Para os antigos gregos, os demônios (daemons) são entidades mais ligadas a este mundo a ponto de serem quase humanas. Por alguns mitos e lendas antigas, é bem provável que eles foram Deuses dos povos que habitaram a Grécia antes da dominação helênica.
Este tipo de supressão foi comum em diversos povos antigos, não foi novidade alguma isto ter acontecido com as crenças originais européias com a chegada do Cristianismo.
Pode parecer curioso e contraditório, mas a teologia cristã não existiria sem a concepção de pecado, Inferno, Apocalipse, Juizo Final, Diabo e demônios que cumprem com suas devidas funções tal como é preconizado na escatologia.
Na concepção doutrinária cristã, a realidade é dividida, separada, em dois grupos opostos e adversários, dentro de uma dicotomia extremamente maniqueísta. Mas o mais interessante desta concepção é a forma como ela é utilizada ora para sustentar as posições doutrinárias de um grupo, ora para criticar as posições doutrinárias de outros grupos.
Desde seu surgimento, grupos de cristãos viviam em contendas com outros grupos que se arrogavam as mesmas pretensões e somente com a instituição de um grupo dominante é que foi determinada o que se entendia por ortodoxia, relegando o restante como heresia ou apostasia.
Mas isso não evitou o primeiro cisma no Cristianismo, o que facilitou e possibilitou a ocorrência do segundo cisma e o aparecimento do Protestantismo.
Quando o Protestantismo conquistou o mesmo prestígio das demais vertentes do Cristianismo, tornou-se um hábito de um acusar o outro de ser controlada pelo Diabo e de praticar cultos satanistas.
Por outro lado, em sua apologia, cada um usava de ocorrências pontuais - como os de possessão - para mostrar que o lado deles era o mais certo argumentando que o Diabo e os demônios procuram combater a verdadeira, santa e pura Igreja de Cristo.
Interessantemente o único consenso entre as diversas denominações cristãs - bem como nas religiões institucionalizadas - é que as práticas de magia, de adivinhação, de vidência, de mediunidade e de bruxaria são, efetivamente, características do culto satânico.
Não obstantemente, dentro do Cristianismo existem práticas que são uma forma de magia como o uso de bençãos, velas, medalhas, óleos, trechos da bíblia; existem êxtases, revelações e profecias que são formas de adivinhação, vidência e mediunidade.
A Bruxaria torna-se um caso mais sensível, pois ela é vista tanto como uma heresia quanto uma apostasia. Ao acusar as bruxas de terem certas crenças e práticas que são discriminadas preconceituosamente como um culto satânico, o discurso não tem como objetivo as efetivas características das bruxas nem as crenças e práticas da Bruxaria, mas apenas usá-las como um recurso simbólico para embasar e justificar os argumentos usados na exposição da doutrina peculiar do grupo ao qual o crítico pertence, tendo por objetivo a purgação e a purificação deste grupo destas práticas vistas como impróprias ao "verdadeiro" Cristianismo.
A demonização não é apenas um recurso argumentício providencial usado apenas no discurso religioso, mas também está presente no discurso ideológico, político, econômico, social e científico, muito embora usem de outras pressuposições e palavras.
Apenas no discurso artístico a demonização assume um caráter ambíguo que varia entre o sarcasmo/ironia e a contestação/militância, mas ainda cumpre com a função de servir como um meio de transmitir uma mensagem.
Para o Neopaganismo, a Bruxaria e a Wica, a mensagem é a de que tanto os Deuses quanto os demônios estão dentro de nós, faz parte de nossa essência. As religiões majoritárias nos tem feito projetar ou rejeitar essa essência e isso apenas nos tem deixado enfermos. Portanto, é tempo de tentar a alternativa de reconhecer, aceitar e assimilar essa essência, para nos tornarmos humanos mais sadios.
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