sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Mais uma arte censurada


A polêmica em torno da exposição “Baixa Colateral Distópica”, que está no Centro de Cultura Ordovás, ganhou mais um capítulo nesta segunda-feira (6) em Caxias do Sul. Isso porque a Secretaria Municipal da Cultura (SMC) informou que o local permanecerá de portas fechadas até que o município decida se continua ou não com a mostra até a data de encerramento oficial – prevista para o dia 2 de fevereiro.

O motivo, segundo a titular da pasta, Tatiane Frizzo, são as ameaças de violência em redes sociais sofridas por servidores do município contrários à mostra artística. A exposição aborda temas como o fetichismo, culto ao sagrado, exploração do corpo e sexualidade.

O assunto ganhou repercussão nas redes sociais há cerca de duas semanas, quando a Unidade de Artes Visuais lançou um comunicado oficial reafirmando a legalidade da mostra, cujo processo seletivo foi efetuado por uma comissão de especialistas na área. Na mesma nota, a pasta informou que a exposição seguia a classificação indicativa estabelecida pela legislação e que é contrária a qualquer tipo de censura.

“A Secretaria Municipal da Cultura não exerce censura à arte e respeita a pluralidade de técnicas, temáticas e reflexões trazidas pela Arte Contemporânea”, disse o comunicado. Os vereadores Hiago Morandi (PL), Capitão Ramon (PL) e Alexandre Bortoluz (PP) fizeram duras críticas à exposição. Nas redes sociais, Morandi afirmou que a mostra “zomba com a fé alheia”. Capitão Ramon encaminhou uma denúncia ao MP, porém foi arquivada.

Conforme Tatiane Frizzo, na tarde desta segunda-feira houve um encontro com o secretário da Segurança Pública e Proteção Social, Paulo Rosa, no qual ficou estabelecido que a Guarda Municipal fará rondas no local nesse momento de trabalhos internos.

Para tomar uma decisão final, contudo, o município encaminhou um parecer ao Ministério Público (MP). Uma das iniciativas possíveis para assegurar que a obra fique até o período final previsto é a ampliação da segurança no entorno, com a presença de mais guardas municipais ou de agentes de segurança na área.

“Nós estamos aguardando um parecer que nos auxilie a tomar a medida mais adequada, visto que a gente precisa sempre garantir a proteção aos servidores públicos que lá trabalham e também a integridade do nosso patrimônio e da galeria como um todo. Quando tivermos esse parecer, vamos decidir se ela é mantida ou encerrada antes do período. Estamos aguardando essa resposta para tomar uma medida que seja eficaz e que tenha amparo legal”, salienta Tatiane.

Porém, ao comentar sobre a exposição em si, Tatiane ressalta que todo o processo de seleção foi feito de forma isenta e profissional por uma equipe de especialistas.

“O que precisa ficar claro é que todos os aspectos legais foram cumpridos para que a exposição estivesse ali. Outro aspecto que precisa ficar claro é que a exposição é de conteúdo acima de 18 anos, então tem uma classificação indicativa, é para adultos, e não para crianças ou adolescentes. Essa galeria onde estão essas obras não é um local de passagem das pessoas, portanto quem está indo para a exposição está indo especificamente para esse fim”, pontua Tatiane.

Ainda não existe uma data para que a prefeitura tome uma decisão final a respeito do recesso do Centro de Cutlura Ordovás. Os servidores continuam exercendo as suas atividades na parte interna.

A exposição “Baixa Colateral Distópica” é fruto do trabalho do artista goiano Rondinelli Linhares, que propõe uma reflexão sobre a forma como a sociedade venera alguns símbolos religiosos e como outros elementos fugazes da contemporaneidade são vistos atualmente como sagrados.

Ao usar como inspiração a obra “Vida Para Consumo”, do pensador polonês Zygmunt Bauman, ele utiliza colagens com objetos e materiais, fotografia, pintura e outros materiais. A partir desse conceito, Linhares traz à tona elementos polêmicos da sociedade atual, dentre eles a própria banalização da sexualidade.

Ele relatou à reportagem que também sofreu ameaças em função da exposição. Apesar de não concordar com o encerramento prematuro da mostra, Linhares comenta que sua principal preocupação é com a integridade das pessoas que trabalham no local. Assim, ele exige que, se o projeto acabar antes, a prefeitura explique de forma detalhada que isso ocorreu por conta de influência política e fomento a ações de ódio de pessoas que não compreenderam a real natureza da exposição.

“Não podemos fazer isso de forma calada. Eles (os que mandaram mensagens de ódio e ameaças) promoveram um estrago através de uma ação de pessoas e a gente tem que responder isso. Não podemos ficar calados diante de uma manifestação fascista, porque vamos estar empoderando eles se simplesmente cancelar a exposição e não notificar a imprensa e colocar o assunto nas redes sociais. A gente tem que fazer algo que traga visibilidade para o que está acontecendo”, comenta.

Ao comentar sobre as críticas à exposição por conta dos elementos sexuais, Linhares explica que não existe nenhum tipo de apologia ao sexo.

“Não é nada tão absurdo, não é nada fazendo apologia ao sexo, muito pelo contrário, é uma proposição de reflexão acerca dos rumos mentais que a sociedade tem tomado, principalmente de 2018 para cá, que é quando o bolsonarismo se inflamou na sociedade”, argumenta Linhares.

Fonte: https://leouve.com.br/comportamento/cultura-comportamento/mostra-artistica-causa-polemica-e-prefeitura-de-caxias-do-sul-amplia-recesso-do-ordovas/

Nota: o cristão detesta arte. Destruíram centenas de templos e estátuas dos Deuses. Agora vem com essa de "respeitar a religião". Não demonstram nenhum respeito às religiões de matriz africana. Hipócritas.

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