A respeito do significado religioso pagão do Primeiro de Maio, já neste blogue se disseram umas quantas palavras, texto que fala maioritariamente da tradição romnana, por um lado, e da tradição céltica mais bem conhecida, a da Irlanda, por outro. No caso de Portugal, não há, até agora, registo do que fariam nesta data os Celtas e/ou Lusitanos que viveram em território português. Perante tal escassez de fontes religiosas lusitanas e/ou célticas hispânicas, muitos pagãos portugueses têm, compreensivelmente, ligado a sua prática ao rito e mito da Irlanda, isto é, dos parentes conhecidos mais próximos.
Mas, porque no folclore nacional se encontram vestígios do Paganismo indígena, pode o estudo das tradições folclóricas ser proveitoso para quem queira reconstruir, ou recriar, um caminho religioso para o culto das antigas Deidades deste extremo ocidente europeu. Vale por isso a pena dar uma vista de olhos às notas e observações do arqueólogo Adriano Vasco Rodrigues, na sua obra «Os Lusitanos, Mito e Realidade» (pags. 176 e ss., Academia Internacional da Cultura Portuguesa, 1998), notas estas que podem servir de base para a elaboração de um ritual neo-pagão, que permita abrir os Portais do Céu, por assim dizer, para que deste modo possam os actuais descendentes da grei castreja re-ligar-se aos Deuses da sua herança etno-religiosa.Este sacrifício expressa uma prática indo-europeia. Esta inscrição teve também um extraordinário interesse para o avanço no estudo da língua dos Lusitanos. Serviu de base ao encontro de Lisboa, de 1980, para o estudo das línguas pré-latinas.
Quanto à tradição, ainda hoje [amanhã], no dia 3 de Maio, rapazes e raparigas das povoações próximas do Cabeço das Fráguas sobem ao alto daquele monte, dançam, cantam e merendam um cabrito ou um borrego assado. Virá desses tempos este hábito? Não nos repugna aceitar que sim, pois é o único monte onde tal prática existe, embora seja hábito na região da Guarda fazer uma merenda, no campo, nesse dia.
A data de 3 de Maio, que a igreja consagra (Dia de Santa Cruz), pode também ligar-se a cultos pagãos indo-europeus e célticos, que sobrevivem no Dia das Maias. É costume, nas festividades beirãs e transmontanas, ofertar borregos aos santos festejados, arrematando-os depois no bazar de oferendas. Também é frequente os pastores levarem o rebanho a cumprir novenas em torno de certas capelas de santos ou santas da sua devoção, obrigando os animais a dar nove voltas, práticas que, pelo seu carácter supersticioso e pagão, muitos sacerdotes católicos, normalmente, contrariam. Em Trás-os-Montes ainda se conserva, em alguns lugares, no Felgar, por exemplo, o hábito de incorporarem na grande procissão do ano, juntas de bois, levando sobre as hastes sacos com cereal.
Fonte: Gladius
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