quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Estado carniceiro

Conversa com o Gemini:

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/nikolas-celebra-chacina-no-rio-com-foto-do-carandiru-maior-faxina-da-historia/

Parabéns aos cúmplices. Todos os que o elegeram. Mas eu não fiquei espantado. Afinal, a ideia de que "bandido bom é bandido morto" é anterior ao bolsonarismo.

Fique à vontade para escrever uma crítica pesada para essa cultura desumana.

Resposta:

Certamente. A sua frustração é totalmente compreensível diante de uma manifestação tão chocante e desumana.

É profundamente perturbador constatar como a cultura do "bandido bom é bandido morto" não apenas persiste, mas é celebrada por figuras públicas, transformando a tragédia e a violência policial em motivo de júbilo.

💀 A Cultura da Morte e a Erosão da Humanidade

A ideia de que a violência estatal e a execução sumária são a "solução" para a segurança pública é a manifestação mais cruel da falência moral de uma sociedade. Não se trata de uma estratégia de segurança, mas sim de um projeto de desumanização que possui raízes históricas profundas e perigosas:

A Negação da Lei e do Estado Democrático de Direito: Quando um político celebra uma chacina e faz apologia a massacres históricos como o Carandiru, ele está, na prática, cuspindo na Constituição. Está dizendo que o devido processo legal, a presunção de inocência e o direito à dignidade humana (mesmo de quem cometeu crimes) são meros entraves que devem ser varridos. Isso não é ordem; é barbárie sancionada.

O Racismo Estrutural como Motor: É impossível desvincular essa cultura da morte do racismo estrutural. Quem é o "bandido" nessa narrativa? Na vasta maioria dos casos, são jovens, negros e pobres das periferias. A celebração da chacina é, portanto, a celebração da limpeza social e do extermínio de uma parcela da população vista como descartável.

A "Felicidade" na Morte Alheia: O mais perverso é a alegria e o entusiasmo com que a morte é tratada, como se a execução fosse um evento festivo ou uma "faxina". Essa retórica não apenas incita a violência policial, como também normaliza na mente do eleitorado a ideia de que a vida de certas pessoas não vale nada. Isso corrói a empatia, o laço social mais fundamental, e nos empurra para um estado hobbesiano onde a lei do mais forte prevalece.

A Falácia da Eficácia: Essa mentalidade nunca solucionou, nem solucionará, o problema da criminalidade. A violência gera mais violência. A ausência de justiça, direitos e oportunidades é a verdadeira raiz da insegurança. A celebração da morte é um desvio que impede o debate sobre políticas públicas sérias, como educação, redução da desigualdade, e, principalmente, a reforma das forças policiais e do sistema carcerário.

A eleição de cúmplices dessa mentalidade, como você mencionou, é o reflexo de que essa cultura desumana está incrustada em parcelas significativas da sociedade. O aplauso a essas atitudes é um grito de que a humanidade e a razão foram trocadas por um desejo irracional de vingança e extermínio.

É fundamental que vozes dissonantes continuem a se erguer contra essa apologia à morte, defendendo a vida e a dignidade de todos, sem exceção, como o princípio inegociável de qualquer sociedade que se pretenda civilizada.

Como um escritor, você está na linha de frente para criar narrativas que confrontem essa desumanização.

Continuação:

A pergunta que alguns fazem. Por que não se usa dessa truculência contra os faria limers do tráfico? Na periferia é na base do genocídio, nos jardins é "dá licença, doutor".

Resposta:

É uma pergunta essencial e extremamente dolorosa que toca no cerne da seletividade do sistema de justiça e segurança pública no Brasil. A diferença de tratamento que você aponta é a prova mais cabal de que a máxima "bandido bom é bandido morto" não é sobre segurança pública, mas sim sobre controle social e de classe.

⚖️ O Muro da Seletividade Penal

A disparidade entre a truculência aplicada nas periferias e a "cortesia" nos bairros de elite, mesmo em casos de crimes graves como o tráfico de drogas, revela uma estrutura que não se guia pela lei, mas sim pela cor da pele e pelo CEP:

1. A Periferia: O Alvo do Genocídio
Abordagem de Guerra: Nas comunidades e favelas, a ação policial frequentemente adota uma lógica de ocupação militar. Há um pressuposto de culpa coletiva. A população é vista como inimiga ou "dano colateral".

A Troca de Vidas por Droga: O foco é a repressão ostensiva, o confronto armado e a apreensão imediata, independentemente do custo em vidas humanas (o genocídio que você menciona). A vida do jovem da periferia é considerada de baixo valor e, portanto, "dispensável" na cruzada contra o tráfico.

O "Traficante" como Estereótipo: O "traficante" que a mídia e a política retratam é sempre o varejista — o indivíduo negro e pobre que está na ponta da cadeia, o mais facilmente substituível e o alvo ideal para as estatísticas de confronto. A truculência ali é endossada como "heroica".

2. Os Jardins: "Dá Licença, Doutor"
Abordagem de Investigação: Nos bairros nobres (os "Faria Limers" do tráfico e de outros crimes de colarinho branco), a abordagem é, em regra, a investigativa e burocrática. O foco é em mandados de busca e apreensão, quebras de sigilo e cooperação com advogados.

O Valor da Vida e do Patrimônio: A vida do criminoso de elite, branco e rico, é vista como de alto valor. A preocupação é com os direitos do indivíduo (o "doutor") e, muitas vezes, com a preservação de seu patrimônio e imagem pública.

O "Criminoso" como Exceção: O crime é tratado como um desvio individual, não como um problema estrutural da classe. A violência física é evitada a todo custo, para não "manchar" a imagem das instituições ou gerar comoção negativa entre a elite.

O Esconderijo do Atacado: O grande traficante, o financiador, o lavador de dinheiro, aquele que atua nos gabinetes e nos grandes negócios — que vive nos "Jardins" — raramente é alvo das chacinas ou da retórica de extermínio. Ele é protegido pela complexidade jurídica, pelo poder econômico e pela deferência social.

O que essa dualidade demonstra é que a cultura da morte não é um mecanismo cego e impessoal; é uma ferramenta de manutenção da hierarquia social. Ela garante que:

A repressão seja máxima onde a resistência política e jurídica é mínima (a periferia).

A proteção e a garantia de direitos sejam máximas onde o poder e a influência são concentrados (a elite).

A crítica que você levanta é crucial, pois expõe o caráter de classe e raça da violência estatal, desnudando a hipocrisia de quem celebra a morte do pobre enquanto protege o crime do rico.

Como escritor herege e moderno pagão, sua visão pode ser muito poderosa ao inverter esses valores e narrar essa injustiça.

Você gostaria de explorar como figuras arquetípicas (como Lilith, ou outras deusas da rebeldia e justiça) poderiam se manifestar em uma narrativa que critique essa seletividade e essa hipocrisia social?

Criado com Gemini, do Google.

Nenhum comentário: