“As visões Wiccanas da divindade são geralmente teístas e giram em torno de uma Deusa e um Deus, sendo, portanto, geralmente dualista. Na Wicca tradicional, conforme expresso nos escritos de Gerald Gardner e Doreen Valiente, a ênfase está no tema da polaridade de gênero divino, e o Deus e a Deusa são considerados forças cósmicas divinas iguais e opostas”. – Wikipédia. [do verbete em inglês, traduzido com Google Tradutor]
“A Teoria da Polaridade mantém que toda atividade, toda manifestação, cresce de (e é inconcebível sem) a interação de pares opostos e complementares – positivo e negativo, luz e treva, conteúdo e forma, macho e fêmea, e assim por diante; e que esta polaridade não é um conflito entre ‘bem’ e ‘mal’, mas uma tensão criativa como a entre os terminais positivos e negativos de uma bateria elétrica. Bem e mal apenas aparecem com a aplicação construtiva ou destrutiva dessa tensão da polaridade (novamente, como no uso de uma bateria)”. – O Racionalismo da Bruxaria. Autores: Janet & Stewart Farrah. Obra: O Caminho das Bruxas. Tradução: Roberto Quintas.
“A identificação com o ser divino no prazer se realiza através dos ritos sexuais, todo ato sexual pode se tornar um sacramento.
No rito, o homem se identifica com o primeiro princípio e a mulher com o outro. Essa união reproduz o Hiero Gamos, o Casal Divino, o Andrógino, bem como o mistério da natureza desse mundo, um mundo que é manifestado e condicionado, em que a humanidade aparece como separados em uma dualidade, vão se unir por um instante. No orgasmo sexual, a lei da dualidade é suspensa, o êxtase ocorre e, no arrebatamento, conduz os celebrantes à iluminação absoluta”. – A Comunhão Pela Carne. Baseado no livro Shiva e Dioniso, de Alain Danielou, pg 131-134, 139-141.
Uma das características da Wica é a dualidade e eu acho necessário distinguir a “dualidade” da “dicotomia” típica [maniqueísmo – Bem vs Mal] das religiões abraãmicas. A dualidade é fundamental para o que eu chamo de polaridade sagrada, sem isso não ocorre o Hiero Gamos, sem isso, o mundo, a realidade, o universo, deixam de existir.
“Este é o aspecto mais misterioso, oculto e sombrio das antigas crenças e nisso há que se ressaltar o acerto do mito ao identificar a imensa escuridão - na qual a Deusa está imersa - o Deus que, através do espelho, se manifesta à Deusa, como sendo uma outra divindade, semelhante mas oposta, contrária mas não antagônica, com quem a Deusa, pelo Hiero Gamos, gera todo o universo, o mundo, a natureza”. – Espelho, espelho meu.
“A Deusa e o Deus são ao mesmo tempo opostos, complementares e necessários não só a criação como também a manutenção da vida. O culto wiccano expresso nos sabbaths, esbbaths e ritualísticas diárias representa o mecanismo para agradecer, exaltar, conectar-se e auxiliar os Deuses nesse processo”. – A ênfase matriarcal na Wicca.
"'Conhece-te a ti mesmo' é a voz do Deus, é o Dom do Deus. Ambas as capacidades são necessárias, se o homem não conhece a si mesmo será incapaz de compreender a natureza a sua volta. Mas ele não pode visar apenas o conhecimento interno, precisa equilibrar as duas coisas para ser pleno em sua existência". – A ênfase matriarcal na Wicca.
Então eu acho que a Wica é equivalente à escola Dvaita [filosofia baseado no vedanta], em contraste com a escola Advaita [que se baseia na não-dualidade].
No interesse de contraste e exercício mental, eu fiz algumas pesquisas.
A filosofia do Advaita Vedanta pode ser compreendido com os discursos de Nisargadatta Maharaj. Eu vi alguns vídeos falando de não-dualismo.
O Advaita Vedanta é bem parecido, ao menos conceitualmente, com o esoterismo ocidental chamado “I Am” de Saint Germain [ou o “Eu Sou”], originário da Teosofia de Helena Blavatsky. A Escola de Teosofia é, em si mesma, uma mistura de diversas escolas esotéricas. A senhora Blavatsky não teve qualquer escrúpulo ao se apropriar de trechos e obras de outras culturas para estabelecer sua doutrina esotérica. O “I Am” de Saint Germain é bem parecido com o conceito de Self que tem origem no Neoplatonismo e o conceito de Santo Anjo Guardião presente na Teurgia e na Maçonaria.
Mas esse termo tem outra concepção no Advaita Vedanta, o que é evidente, afinal, tem por base os Upanishads. Aqui o “Eu” é o “Ser”, no sentido de Existência Absoluta, ou Brahma. O salto de fé, se eu posso usar esse termo, consiste em alegar que nosso Self, ou nosso Atma, nosso Eu, nosso Ser, é o mesmo Eu e Ser de Brahma. Quando ocorre o despertar [outro conceito muito usado em inúmeras escolas esotéricas e de mistério], o ego se dissipa, não há mais o indivíduo, a personalidade ou a identidade. O que outrora estava adormecido tem a consciência de sua existência e esta é absoluta e plena.
O “conhecimento de si mesmo” da filosofia védica é diferente do conceito da filosofia helenística [tomando aqui Platão e as frases atribuídas a Sócrates] e é diferente do conceito da filosofia teosófica.
As questões [existenciais e filosóficas] persistem, as respostas do Advaita Vedanta não dissipa as dúvidas. Ora, se o Self é Absoluto, não há Atma. Se o Self é Absoluto, “isto” é igualmente responsável e autor da ilusão [Maya], da Ignorância, da dor e do sofrimento inerente à existência. Sem o mundo fenomênico, sem o corpo carnal, não haveria como adquirir qualquer conhecimento ou consciência.
“O erro, príncipe, de toda crença e religião, está em negar e rejeitar a Fonte da Sabedoria (viver) e a Ferramenta do Conhecimento (o corpo)”. – Asura Sutra.
Ao se desvencilhar do mundo fenomênico e da forma encarnada que o nosso Self se manifesta nesse espaço-tempo, as escolas de filosofia dármicas tornam-se indiferentes aos problemas que encaramos diariamente e que não serão resolvidos com meras palavras e filosofias.
Ao pensar em tudo isso, vejamos esse trecho de nossos rituais:
“E tu, que pensas me procurar, sabe que a tua busca e anseio não te valerá, a menos que conheças este mistério: que se aquilo que procuras não encontrares dentro de ti, nunca o encontrarás fora de ti ”. - Carga da Deusa.
Eu acho que esse trecho pode ser entendido na forma da dualidade. Há o que está “fora do Self” e o que está “dentro do Self”. Em ambos os casos, existe a necessidade de uma busca, aquisição, percepção e discernimento. Para se descobrir o que há "dentro do Self", há que descobrir, conhecer, o que há "fora do Self", para, então, poder distinguir entre um e outro. Tal como Ulisses em sua saga, ele precisou empreender uma longa viagem para, só então, ao voltar para casa, descobrir que o tesouro que ele tanto procurava estava em seu lar.
Nosso Self tem duas naturezas, uma carnal e uma divina. Nós fomos feitos das cinzas dos Titãs e carregamos a faísca [fogo] dos Deuses.
Ao reconsagrar o corpo, o desejo, o prazer e o sexo, as religiões do Paganismo Moderno devolvem esse mundo e a natureza em que estamos inseridos como obras divinas.
Nesse caso, nessa cosmovisão, não há pecado, não há a luta do Bem contra o Mal, da Luz contra a Sombra.
A dualidade é aceita, percebida e interpretada como realidades intrínsecas, cabendo a nós, como filhos e filhas dos Deuses, conduzir nossas vidas para adquirir o conhecimento e atingir a evolução.
Isso nos torna responsáveis por nós, por nossa espécie, pela forma como interagimos entre nós e pela forma como utilizamos os recursos naturais.
“Toda existência tem dor e sofrimento, senão não estaria vivo.
A dor e o sofrimento são os meios que a natureza e a vida têm para nos ensinar”. – Asura Sutra.
Uma vez adquirido o conhecimento, nós podemos empreender o Caminho Iniciático, com o qual nós fazemos essa viagem para “dentro de nós mesmos” para, então, nos deparar com nossa verdadeira essência e existência, que é o nosso Self, retomando nossa verdadeira natureza [divina], o que nos reconecta com a Fonte, que é a Natureza. Assim, há uma reconexão [re-ligare] de forma dualista, de pares de opostos, mas não antagônicos, convivendo e colaborando para que a existência seja plena.
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