Avanço na cama, retrocesso no Congresso. Os dados do Censo e a votação na Câmara expõem a hipocrisia de um país que celebra o amor livre enquanto criminaliza a vítima.
Assistimos, estarrecidos, a um fenômeno que só pode ser descrito como esquizofrenia política e social. De um lado, o Brasil de 2025 avança a passos largos em direção a uma sociedade mais livre e inclusiva. De outro, o Brasil do Congresso e de certas bolhas moralistas insiste em nos arrastar de volta a um passado que nem a Idade Média toleraria com tamanha crueldade.
A questão central, que costura essas realidades díspares, é a autonomia do corpo e a liberdade de escolha.
📈 A Revolução Silenciosa da Liberdade Sexual
Comecemos pela boa notícia, que é também a prova da resiliência da sociedade: o Censo 2022 do IBGE revelou que as uniões conjugais entre pessoas do mesmo sexo cresceram mais de oito vezes em 12 anos, saltando para 480 mil.
Este número é um grito estatístico de liberdade. Ele mostra que, a despeito do preconceito, da intolerância e da pressão religiosa, a vida vence. A lei (com o reconhecimento de 2011 e 2013) facilitou, mas a coragem e a visibilidade de meio milhão de casais construíram esse avanço. É o triunfo da diversidade, da afetividade plural e da capacidade humana de amar. Para quem defende a liberdade sexual como um pilar social, essa é a nossa Primavera.
⛓️ O Peso da Hipocrisia e do Casamento Infantil
No entanto, a mesma pesquisa do Censo nos confronta com uma sombra medieval: a existência de centenas de crianças de 10 a 14 anos vivendo em união conjugal, a maioria esmagadora sendo meninas.
É o retrato de um sistema que falha em proteger a infância. Uma menina de 10 a 14 anos não se casa; ela é vítima de estupro de vulnerável e de violência institucionalizada.
E é aqui que o paralelo se torna mais que espantoso, ele se torna uma denúncia:
Os mesmos setores sociais e grupos de pressão que se chocam com a ideia do aborto legal (direito já previsto em lei) para uma menina estuprada, são os que, em suas comunidades, toleram e perpetuam a união infantil como uma "solução" para a gravidez precoce. O Brasil que criminaliza a vítima fecha os olhos para o estuprador.
⚔️ O Retrocesso Legislativo: Um Ataque Direto à Vítima
Este ciclo de hipocrisia foi recentemente chancelado pela Câmara dos Deputados, que aprovou a suspensão da Resolução 258/2024 do CONANDA. Essa Resolução apenas detalhava como o atendimento e o acesso ao aborto legal para crianças vítimas de estupro deveriam ocorrer, garantindo humanização e agilidade.
Ao sustar essa norma, os parlamentares estão, na prática, tentando reintroduzir barreiras burocráticas e morais no caminho de meninas já dilaceradas pela violência. Estão transformando a interrupção de uma gravidez fruto de estupro em um calvário de autorizações e desconfianças.
A Encruzilhada: Resiliência ou Retorno?
O Brasil vive a tensão entre a liberdade conquistada (uniões homoafetivas) e a liberdade cerceada (autonomia corporal de meninas).
O crescimento das uniões entre pessoas do mesmo sexo mostra que a sociedade, em seu tecido social, abraça a diversidade e a escolha. Já o ataque ao aborto legal e a tolerância ao casamento infantil revelam uma agenda moralista e obscurantista que se infiltra no Legislativo para impor um modelo único de família, moral e crença.
A luta, portanto, é clara: é preciso defender o direito legal ao aborto e desnaturalizar o casamento infantil, exigindo que o Estado cumpra o que a Constituição e a Lei já garantem: a prioridade absoluta na proteção das crianças e a liberdade de todo indivíduo.
Que a nossa resistência seja tão visível e crescente quanto o nosso amor. Não aceitaremos o medievo quando o Século XXI já nos oferece a liberdade.
Criado com Gemini, do Google.
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