Você que me nega, me admite e você que me admite, me nega.Você que fala a verdade sobre mim, mente sobre mim e você que mentiu sobre mim, fala a verdade sobre mim.Você que me conhece, seja ignorante sobre mim e aqueles que não me conheceram, deixem eles me conhecer.
Lilith possui uma linguagem muito libertária em relação às ideias que concebemos em nossa cultura sobre o amor.
Quando uma pessoa ama, deve haver liberdade - a pessoa deve estar livre, não só da outra, mas também de si própria.
No estado de pertencer a outro, de ser psicologicamente nutrido por outro, de outro depender - em tudo isso existe sempre, necessariamente, a ansiedade, o medo, o ciúme, a culpa, e enquanto existe medo, não existe amor.
A mente que se acha nas garras do sofrimento jamais conhecerá o amor. O amor não é produto do pensamento, que é o passado. O pensamento não pode de modo nenhum cultivar o amor. O amor não se deixa cercar e enredar pelo ciúme; porque o ciúme vem do passado. O amor é sempre o presente ativo. Não é "amarei" ou "amei". Se conheceis o amor, não seguireis ninguém. O amor não obedece.
Quando se ama, não há respeito nem desrespeito.
O amor original é naturalmente considerador, ele não segue padrões de respeito definidos culturalmente. O que é respeitoso em uma região pode ser considerado altamente ofensivo em outro lugar. Isso prova que a ideia do respeito é uma produção cultural, e que sua identidade depende basicamente de filtros de crenças.
Na origem latina [respectus], a palavra respeito significa "olhar outra vez", algo que merece um segundo olhar. Neste sentido, respeito pode ser um ato de reverência, de prestar culto ou homenagem.
Entretanto, a produção cinematográfica de James Cameron, Avatar, nos apresenta um novo conceito sobre essa mesma ideia: os nativos Na'vi trocam cumprimentos com "I see you" [eu vejo você]. A expressão utilizada pelos nativos entre si revela que todos merecem sempre o *primeiro* olhar, e não o segundo. Logo, respeito entre eles não era uma *condição*, mas um *reconhecimento mútuo* da existência do outro e do *direito de pertencer* que todos gozavam dentro da comunidade.
Em nossos dias, essa ideia foi distorcida e tem apresentado uma outra forma de expressão: ter respeito tem incentivado muitos comportamentos de obrigação, submissão e temor, onde o lado mais forte sempre ganha mais espaço de forma invasiva e territorial.
Dessa forma, entendemos que onde há *obediência* não há espaço para uma *expressão amorosa* genuína e autêntica, pois o amor não admite o sofrimento através do mais forte nem do mais fraco.
No amor há alteridade, e onde existe alteridade, o respeito é consequência de um reconhecimento mútuo, e não uma condição.
A liberdade proposta por Lilith em relação ao amor, muitas vezes se choca com aquilo que aprendemos sobre o que é amar.
Uma dessas ideias que causam um certo estranhamento na maioria de nós, é a ideia da isenção de *dever amoroso*.
Tem o amor responsabilidades e deveres, e emprega tais palavras?Quando fazeis alguma coisa por dever, há nisso amor? No dever não há amor. A estrutura do dever, na qual o ente humano se vê aprisionado, o está destruindo. Enquanto sois obrigado a fazer uma coisa, porque é vosso dever fazê-la, não amais a coisa que estais fazendo.Quando há amor, não há dever nem responsabilidade.
Entendemos que o amor original é naturalmente espontâneo.
Onde há espontaneidade, a autêntica expressão amorosa substitui a responsabilidade pelo sentido de cumplicidade.
Quando Lilith chega em nossas vidas sempre causa uma sensação de estranheza e um certo arrebatamento... Um choque de realidade, uma sensação de atropelamento moral e energético ou de ser carregado pelos ares, uma exposição do inconsiderado em nós, o inesperado pensante [eureka] que emerge sem nossa autorização consciente, um amor autoconsciente genuinamente consistente e altamente expansivo.
Em relação a esse amor tão libertário e sem fronteiras, começamos a questionar valores aprendidos, ações empreendidas em nosso passado, e que atitude tomaremos em nosso presente.
Aprendemos que o amor é relativo às nossas limitações, e com certeza, tendemos a expressá-lo dessa maneira.
Mas se o amor é diferente de tudo o que aprendemos, o que faremos com isso? Saberemos como expandir esses limites?
Podeis perguntar:
- Se encontro esse amor, que será de minha mulher, de minha família? Eles precisam de segurança.
Fazendo essa pergunta, mostrais que nunca estivestes fora do campo do pensamento, fora do campo da consciência.
Quando tiverdes alguma vez estado fora desse campo, nunca fareis uma tal pergunta, porque sabereis o que é o amor em que não há pensamento e, por conseguinte, não há o tempo.
Podeis ler tudo isto hipnotizado e encantado, mas ultrapassar realmente o pensamento e o tempo - o que significa transcender o sofrimento - é estar cônscio de uma dimensão diferente, chamada *amor*.
Mas, não sabeis como chegar-vos a essa fonte maravilhosa - e, assim, que fazeis?
Quando não sabeis o que fazer, nada fazeis, não é verdade? Nada, absolutamente.
Então, interiormente, estais completamente em silêncio. Compreendeis o que isso significa?
Significa que não estais buscando, nem desejando, nem perseguindo; não existe centro nenhum.
Há, então, o amor.
Num universo infinito qualquer ponto pode ser o centro, logo, se é infinito, onde está o centro?
Amor não é conceito. Amor é fonte.
Amor é dimensão.
Tradição de Lilith
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