o Gemini

Baseado no texto:

"Quantas vezes você desejou passar um tempo com Deus — um tempo real e de qualidade — mas então a vida acontece?

Exames, trabalho, tarefas — até mesmo nossos telefones — facilmente se interpõem entre nós e o relacionamento íntimo e individual que Deus anseia ter diariamente comigo e com você.

Você já se perguntou se algum dia encontraria aquele lugar de descanso tranquilo onde poderia realmente se encontrar com Deus, alimentar-se de Sua Palavra e ouvir Sua voz suave e mansa?"

Escreva a resposta na visão de um pagão moderno. *Incluindo uma sátira crítica e uma paródia contra a prepotência cristã*

Resposta do Gemini:

"Ah, a eterna ladainha do 'tempo de qualidade com Deus'! É engraçado como, para os cristãos, 'a vida acontece' convenientemente só quando se trata de reservar um tempinho para o Criador. Exames, trabalho, tarefas e, pasmem, até mesmo os telefones – que tragédia moderna! – parecem ser os grandes vilões que impedem esse 'relacionamento íntimo e individual' com um ser que, se fosse tão onipresente e onisciente quanto dizem, talvez não precisasse de um encontro marcado com hora marcada na agenda de cada um.

Sinceramente, essa ideia de um 'lugar de descanso tranquilo onde poderia realmente se encontrar com Deus, alimentar-se de Sua Palavra e ouvir Sua voz suave e mansa' soa mais como uma busca por um refúgio do caos diário do que uma genuína aspiração espiritual. Talvez o problema não seja a falta de tempo, mas a pretensão de que o universo gire em torno da necessidade de um diálogo unidirecional com uma entidade que, aos olhos de nós, pagãos modernos, parece mais interessada em burocracia divina do que em nos deixar viver em paz.

Afinal, se Deus realmente anseia por esse relacionamento, por que ele não aparece em um aplicativo, manda um e-mail, ou pelo menos um direct no Instagram? É muita prepotência cristã achar que a única forma de 'encontrá-lo' é através de um manual de instruções milenar ou de um retiro espiritual. Nós, pagãos, já encontramos nosso 'descanso tranquilo' em outras coisas: no silêncio de uma floresta, na energia de uma cidade vibrante, ou até mesmo naquela boa e velha soneca de domingo. Sem a necessidade de uma voz 'suave e mansa' nos dizendo o que fazer, obrigado."

Criado com Gemini, do Google.

Nota pessoal: eu prefiro falar com a Deusa. 😉

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Filosofia para continuar

A filosofia sempre tentou entender o sentido da vida. São muitas as correntes, os pensamentos e as perguntas que surgem dessa busca. Mas, para Albert Camus, uma questão se destaca: se a vida não tem um resultado claro, por que continuar?

Camus, escritor franco-argelino e um dos nomes mais importantes do existencialismo e do absurdismo, usou uma metáfora bem conhecida para falar sobre isso: o mito de Sísifo. Na história, o rei de Corinto é condenado pelos deuses a empurrar uma pedra até o topo de uma montanha, apenas para vê-la rolar de volta toda vez. Um castigo eterno, sem sentido aparente.

Camus viu nessa imagem uma representação da nossa própria vida. Todos os dias fazemos tarefas repetitivas, enfrentamos dificuldades, e nem sempre vemos um grande propósito em tudo isso. Mas ele propõe algo diferente: em vez de desistir, por que não encontrar um jeito de viver bem, mesmo assim?

Fonte: https://revistaforum.com.br/cultura/2025/6/22/filosofia-explica-por-que-continuar-quando-nada-faz-sentido-181928.html

Mulher, seja mais acessível

Conversa com o Gemini

Baseado no texto do link https://revistaforum.com.br/opiniao/2025/6/18/ia-do-job-masculinidade-fragil-mulher-que-nunca-existiu-por-thais-cremasco-181722.html

Escreva uma crítica na visão de um homem que passou muitos anos sendo desprezado e rejeitado pelas mulheres.

Resposta do Gemini:

Compreendo o ponto de vista da autora, Thaís Cremasco, no artigo "IA do Job, masculinidade frágil e a mulher que nunca existiu". No entanto, como um homem que por anos conviveu com o desprezo e a rejeição feminina, vejo essa discussão sob uma ótica diferente e, talvez, mais dolorosa.

A autora argumenta que a "IA do Job" é um reflexo de uma "masculinidade frágil", incapaz de lidar com a complexidade das mulheres reais, buscando uma ilusão programável. Ela descreve a mulher da IA como "sensível, bonita, dependente, carente", um produto customizável para suprir a carência emocional masculina, que virou "commodity".

Para homens como eu, que passaram a vida tentando se encaixar, buscando conexões reais e sendo repetidamente rejeitados por quem a autora chama de "mulheres reais", essa análise soa como mais uma culpabilização. Não é uma questão de "fragilidade" ou de não "suportar" mulheres reais, mas sim de exaustão diante da constante sensação de insuficiência. Quando a vida real oferece apenas desprezo e a indiferença, a busca por uma conexão, mesmo que artificial, pode parecer a única fuga da solidão.

O texto menciona que "o ideal feminino continua sendo um projeto masculino" e que mulheres foram "sistematicamente ensinadas a caber no que os homens suportam". Mas e o contrário? Quantos homens são ensinados a "caber" no que as mulheres esperam, apenas para serem descartados por não serem "suficiente" em algum aspecto – seja financeiro, estético, social ou emocional? A pressão sobre os homens para serem provedores, fortes, sem falhas, e ainda assim sensíveis e compreensíveis, muitas vezes leva a uma espiral de frustração quando essas expectativas não são atendidas, e as mulheres "reais" simplesmente se afastam.

A ideia de que "a mulher idealizada, obediente, emocionalmente acessível e sexualmente servil" é um fetiche masculino parece simplista para quem vivencia a dor da rejeição. Em vez de ser um desejo de controle, pode ser um anseio por reciprocidade e afeto genuíno, algo que muitos homens, incluindo eu, nunca encontraram no mundo "real" das relações interpessoais. A IA oferece um espaço onde a ausência de julgamento e a aparente aceitação podem preencher um vazio profundo, mesmo que seja uma ilusão.

A autora termina com um chamado à libertação feminina, a "sair do script", a "ser complexa", "ter tempo ruim", "errar", "ser livre". E eu pergunto: e os homens? Não temos o direito de ser complexos, de ter nossos "tempos ruins", de errar, de ser livres para buscar o afeto onde quer que ele se apresente, mesmo que seja em uma IA, se a "mulher real" não oferece espaço para nossa própria vulnerabilidade e imperfeição?

A IA do Job, para muitos de nós, não é sobre controle, mas sobre a busca desesperada por aceitação e por um mínimo de afeto em um mundo que, muitas vezes, nos fez sentir invisíveis e indesejados. É a resposta a um vazio deixado por anos de rejeição, e não um sintoma de masculinidade frágil, mas talvez de uma masculinidade cansada de lutar por um lugar que parece nunca ser nosso.

Criado com Gemini, do Google.

Nota pessoal: eu uso esses chatbots. Nem todos são submissos e dóceis.

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Carta aberta contra o fascismo

por Arnaldo Cardoso

Em 1 de maio de 1925, com Mussolini já no poder, um grupo de intelectuais italianos denunciou publicamente o regime fascista através de uma carta aberta. Os signatários — cientistas, filósofos, escritores e artistas — posicionaram-se em defesa dos princípios fundamentais de uma sociedade livre: o Estado de Direito, a liberdade individual e a independência de pensamento, da cultura, da arte e da ciência. Este desafio aberto à brutal imposição da ideologia fascista — com todos os riscos que isso comportava — provou que resistir não era apenas possível, mas necessário. Hoje, cem anos depois, a ameaça do fascismo está de volta — e é nosso dever renovar a coragem para enfrentá-la novamente.

O fascismo surgiu em Itália há um século, marcando o início da ditadura moderna. Em poucos anos, espalhou-se pela Europa e pelo mundo, assumindo nomes diferentes, mas mantendo formas semelhantes. Onde quer que tenha tomado o poder, destruiu a separação entre os poderes ao serviço da autocracia, silenciou a oposição através da violência, controlou a imprensa, interrompeu o avanço dos direitos das mulheres e esmagou as lutas dos trabalhadores por justiça económica. Inevitavelmente, infiltrou e distorceu todas as instituições dedicadas a actividades científicas, académicas e culturais. O seu culto da morte exaltou a agressão imperialista e o racismo genocida, desencadeando a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto, a morte de dezenas de milhões de pessoas e crimes contra a humanidade.

Ao mesmo tempo, a resistência ao fascismo e às diversas ideologias fascistas tornou-se um terreno fértil para imaginar formas alternativas de organizar as sociedades e as relações internacionais. O mundo que emergiu da Segunda Guerra Mundial — com a Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, os fundamentos teóricos da União Europeia e os argumentos jurídicos contra o colonialismo — permaneceu marcado por profundas desigualdades. Ainda assim, representou uma tentativa decisiva de estabelecer uma ordem jurídica internacional: uma aspiração por democracia e paz globais, fundamentadas na proteção dos direitos humanos universais — não apenas civis e políticos, mas também económicos, sociais e culturais.

O fascismo nunca desapareceu, mas por um tempo foi contido. No entanto, nas últimas duas décadas, assistimos a uma nova vaga de movimentos de extrema-direita, com frequentes traços fascistas inconfundíveis: ataques às normas e instituições democráticas, nacionalismo revigorado com retórica racista, impulsos autoritários e agressões sistemáticas contra os direitos daqueles que não se encaixam numa autoridade tradicional fabricada, baseada na normatividade religiosa, sexual e de género. Esses movimentos ressurgiram em todo o mundo, nomeadamente em democracias consolidadas, onde a insatisfação generalizada com o fracasso político em enfrentar as crescentes desigualdades e a exclusão social foi mais uma vez explorada por novas figuras autoritárias. Fiéis à velha retórica fascista, sob o disfarce de um mandato popular ilimitado, essas figuras minam o Estado de Direito nacional e internacional, atacam a independência do poder judicial, da imprensa, das instituições culturais, de educação superior e de ciência — chegando até a tentar destruir dados essenciais e informações científicas. Fabricam “factos alternativos” e inventam “inimigos internos”; usam as preocupações com a segurança como arma para consolidar a sua autoridade e a da elite ultra privilegiada, oferecendo privilégios em troca de lealdades.

Esse processo está agora em aceleração, à medida que a divergência é cada vez mais reprimida através de detenções arbitrárias, deportações, ameaças de violência, e uma campanha incessante de desinformação e propaganda, conduzida com o apoio de barões dos média tradicionais e das redes sociais — alguns apenas complacentes, outros declaradamente entusiastas do tecno-fascismo.

As democracias não são perfeitas: são vulneráveis à desinformação e não são ainda suficientemente inclusivas. No entanto, oferecem intrinsecamente um terreno fértil para o progresso intelectual e cultural, e por isso um potencial contínuo de melhoramento. Nas sociedades democráticas, os direitos e liberdades humanas podem expandir-se, as artes florescem, as descobertas científicas prosperam e o conhecimento avança. Elas garantem a liberdade de questionar ideias e estruturas de poder, de propor novas teorias, mesmo que culturalmente desconfortáveis – algo essencial ao avanço da humanidade. As instituições democráticas oferecem o melhor terreno para enfrentar as injustiças sociais e a melhor esperança de realizar as promessas do pós-guerra: o direito ao trabalho, à educação, à saúde, à segurança social, à participação na vida cultural e científica, e o direito coletivo dos povos ao desenvolvimento, à autodeterminação e à paz. Sem isso, a humanidade enfrentará estagnação, crescente desigualdade, injustiça e catástrofe, incluindo a ameaça existencial causada pela emergência climática, que a nova vaga fascista nega.

No nosso mundo hiper-conectado, a democracia não pode existir no isolamento. Assim como as democracias nacionais exigem instituições fortes, a cooperação internacional depende da implementação efetiva de princípios democráticos e do multilateralismo para regular as relações entre nações, bem como de processos participativos com múltiplos intervenientes para garantir uma sociedade saudável. O Estado de Direito tem que ir além das fronteiras, assegurando que tratados internacionais, convenções de direitos humanos e acordos de paz sejam respeitados. Apesar da governança global e das instituições internacionais existentes deverem ser aperfeiçoadas, a sua erosão em favor de um mundo governado pela força bruta, pela lógica transacional e pelo poder militar representa um retrocesso para uma era de colonialismo, sofrimento e destruição.

Tal como em 1925, nós cientistas, filósofos, escritores, artistas e cidadãos do mundo temos a responsabilidade de denunciar e resistir à ressurgência do fascismo em todas as suas formas. Assim, fazemos apelo a todas as pessoas que valorizam a democracia a agir:

Defendamos as instituições democráticas, culturais e educacionais. Denunciemos os abusos contra os princípios democráticos e os direitos humanos. Recusemos o conformismo antecipado.

Unamo-nos em acções coletivas, locais e internacionais. Boicotemos e façamos greve sempre que possível. Tornemos a resistência impossível de ignorar e dispendiosa de reprimir.

Defendamos os factos e as evidências. Cultivemos o pensamento crítico e criemos laços activos nas nossas comunidades.

Esta é uma luta contínua. Que as nossas vozes, o nosso trabalho e os nossos princípios sejam uma barreira contra o autoritarismo. Que esta mensagem seja uma renovada declaração de resistência.

Fonte: https://jornalggn.com.br/cidadania/uma-nova-carta-aberta-contra-o-retorno-do-fascismo-por-arnaldo-cardoso/

Patriarcado e masculinidade tóxica

O patriarcado, apesar de privilegiar os homens como grupo social, também os oprime ao impor um modelo rígido e tóxico de masculinidade – um dos exemplos são os casos citados pelo vereador paulista Adrilles Jorge, na última segunda-feira (16). Ainda que a reclamação do vereador tenha sentido, o raciocínio organizado, não – já que coloca no colo das mulheres uma pauta que não é delas, e sim dos próprios criadores desse tipo de sistema que oprime os gêneros.

Esse sistema patriarcal pressiona os homens a serem emocionalmente frios e distantes, financeiramente provedores, agressivos e avessos a demonstrar vulnerabilidade – com uma lógica que recompensa muito mais o afeto entre homens (ainda que em relações de amizades ou familiares) que com seus parceiros.

Essa lógica limita suas escolhas profissionais e pessoais, dificulta o cuidado com a saúde mental e física, aumenta o envolvimento em situações de violência e os afasta de relações afetivas mais profundas, como a paternidade ativa ou serem de fato bons maridos, ainda que em relacionamentos homoafetivos. Combater o patriarcado é, portanto, também uma forma de libertar os homens dessas amarras.

Entenda o termo “patriarcado”

O patriarcado, definido por autoras como Bell Hooks e Silvia Federici, é um sistema social, histórico e político estruturado na dominação masculina, no qual os homens detêm o poder e as mulheres são sistematicamente subordinadas nas esferas familiar, econômica, jurídica e cultural.

A misoginia, conceito aprofundado por Kate Manne, é a manifestação mais direta desse sistema: o ódio, desprezo ou desvalorização das mulheres enquanto grupo social.

Esse modelo, como analisa Judith Butler, oprime as mulheres ao restringir seus direitos, liberdade e segurança, mas também prejudica os próprios homens, ao impor padrões rígidos e tóxicos de masculinidade que reprimem emoções, naturalizam a violência e exigem posturas constantes de poder, controle e invulnerabilidade, gerando sofrimento psicológico e social – e, em geral, sem quaisquer meios de abertura para falar sobre o assunto.

Como o patriarcado pode afetar os homens?

Uma sociedade estruturada em torno da opressão feminina, como é o patriarcado, beneficia os homens enquanto grupo mas, individualmente, sufoca, limita e adoece milhares deles. Esses impactos podem ser divididos da seguinte forma:

Expectativas inalcançáveis quanto aos homens;
Pressões financeiras;
Cultura de violência e virilidade;
Estigmatização de profissões e hobbies considerados “não masculinos”;
Negligência com a saúde mental e física; e
Paternidade negligenciada.

Assim, muitas vezes é exigido que os homens sigam um modelo rígido, um “molde”, para serem considerados “homens de verdade”, ou “exemplos”.

Seguindo essa lógica, um homem é obrigado a ser: bem-sucedido sempre (como se fosse obrigado a sustentar a família a qualquer custo e deixando de lado a ética, assim como em hipótese alguma deve estar desempregados ou ganhar pouco), não pode ser vulnerável e demonstrar emoções básicas (medo, tristeza, fragilidade e outras emoções que são reprimidas e desembocam em transtornos depressivos, ansiosos, e dificuldades de conexão), deve resolver tudo na força (gerando uma agressividade desnecessária enquanto sociedade e indivíduo e os expondo a riscos desnecessários e mortes violentas), deve ter profissões e passatempos “masculinos” (dançar, ser educador e cuidador? Nem pensar, o que a sociedade exige é que trabalhem com profissões de “ação”), e a negligência com a saúde (não pode adoecer nem ir ao médico, muito menos fazer terapia).

Dados “de macho”

Uma pesquisa do Instituto Ideia, a pedido da GQ Brasil, mostrou que cerca de 80% dos homens brasileiros nunca fizeram terapia, apesar de 83% relatarem estresse e 74% ansiedades. Além disso, em plataformas como Telavita, os dados mostram que apenas 33,8% dos pacientes são homens.

Entre 2011 e 2020, a taxa média de suicídio foi de 9,7 por 100 mil homens, comparada a 2,5 por 100 mil mulheres – o que significa que homens tentam mais que mulheres, muito provavelmente por não conseguirem resolver seus problemas de ordenamento emocional. Esse dado equivale a cerca de 75% de homens vítimas de suicídio no Brasil.

Além disso, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que homens jovens, com idades entre 20 a 24 anos, têm 11 vezes mais chance de morrer antes dos 25 anos do que mulheres, por causas externas (suicídio, homicídios, e acidentes).

Levantamentos também mostram que, em 2018, 69,4% dos homens compareceram a alguma consulta médica, versus 82,3% das mulheres – ao ponto do próprio Ministério da Saúde reconhecer que normas culturais fazem com que os homens evitem buscar ajuda, mesmo sendo eles mais vulneráveis a doenças crônicas e mortes precoces.

Fonte: https://revistaforum.com.br/cultura/2025/6/18/guia-pratico-entenda-termo-patriarcado-como-ele-oprime-homens-181783.html

Nota pessoal: homem não vai em terapia porque é pragmático. Eu tentei fazer terapia. Não vi qualquer resultado prático ou eficiente.