segunda-feira, 23 de março de 2015

O arcano da morte

Este é o outro arcano perturbador porque a humanidade não lida bem com o inevitável e sua finitude. Ou como diz o Budismo, a humanidade está no estado de impermanência. Pegadinha do Sidarta, pois em sendo nada permanente, sua doutrina desafia a perenidade.
A humanidade é mortal, indiferente de sua riqueza, seu status, sua influência social, seu conhecimento, sua sabedoria, sua iluminação, todos, sem exceção, deverá passar pelo último portal. Ali está, inexorável, o Ceifador. Sabendo disso, a humanidade tenta se esconder no medo ou em formas de trapacear com a morte.
O descrente não é muito diferente, pois negar que há algo além da vida é negar a morte. O crente não se exime do fardo, a maioria das religiões surgiu graças ao medo da morte. O que há de mais perturbador do que um Mensageiro divino cujo culto nasceu por que sua Igreja foi fundada em um sacrifício humano? Os mitos antigos estão recheados de Deuses que morrem e múltiplas divindades que são a morte personificada e divinizada.
Se nós estamos fadados a fenecer, por que lutamos tanto, trabalhamos tanto? Por que acumulamos títulos, riquezas, diplomas, coroas, tronos, se o futuro de todos é se tornar cadáver? Por que estamos vivos, esta é nossa função, nossa obrigação. Nossa vida, nossa existência tem um propósito, temos um sopro para tentar cumprir com nossa missão.
Costuma-se dizer que a morte é o Vale das Sombras. A humanidade é um animal diurno, não entende a sombra, não compreende a noite. Aquilo que não se entende se teme ou se tenta destruir. O buscador não teme a morte, pois sabe que é um estado, uma circunstância. Quando a morte lhe sorri, ele sorri de volta, pois sabe que a morte é uma passagem, é tão aterrador quando dormir, é tão ameaçador quanto a passagem da noite para o dia.

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