Desidentificação: rejeição das normas de produção de identidade segundo as taxonomias petrossexorraciais. Dar prioridade à invenção de práticas de liberdade mais que à produção de identidade.
Desnormalização: questionar a definição normativa da doença. Explicitar os processos de construção cultural e política da vulnerabilidade e da saúde. Entender que "sua normalidade" e "sua saúde" têm um custo e produzem a doença e a vulnerabilidade de outros.
Emancipação cognitiva: criar redes de produção de conhecimento e de representações alternativas às produzidas pelos discursos médicos, farmacêuticos, psicanalíticos, psicoló- gicos, governamentais e midiáticos.
P.A.I.N. (Prescription Addiction Intervention Now); consumo (toda forma de consumo, não unicamente o de estupefacientes) é adição. Não consuma passivamente. A comunicação é adição. Não comunique passivamente. Intervenha. Atue. Agora."
Coletivização da somateca: criar, fora do controle estatal e/ou corporativo, redes de intercâmbio de cuidados e afetos, mas também de gestos, de saberes corporais, de técnicas de sobrevivência, de células, de fluidos etc., necessários para a produção e reprodução de formas de vida descarbonizadas, despatriarcalizadas e decolonizadas. Essas redes incluem práticas de cura e de restituição diante da violência petros- sexorracial.
Desmercantilização das relações sociais: inventar práticas de produção de valor que não estejam semiotizadas pela economia, o mercado ou mesmo a troca.
Destituição de práticas institucionalizadas de violência: a inscrição da diferença de gênero nos documentos de identi- dade no nascimento é uma forma de discriminação legal e deve ser abolida. As instituições de origem patriarcal e colonial (como o casamento, a prisão, a instituição psiquiátrica e o mercado financeiro) devem ser radicalmente transformadas ou abolidas.
Restituição do expropriado, reparação do destruído: assim como as práticas que produzem violência devem ser destituídas, aquilo que foi expropriado violentamente deve ser restituído para que possa ter início um processo de reconstrução dos mundos dissidentes.
Ação por deserção: retirar-se das cadeias de reprodução social e política da violência.
Secessão: fomentar a ruptura do que foi normativamente reunido de acordo com a lógica binária ou com as categorias normativas da epistemologia petrossexorracial (homem e mulher, animal e humano, heterossexual e homossexual etc.) e que fundamenta a maior parte das instituições das
Mutação intencional e rebelião somatopolitica
democracias ocidentais (casamento, família, fazenda etc.). A secessão pode operar através da destituição ou da fuga. Criação de supercordas: como é necessário romper as uni dades identitárias formadas normativamente, é pertinente unir também o que foi separado. As associações de séries heterogêneas mostram-se, portanto, potencialmente revolucionárias. A criação de supercordas une o distante e o dissonante, associa, por exemplo, os praticantes de bodybuilding e os movimentos de luta pela vida independente, os aposentados e as adolescentes, os jovens imigrantes e exilados e os times de futebol, os coletores de trufas e as as associações de defesa dos cães, os teletrabalhadores e as linhas diretas de escuta e apoio, as trabalhadoras sexuais e a clínica antipsiquiátrica, os frequentadores do Narcóticos Anônimos e a implementação de uma rede cooperativa planetária.
Hibridação antidisciplinar: como a taxonomia capitalista petrossexorracial funciona por segmentação de valores, corpos e poderes, é pertinente hibridar o que foi separado para provocar mutações intencionais. Isso vale para as artes (literatura, cinema, música, vídeo, performance, teatro etc.), a filosofia, as ciências, mas também para as práticas institucionais. Por um lado, o cinema deve tornar-se filosofia; a filosofia, poesia; a poesia, teatro; um teatro deve ser laboratório; um laboratório, uma orquestra; uma startup, um centro de mobilização social etc., numa transformação de formas e funções que escape à economia capitalista.
Politização da relação com as próteses energéticas de subjetivação (cibertecnologias e inteligência artificial, algoritmos etc.), do Autobiohackeamento: nada vai acontecer sem uma mudança de sua própria estrutura cognitiva e de sua relação com as próteses de subjetivação técnica. Nada acontecerá se você não mudar o modo como usa aquilo que considera, erroneamente, seu próprio corpo: seu corpo não lhe per- tence mais que seu celular, o que você deve buscar para se emancipar não é propriedade e privacidade, mas uma transformação do seu uso e da conectividade crítica.
Utilize sua disforia como plataforma revolucionária.
Dysphoria Mundi, Paul Preciado, pg 523 - 526.
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