Não é de agora que se fala que religião e política não devem ser misturados. Um neopagão que clama pelo "retorno pela pureza" de seu "povo", de sua "cultura" e de sua "religião" não deve ter conhecimento algum de antropologia, história ou cultura.
Alguns grupos falam, com orgulho iludido, sobre a "verdadeira identidade" dos europeus como vindo dos indo-europeus. Para começar, só em falar em grupos ou povos indo-europeus mostra que está se falando de uma mescla, de uma mistura, de uma miscigenação.
A classificação como indo-europeu refere-se apenas a matérias linguísticas, e não necessariamente a etnias ou culturas. Os chamados indo-europeus se localizavam, desde o quarto milênio, ao norte do Mar Negro, entre os Cárpatos e o Cáucaso, sem jamais, todavia, terem formado uma unidade sólida, uma raça, um império organizado e nem mesmo uma civilização material comum.
Portanto, o que existe é uma enorme confusão ideológica sobre identidade, origem, gens e ethnos. Então a pergunta é por que se tem tanta necessidade nos dias de hoje de se descubrir estes fatores e, sobretudo, qual a relação entre estes, o neopaganismo, a política e o neonazismo?
A Europa, bem como os países colonizados por seus descendentes - especialmente as Américas - sofreu um grande trauma em sua identidade étnica, tanto com o domínio do Império Romano quanto com o domínio do Império Cristão.
Mas isso faz parte de toda a história humana, mesmo os habitantes primitivos do continente europeu foram dominados por outros povos, que por sua vez foram formados de mesclas de diferentes povos. Não há, na atualidade, forma alguma de "restaurar" a pureza étnica de povo algum.
Podemos querer saber as nossas origens, resgatar a nossa herança cultural e trazê-la para os nossos dias, não querer levar a atualidade de volta a esse passado dourado idealizado. Nossa identidade, nos dias de hoje, é fruto da contribuição de diversos povos, diversas culturas, incluindo imigrantes, negros, árabes, asiáticos.
Querer retomar uma "pureza" étnica é matar parte dessa cultura que também faz parte de nossa identidade, de nossa riqueza, de nosso País. Podemos ter orgulho de nossa gens - um termo que entrou na cultura européia pelos Romanos - mas não podemos nos esquecer o outro lado do conceito de gens "romana" - a família, que não era feita apenas de indivíduos ligados por laços sanguíneos, mas também de todos aqueles que o pater familians adotava.
Um familiar romano, mesmo se escravo ou servo, usufruía quase dos mesmos direitos que os patrícios romanos, muitos recebia mais que a liberdade, recebiam a cidadania sob o nome da família do pater familians que os adotara.
Esse costume ainda faz parte do folclore europeu, bem como do neopaganismo, mas não da política que foi o pesadelo europeu, o Nazismo, uma ideologia que infelizmente vem sendo reutilizada para objetivos espúrios.
Para os neopagãos e reconstrutivistas culturais que estão reembarcando sem perceber na ideologia do III Reich, fica uma pequena reflexão. A região de onde os Arianos vieram - um dos grupos étnicos responsáveis pela expansão da cultura indo-européia - é hoje mais conhecida como Tajiquistão, a mesma região de onde se originaram os Persas, a mesma região da Turquia, do Irã, do Paquistão, uma região de povos bem morenos, em nada parecidos com o ideal nórdico, caucasiano ou germânico.
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