Se a internet pública tivesse sido estabelecida sessenta anos antes do seu marco (1994), o nazismo e o fascismo provavelmente teriam vencido a 2a grande guerra, penso.
Sendo a maior invenção tecnológica no campo da comunicação, desde a invenção da escrita, a grande Rede é também um poderosíssimo fármaco (φάρμακον) para as mentes humanas.
Capaz de dividir e isolar ao extremo, essa tecnologia adaptou conjuntos de procedimentos psicológicos de condicionamento, cientificamente comprovados, usando reforço intermitente para influenciar, manipular e controlar indivíduos e grupos.
Há uma aurora disso, documentada, que remonta à virada do século (XX/XXI), onde determinados aplicativos e mídias voltadas para plataformas de rede social começaram a surgir (e que se evite aqui a tentação de recuar essa reflexão até Sun Tzu ou Edward Bernays…sugiro).
Não se dando conta dos fortes efeitos narcotizantes dos constantes e ininterruptos bombardeios de linguagens, grande parte dos usuários da Rede foram e vão se tornando adictos, sensivelmente deprimidos, extenuados e paralisados.
Se bem antes dessa revolução tecnológica digital já não era lá muito fácil ser escutado – considerando que saber ouvir o outro é uma arte que depende de exercícios constantes de empatia e alteridade – hoje em dia a coisa se perdeu de vez.
Ninguém se escuta, tanto dentro como fora das multifacetadas batalhas de endogrupos contra exogrupos.
E todos querem falar. Num solo virtual adubado por ressentimento, intolerância, amargura e ódio, pessoas se isolam, individualmente ou em bolhas, tendo a ilusão de que estão ativas em suas vidas comunitárias até há pouco compreendidas como reais.
O “mal” não está na tecnologia. Não há “o mal”.
O que há é uma forte resistência coletiva em assumir certa ignorância acerca dessa espécie de problema (complexo) que envolve uma “fragilidade” no funcionamento do sistema psíquico humano.
Na verdade, uma limitação característica, uma lacuna, fissura ou brecha, se olharmos sob o prisma de que essa “abertura” pode ser atacada, tal como se fosse um território passível de ser dominado ou conquistado; controlado.
A resistência em querer entender o problema dentro do seu verdadeiro campo, o que lhe é próprio, acaba conduzindo a um adiamento de enfrentamento sob a forma de profilaxia e de ações efetivas em cima dessa grave questão social, que é também de saúde mental.
Nas redes dessa guerra não é exagero pensar que pode se tratar de uma negligência programada.
Fonte: https://jornalggn.com.br/cidadania/lucio-massafferri-nas-redes-da-guerra-negligencia-programada/
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