segunda-feira, 25 de julho de 2022

Três heresias sobre Cristo

O monotelismo foi uma heresia surgida no cristianismo. Opôs-se ao nestorianismo (que afirmava haver em Jesus Cristo duas pessoas, uma pessoa divina e uma pessoa humana, e que foi condenado pelo Primeiro Concílio de Éfeso, em 431).

Eutiques, arquimandrita de um mosteiro de Constantinopla, defendeu que, havendo uma só pessoa em Jesus Cristo, também devia haver uma só natureza, admitindo que a humana fora absorvida pela divina. Essa heresia foi conhecida como monofisismo. A discussão foi turbulenta e a questão só foi definitivamente resolvida no Concílio de Calcedónia, em 451, que definiu haver em Jesus Cristo duas naturezas, a divina e a humana, subsistindo na única pessoa divina do Verbo encarnado. Esta definição não convenceu diversas comunidades, que continuaram a aderir ao monofisismo, algumas até hoje.

Tempos depois, o patriarca Sérgio I de Constantinopla, com a intenção de congraçar os monofisistas, proclamou que em Jesus Cristo, embora havendo duas naturezas, só havia uma vontade, pela identificação perfeita da vontade humana com a vontade divina, o que ficou conhecido na história das heresias por monotelismo. A questão ficou esclarecida no Terceiro Concílio de Constantinopla, em 681.

[https://pt.wikipedia.org/wiki/Monotelismo]

Monofisismo (do grego μονο- [«único»] e ϕύσις [«natureza»]) é o ponto de vista cristológico que defende que, depois da união do divino e do humano na encarnação histórica, Jesus Cristo, como encarnação do Filho ou Verbo (Logos) de Deus, teria apenas uma única "natureza", a divina, e não uma síntese de ambas. O monofisismo é contraposto pelo diofisismo (ou "diafisismo"), que defende que Jesus preservou em si as duas naturezas.

Historicamente, o monofisismo se refere primordialmente à posição dos que (especialmente no Egito e, em menor grau, na Síria) rejeitaram as decisões do Concílio de Calcedônia em 451 (o quarto concílio ecumênico). Os membros mais moderados entre eles, porém, defendem a teologia "miafisista", que se tornou a oficial para as Igrejas Orientais Ortodoxas. Muitos orientais ortodoxos, porém, rejeitam essa classificação, mesmo como um termo genérico, mas ele é amplamente utilizado na literatura histórica.

Após o Concílio de Calcedônia, a controvérsia monofisista (juntamente com outros fatores institucionais e políticos, além de um crescente nacionalismo) levaram a um duradouro cisma entre as Igrejas Orientais Ortodoxas de um lado e as Igrejas Ortodoxas e a Igreja Católica de outro. O conflito cristológico entre monofisismo, diofisismo e suas sutis combinações e derivações durou do século III até o VIII e deixou sua marca em todos os concílios ecumênicos, com exceção do primeiro. A vasta maioria dos cristãos atualmente pertence às chamadas igrejas "calcedônias", ou seja, a Católica Romana, a Ortodoxa e as igrejas protestantes históricas (que são as que aceitam a autoridade de pelo menos os quatro primeiros concílios). Todas elas sempre consideraram o monofisismo como sendo herético.

À luz da pesquisa histórica moderna e de discussões ecumênicas, as posições dos miafisistas e calcedônios diferem principalmente no uso do termo chave "natureza" (em grego: φύσις; romaniz.: phýsis, como utilizado nos textos originais dos concílios envolvidos na controvérsia) ao invés da cristologia subjacente, mas outras pequenas diferenças de interpretação ou de ênfase também existem. A comunhão plena entre os orientais ortodoxos e as várias igrejas calcedônias ainda não foi restabelecida.

Uma breve definição do monofisismo é: "Jesus Cristo, que é idêntico ao Filho, é uma pessoa e uma hipóstase em uma natureza: divina".

O monofisismo nasceu na "Escola Teológica de Alexandria" (um movimento e não um local), que começou a sua análise cristológica com o (divino) Filho eterno ou Verbo de Deus e procurou explicar como este Verbo Divino se encarnou como um homem. Pelo caminho contrário, a Escola de Antioquia (onde nasceu o nestorianismo, a antítese do monofisismo) partiu de Jesus (humano) dos evangelhos e tentou explicar como este homem se uniu com o Verbo Divino na Encarnação de Jesus. Ambos os lados, é claro, concordavam que Jesus era divino e humano, mas os alexandrinos enfatizavam a divindade (incluindo o fato de a natureza divina ser "impassível", ou seja, imune ao sofrimento) enquanto que os antioquenos enfatizavam a humanidade (incluindo o conhecimento limitado e a "sabedoria crescente" de Cristo nos evangelhos). Teólogos monofisistas e nestorianos, na realidade, raramente acreditavam nas visões extremas que seus adversários lhes atribuíam (embora alguns possam tê-lo feito).

A doutrina monofisista foi condenada pelo Concílio de Calcedônia em 451, que, entre outros atos, adotou a chamada "Definição de Calcedônia" (geralmente chamado de "Credo Calcedoniano") afirmando que Cristo é o eterno Filho de Deus "que se fez conhecer em duas naturezas sem confusão (ou seja, mistura), imutável, indivisível, sem separação, sendo as diferenças entre as naturezas de maneira nenhuma removidas por causa da união, mas as propriedades de cada natureza sendo preservadas e aglutinadas em uma prosopon [pessoa] e uma hypostasis [substância] - não dividida ou partida em duas prosopa [pessoas], mas apenas um e o mesmo Filho, unigênito, divino Verbo, Senhor Jesus Cristo".

Aceito pelas sés de Roma, Constantinopla e Antioquia, o acordo firmado em Calcedônia encontrou forte resistência em Alexandria (e em todo o Egito), levando, finalmente, ao cisma entre as Igrejas Ortodoxas Orientais (que rejeitam Calcedônia) e as demais, calcedônias, que sempre consideraram o monofisismo como herético e consideram que esta seja a posição (implícita ou explícita) dos ortodoxos orientais. Estes, por sua vez, consideram sua própria cristologia, conhecida externamente como miafisismo e baseada fortemente nos textos de Cirilo de Alexandria (que ambos os lados aceitam ser ortodoxo), como sendo distinta do monofisismo e, geralmente são contra serem chamados como tais.

O monofisismo e sua antítese, o nestorianismo, foram temas discutidos acaloradamente e foram dogmas que provocaram divisões nos primeiros anos do cristianismo, especialmente na primeira metade do século V, os tumultuados anos finais do Império Romano do Ocidente. Foi uma época marcada por uma mudança do centro de gravidade do poder, agora localizado no Império Bizantino, particularmente na Síria, no Levante e na Anatólia, regiões onde o monofisismo era muito popular.

Duas doutrinas desta época podem ser indiscutivelmente chamadas de "monofisistas":

Eutiquianismo, que defendia que as naturezas humana e divina de Cristo foram fundidas em uma nova natureza única (mono): sua natureza humana teria "se dissolvido como uma gota de mel no mar";
Apolinarianismo, que defendia que Cristo tinha um corpo humano e um "princípio de vida" humano, mas que o Logos havia tomado o lugar do nous, ou "princípio pensante", análogo, mas não idêntico, ao que se chama de "mente" nos dias de hoje.
Depois que o nestorianismo, ensinado pelo arcebispo de Constantinopla Nestório, foi rejeitado no Primeiro Concílio de Éfeso, Eutiques, um arquimandrita na capital imperial, emergiu com visões diametralmente opostas. A energia e imprudência com que ele dava suas opiniões lhe valeram uma acusação de heresia em 448 e, finalmente, a excomunhão. No ano seguinte, no controverso Segundo Concílio de Éfeso (chamado de "Latrocínio de Éfeso"), Eutiques foi re-instalado e seus principais oponentes, Eusébio de Dorileia, Dono II e o arcebispo Flaviano de Constantinopla, foram depostos. O monofisismo e Eutiques foram finalmente condenados em Calcedônia.

[https://pt.wikipedia.org/wiki/Monofisismo]

No século VII, o imperador bizantino Heráclio tentou resolver o cisma entre os calcedonianos e os monofisistas sugerindo uma solução intermediária, o monoenergismo. Esta doutrina adotava a crença calcedoniana de que Cristo tinha duas naturezas (physis), mas tentou endereçar as desavenças dos monofisistas afirmando que Ele teria apenas uma "energia" (energeia), um termo cuja definição foi deixada deliberadamente vaga. O monoenergismo foi aceito pelos patriarcas de Constantinopla, Antioquia e Alexandria, assim como pela Igreja Apostólica Armênia, além de não ter sido criticado pelo papa Honório I. Porém, a firme oposição do patriarca Sofrônio de Jerusalém ganhou amplo suporte e levou ao abandono da alternativa por Heráclio em 638, que tentaria em seguida impor a doutrina do monotelismo, que também não conseguiu resolver o cisma.

Tanto o monoenergismo quanto o monotelismo foram condenados como heréticos no Sexto Concílio Ecumênico realizado em Constantinopla em 680.

[https://pt.wikipedia.org/wiki/Monoenergismo]

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