sexta-feira, 1 de julho de 2022

O primeiro herege

Tem dias que sonhamos e nos vemos sonhando. Quando acordamos, nós ficamos nos perguntando qual dos sonhos era real. Mitos e lendas muitas vezes carregam outros mitos e lendas dentro de si e nos perguntamos qual o verdadeiro significado deles.


Eu pergunto ao dileto e eventual leitor, o que você faria se, no Mundo dos Mortos, viesse a saber que, aqui no Mundo dos Homens, escreveram um texto que macula a sua reputação? Que fique para reflexão, pois nem mesmo os vivos conseguem a devida justiça quando um texto atinge a nossa reputação.


Uma lenda bastante curiosa e peculiar é a de Simão Mago. Esse personagem é conhecido em nossos dias porque foi citado no Ato dos Apóstolos e em obras patrísticas. Nós devemos saber como é fácil falar (mal) dos mortos, mas isso não é bem visto. Enfim, eu usei o Oráculo Virtual (Google) para colher alguma informação sobre Simão Mago e encontrei informação conflitante e contraditória.


Dados básicos: Simão era da Samaria, da vila de Gita. A ele é atribuída a execução de diversos milagres e a afirmação de que seria Deus (Filho?). Ele é tido como um dos precursores do Gnosticismo e é autor da obra Apophasis Megale (apenas fragmentos sobreviveram). Ele foi chamado de mago, feiticeiro e bruxo. A acusação mais grave feita contra ele é a de ter tentado comprar dos apóstolos o poder de transmitir o Espírito Santo, de onde surgiu a palavra “simonia”.


Isso deve ter mudado com o passar do tempo, afinal, diariamente nós vemos pastores neopentecostais comercializando coisas sagradas. Os textos (escritos pelos seus inimigos, não nos esqueçamos) dizem que ele chegou a ser batizado como cristão por algum apóstolo. Também ele é acusado de ter comprado uma escrava com quem realizava seus feitos, o que incluía, para o escândalo de muitos (inclusive nos dias de hoje), a magia sexual.


Vamos considerar o cenário da época: em suas origens, o Cristianismo e o Gnosticismo compartilhavam da filosofia do Neoplatonismo; havia muitas religiões de mistério e sociedades místicas em atividade; muitos milagres eram atribuídos aos apóstolos. Como mago (ou conhecedor de magia), Simão foi tentar aprender essa técnica, sem se importar com os escrúpulos, sujeitou-se ao que os apóstolos lhe pediam. Eu vejo isso acontecer nos dias de hoje, eu citei os momentos embaraçosos da história da Wicca bem como a minha suspeita sobre o treinamento e iniciação formal de uma certa celebridade pagã local.


Enfim, não satisfeitos em enterrar a reputação de Simão Mago, os apóstolos nos contam como ele morreu. Ao se apresentar diante do Imperador Romano, Simão disse que provaria ser superior aos apóstolos, prometendo que voaria diante de todos. Segundo a lenda cristã, um apóstolo rezou e ele, então, caiu no meio de sua apresentação. Alguns séculos mais tarde, a máfia utilizaria desse mesmo expediente para se livrar de seus inimigos, fazendo com que estes sofressem um “pequeno acidente”.


Provavelmente Simão Mago, livre do corpo mortal, podendo conviver com a Fonte da Magia, prevendo o futuro dessa então estranha seita, deve ter visto que não valeria a pena. Para sobreviver e se tornar uma religião de massas, universal e multinacional, o Cristianismo teve que assimilar os ensinamentos que seus padres condenaram e proibiram. O que eu aguardo, com certa ansiedade, é o dia em que a humanidade desmascarar a fraude do Cristianismo, redescobrir suas origens, redescobrir seus Deuses e redescobrir o Caminho Antigo.

Assim seja, assim é, assim será.

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