Há dez anos, em 1 de março de 2001, os Taleban ordenaram a implosão das gigantescas estátuas de Buda, escavadas no século 5 nas montanhas de Bamiyan, um vilarejo bucólico localizado na antiga Rota da Seda, que ligava a China e a Índia.
O amigo e jornalista afegão Farhad Peikar, que vive em Cabul, viajou 240 km até Bamyian para testemunhar o cenário atual. Ele contou ao blog Pelo Mundo o que viu e ouviu.
“Os nichos agora vazios de Bamiyan, que há dez anos abrigavam as maiores estátuas de Buda no mundo, com 38 e 55 metros de altura, são uma lembrança amarga da ira cega dos radicais islâmicos do Taleban. Não foram apenas as estátuas que eles destruíram, então, mas todo o vilarejo, povoado pela minoria xiita hazara. Essa gente foi torturada. Os Taleban não se deram por satisfeitos apenas em destruir os Budas, eles fizeram com que os moradores os ajudassem, mesmo contra a vontade. Eles tiveram de escalar as estátuas, pendurados em cordas, abrindo buracos na rocha para colocar dinamites. Quem não o fizesse, seria preso. E os habitantes daqui sabiam bem o que significa ir para uma prisão do Taleban, acusado de tortura e mortes. O povo de Bamyian não se esquece dessas atrocidads e odeiam os Taleban.”
Os nichos que antes abrigavam os Budas gigantes de Bamyian continuam vazios, apesar da queda do Taleban e da presença estrangeira no país há uma década. São apenas mais um sinal visível de que, apesar das tantas promessas de reconstrução do país, muito pouco, ou quase nada, foi feito. Quando estive em Cabul, em 2008, testemunhei com os próprios olhos a destruição. Pela janela do carro sacolejante – porque nem mesmo as ruas da capital têm asfalto! – passavem ruínas de prédios inteiros ainda da guerra civil, anterior à tomada do país pelo Taleban; marcas de balas por toda parte; ar seco, poluição, lixo; uma cidade sem luz, apesar de ser a capital. Durante os 15 dias que estive em Cabul, dois suicidas detonaram seus explosivos em ruas movimentadas da capital e nesses ataques morrem apenas afegãos, porque os estrangeiros costumam estar bem protegidos entre muros altos protegidos por barricadas, vidros à prova de balas e homens armados até os dentes. Os afegãos se perguntam o que toda aquela gente está fazendo no país!
Ele continua:
“A reconstrução dos Budas gigantes de Bamiyan tem sido discutida e discutida, mas planos concretos mesmo não há. Seriam necessários entre 30 e 50 milhões de dólares para restaurar as estátuas. Mas as pessoas aqui ainda não têm hospitais, escolas, às vezes nem mesmo comida para dar aos filhos. Como falar em gastar esse dinheiro para reerguer estátuas?”
A região de Bamiyan é uma das poucas ainda controladas pelas forças de coalizão. Em uma recente declaração, o comando do Taleban afirmaou ter retomado o controle de 75% do país – as estimativas de organizações de segurança global não diferem muito disso; falam em 72%. As tropas estrangeiras dominam as capitais das províncias, mas mais de 70% do Afeganistão é formado por vilarejos rurais, sobre os quais o Taleban teria voltado a exercer seu domínio.
Autora: Adriana Carranca [link indisponível]
Nota da casa: O mundo ocidental ficou chocado e repudiou o ato do Taliban. O mundo ocidental devia cobrir a cabeça de vergonha pelas centenas de estátuas, templos e santuários pagãos que foram destruídos depois que o Cristianismo se tornou a única religião oficial.
3 comentários:
Lembrei dos Budas na ocasião da queda do Espinheiro Sagrado na Inglaterra, noticiado por ti e pelo Rafael Noleto (http://blogsementesagrada.blogspot.com/2010/12/o-grande-pa-morreu.html).
Na época, quando aquelas estátuas foram engolidas pela fumaça após a explosão, parecia que minha garganta se fechava. Serão memórias passadas de alguém que viu o Panteão Romano ser lentamente dilapidado, por exemplo?
Mas nem tudo está perdido. No MASP um quadro retratando a "visita" de Himineu nas festividades do Deus Príapo foi restaurado e se encontra exposto(http://blogsementesagrada.blogspot.com/2011/02/deuses-madonas.html).
Os ventos da mudança sopram nas terras muçulmanas (http://blogsementesagrada.blogspot.com/2011/02/yes-we-can.html)e os ocidentais (em sua maioria) tentam consertar os erros do passado.
O mundo tem jeito, ainda. Rs!
Saúde, amizade, liberdade.
Sergio.
Mesmo assim há seculos e séculos de distancia entre um evento e o outro e a sensibilidade actual não tem nada a ver com o que acontecia nesse longinquo passado. O que é lamentável é que a humanidade ou pelo menos parte tenha retrocedido em pleno seculo XX a esse passado.
A despeito da distância temporal, as justificações de ambos os atos são a mesma ignorância, a mesma intolerância, o mesmo obscurantismo.
Debaixo dessa máscara de "culto", "civilizado" e "moderno", essa "sensibilidade" do mundo ocidental não passe de hipocrisia.
Afinal, houve uma Nova Cruzada no Iraque e grupos cristãos fundamentalistas continuam a propagar seu ódio e preconceito.
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