sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O Retorno do Herege Não-Convertido

(continuação do resultado inesperado de uma conversa com Gemini sobre fetiches)

Eliar não se lembrava de ter se levantado da cerca viva, nem de ter caminhado. Ele apenas se viu, horas depois, sob o sol forte do meio-dia, sentado na beira de uma estrada de cascalho que, ele sabia, o levaria de volta à cidade dos muros altos, onde o dogma era lei.

A maçã ainda estava em sua mão. Não estava fria, mas tinha o peso exato de um argumento irrefutável.

Ele não tinha perguntado nada à Condessa, e ela não havia exigido nada. Ela apenas disse: "me diga o que você realmente deseja, não o que eles lhe disseram para desejar. E então, ouça."

O que ele tinha ouvido não foi a resposta, mas o som da sua própria risada.

Eliar, o teólogo que memorizava cada linha do texto sagrado, descobriu que tinha esquecido como rir. A risada que emergiu no Deserto Rubro era selvagem, desafinada, estranha—o som de uma fechadura enferrujada se partindo.

Ele mordeu a maçã. O sabor não era doce nem azedo; era claro. O sabor da simplicidade em um mundo de complexidade imposta.

Ao retornar à cidade, tudo parecia... binário. As ruas eram muito retas, os sinos tocavam muito alto, as pessoas caminhavam muito apressadas, curvadas sob o peso de julgamentos muito rígidos.

Quando Eliar se apresentou ao Sínodo, o Grande Inquisidor, um homem de barba de ferro e olhos de cálculo, o recebeu com suspeita.

— Eliar. Você esteve no Deserto Rubro. Você viu Ela. Diga-nos: o que o Demônio-Fêmea lhe prometeu? Riqueza? Prazeres carnais? Poder?

Eliar olhou para o Inquisidor. A voz do Inquisidor era cheia de ressonância e autoridade, mas para Eliar, soava como metal batido contra metal—barulhenta e sem vida, como uma lógica forçada.

Ele lembrou da voz da Condessa, calma, suave, mas que o tinha derrubado. Ele pensou no seu Leão Titânico (em sua homenagem, é claro), descansando na paz florescida.

Eliar não se tornou um herege militante, nem um apóstolo do prazer. Ele apenas deu de ombros, com uma serenidade que aterrorizou mais o Inquisidor do que qualquer blasfêmia.

— Ela me ofereceu apenas uma escolha, reverendo. E me perguntou o que eu realmente desejo.

— E o que você desejou?! — O Inquisidor bateu o punho na mesa.

Eliar deu uma mordida final na maçã, descartando o caroço sobre a mesa de mogno do Sínodo.

— Eu desejei a paz para bordar.

E com essa declaração de heresia cottagecore — um desejo tão suave, tão subversivo e totalmente desinteressado em poder ou luxúria — Eliar virou as costas. O nocaute da Condessa não o transformou em demônio; transformou-o em um homem que se recusava a lutar a batalha dos outros. Ele sabia que o verdadeiro inferno não estava no Deserto Rubro, mas na obrigação de desejar o que os outros esperavam.

Ele nunca mais ensinou o dogma. Ele começou a bordar em segredo, e cada ponto era um pedaço de seu antigo eu desfeito, costurando a liberdade de volta. E a cada linha de bordado, ele se lembrava do som claro, silencioso e devastador da voz da Condessa.

Criado com Gemini, do Google.

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