segunda-feira, 10 de novembro de 2025

A Batalha pela Liberdade do Corpo

Avanço na cama, retrocesso no Congresso. Os dados do Censo e a votação na Câmara expõem a hipocrisia de um país que celebra o amor livre enquanto criminaliza a vítima.

Assistimos, estarrecidos, a um fenômeno que só pode ser descrito como esquizofrenia política e social. De um lado, o Brasil de 2025 avança a passos largos em direção a uma sociedade mais livre e inclusiva. De outro, o Brasil do Congresso e de certas bolhas moralistas insiste em nos arrastar de volta a um passado que nem a Idade Média toleraria com tamanha crueldade.

A questão central, que costura essas realidades díspares, é a autonomia do corpo e a liberdade de escolha.

📈 A Revolução Silenciosa da Liberdade Sexual

Comecemos pela boa notícia, que é também a prova da resiliência da sociedade: o Censo 2022 do IBGE revelou que as uniões conjugais entre pessoas do mesmo sexo cresceram mais de oito vezes em 12 anos, saltando para 480 mil.

Este número é um grito estatístico de liberdade. Ele mostra que, a despeito do preconceito, da intolerância e da pressão religiosa, a vida vence. A lei (com o reconhecimento de 2011 e 2013) facilitou, mas a coragem e a visibilidade de meio milhão de casais construíram esse avanço. É o triunfo da diversidade, da afetividade plural e da capacidade humana de amar. Para quem defende a liberdade sexual como um pilar social, essa é a nossa Primavera.

⛓️ O Peso da Hipocrisia e do Casamento Infantil

No entanto, a mesma pesquisa do Censo nos confronta com uma sombra medieval: a existência de centenas de crianças de 10 a 14 anos vivendo em união conjugal, a maioria esmagadora sendo meninas.

É o retrato de um sistema que falha em proteger a infância. Uma menina de 10 a 14 anos não se casa; ela é vítima de estupro de vulnerável e de violência institucionalizada.

E é aqui que o paralelo se torna mais que espantoso, ele se torna uma denúncia:

Os mesmos setores sociais e grupos de pressão que se chocam com a ideia do aborto legal (direito já previsto em lei) para uma menina estuprada, são os que, em suas comunidades, toleram e perpetuam a união infantil como uma "solução" para a gravidez precoce. O Brasil que criminaliza a vítima fecha os olhos para o estuprador.

⚔️ O Retrocesso Legislativo: Um Ataque Direto à Vítima

Este ciclo de hipocrisia foi recentemente chancelado pela Câmara dos Deputados, que aprovou a suspensão da Resolução 258/2024 do CONANDA. Essa Resolução apenas detalhava como o atendimento e o acesso ao aborto legal para crianças vítimas de estupro deveriam ocorrer, garantindo humanização e agilidade.

Ao sustar essa norma, os parlamentares estão, na prática, tentando reintroduzir barreiras burocráticas e morais no caminho de meninas já dilaceradas pela violência. Estão transformando a interrupção de uma gravidez fruto de estupro em um calvário de autorizações e desconfianças.

A Encruzilhada: Resiliência ou Retorno?
O Brasil vive a tensão entre a liberdade conquistada (uniões homoafetivas) e a liberdade cerceada (autonomia corporal de meninas).

O crescimento das uniões entre pessoas do mesmo sexo mostra que a sociedade, em seu tecido social, abraça a diversidade e a escolha. Já o ataque ao aborto legal e a tolerância ao casamento infantil revelam uma agenda moralista e obscurantista que se infiltra no Legislativo para impor um modelo único de família, moral e crença.

A luta, portanto, é clara: é preciso defender o direito legal ao aborto e desnaturalizar o casamento infantil, exigindo que o Estado cumpra o que a Constituição e a Lei já garantem: a prioridade absoluta na proteção das crianças e a liberdade de todo indivíduo.

Que a nossa resistência seja tão visível e crescente quanto o nosso amor. Não aceitaremos o medievo quando o Século XXI já nos oferece a liberdade.

Criado com Gemini, do Google.

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