Autor: William Shakespeare.
Uma caverna; No meio, um caldeirão a ferver; Trovão; Entram as três bruxas.
PRIMEIRA BRUXA - Gato malhado já miou três vezes.
SEGUNDA BRUXA - Três e mais uma já guinchou o ouriço.
TERCEIRA BRUXA - A harpia já gritou: "É hora! É hora!
PRIMEIRA BRUXA - Atirai no caldeirão entranhas em podridão; Os sapos das pedras frias que durante trinta e um dias suaram seu bom bocado, jogai no pote encantado.
TODAS - Mais dores para a barrela, mais fogo para a panela.
SEGUNDA BRUXA - Lombo de cobra novinha atirai no pote asinha, pé de sapo e lagartixa, de cão a língua que espicha, pêlos brandos de morcego, asa de bufo-sossego, de lagarto a perna fina, acúleo de
colubrina jogai na sopa do mal nesta mistura infernal.
TODAS - Mais dores para a barrela, mais fogo para a panela.
TERCEIRA BRUXA - Três escamas de dragão, com bucho de tubarão que os mareantes intimida; cicuta à noite colhida, bofes de um judeu malvado, ramo de teixo tirado em noite de muito escuro; beiço de
tártaro, o duro nariz de turco, o dedinho de uma criança sem linho que matado a mãe houvesse sem dizer nenhuma prece; Deixai bem forte a mistura; juntai do tigre a fressura, porque nosso caldeirão tenha caldo em profusão.
TODAS - Mais dores para a barrela, mais fogo para a panela.
SEGUNDA BRUXA - Esfriai com sangue de mico que o encanto ficará rico.
(Entra Hécate.)
HÉCATE - Muito bem feito; seu quinhão todas por isto ainda terão; Agora como elfos e fadas cantai à volta, de mãos dadas, para que o encanto se complete.
(Música e a canção "Espíritos negros' etc.)
SEGUNDA BRUXA - Meu dedão está coçando; Vem algum patife andando, Ferrolhos, fora! Estamos na hora.
(Entra Macbeth)
MACBETH - Que fazeis, misteriosas e sombrias bruxas de meia-noite?
TODAS - Algo sem nome.
MACBETH - Conjuro-vos por vosso próprio ofício, seja qual for sua origem: respondei-me; Mesmo que os ventos a soltar viésseis, jogando-os contra as torres das igrejas; mesmo que as ondas escumantes venham a destruir os navios e a tragá-los; ainda que o trigo verde caia todo e as árvores se vejam derrubadas; embora o cimo dos castelos caia na cabeça dos guardas, e as pirâmides e os palácios os picos altanados nivelem com suas bases; muito embora venha a desmoronar todo o tesouro dos germes da natura, de tal modo que a própria destruição se mostre farta: respondei às perguntas que vos faço.
PRIMEIRA BRUXA - Fala.
SEGUNDA BRUXA - Pergunta.
TERCEIRA BRUXA - Vamos responder-te.
PRIMEIRA BRUXA - Que preferes: ouvir de nossas bocas ou da de nossos mestres?
MACBETH - Invocai-os; desejo vê-los
PRIMEIRA BRUXA - Sangue de porca, então, nesse fogo atira, que comesse seus nove filhos, gordura
de uma corda bem segura, de que pendesse, enforcado, um suicida amaldiçoado.
TODAS - Mostra agora que és ousado.
(Trovão; Primeira aparição: uma cabeça, armada de capacete.)
MACBETH - Ouve-me, força ignota...
PRIMEIRA BRUXA - Não prossigas; Sabe o que pensas; Ouve e nada digas.
PRIMEIRA APARIÇAO - Macbeth, Macbeth, Macbeth! Toma cuidado com Macduff, acautela-te com o thane de Fife! Desobriga-me; é o bastante.
(Desce.)
MACBETH - Quem quer que sejas, fico-te obrigado pela boa advertência; Isso concorda com meus receios; Mais uma palavra...
PRIMEIRA BRUXA - Não aceita injunções; Eis que vem outro ainda mais forte que ele.
(Trovões; Segunda aparição: uma criança ensangüentada.)
SEGUNDA APARIÇÃO - Macbeth, Macbeth, Macbeth!
MACBETH - Se três ouvidos tivesse, te ouviria.
SEGUNDA APARIÇAO - Sanguinário sê sempre, ousado e resoluto, e aprende a rir do homem, porque ninguém nascido de mulher poderá, em nenhum tempo, fazer mal a Macbeth.
MACBETH - Então, Macduff, podes viver; Por que de ti recear-me? Contudo, quero a segurança em dobro segurar, e penhor obter do fado; Vivo não ficarás, para que eu possa dizer que mente o medo de alma pálida e, apesar dos trovões, dormir tranquilo.
(Trovão; Terceira aparição: uma criança coroada, com uma árvore na mão.)
Quem é que surge como descendente de um soberano e na infantil cabeça traz o fecho e diadema do comando?
TODAS - Escuta só; não fales.
TERCEIRA APARIÇAO - Veste a força do leão, sê orgulhoso e não te importes com quem quer que resmungue ou se rebele, ou contra ti conspire, pois vencido não há de ser Macbeth, enquanto o grande
bosque de Birnam não subir contra ele ao alto Dunsinane.
(Desce.)
MACBETH - Jamais isso poderá dar-se, pois quem tem poderes para a floresta armar e dizer à árvore que liberte a raiz fixa na terra? Ótimo indício! Belo! Não eleves, rebelião, a cabeça sem que o bosque de Birnam se levante, e assim o nosso grande Macbeth há de chegar ao termo da natureza até ao alento extremo, segundo o mortal uso; Mas agita-me o coração esta fatal pergunta: Dizei-me - se vossa arte chega a tanto - alcançarão um dia os descendentes de Banquo o trono e o cetro deste reino?
TODAS - Não queiras saber mais.
MACBETH - Não; é preciso satisfazer-meSe não me fizerdes esta vontade, apenas, que uma eterna maldição vos destrua; Saber quero; Par que este caldeirão está afundando? E que barulho é esse?
PRIMEIRA BRUXA - Vê!
SEGUNDA BRUXA - Vê!
TERCEIRA BRUXA - Vê!
TODAS - Mostrai-vos como visão, angustiai-lhe o coração, aparecendo qual sombra, para sumir pela alfombra.
(Aparece uma seqüência de oito reis, tendo o último um espelho na mão; segue-o o fantasma de Banquo.)
MACBETH - Pareces muito o espírito de Banquo; Desce! Tua coroa cauteriza-me os olhos; teus cabelos - tu, uma outra fronte de ouro cingida - se parecem com os do primeiro, tal como o terceiro que se lhe segue; Bruxas repugnantes, por que me mostrais isto? Outro! É o quarto! Olhos, estarrecei; Como! esta linha se estenderá até ao fim do mundo? Mais um, ainda? o sétimo? Não quero ver mais nada; porém eis que surge o último com um espelho na mão, que muitos outros, ainda, me revelam; Uns distingo com duplo globo e cetro triplicadoPavorosa visão! Agora vejo que é verdade, pois Banquo, recoberto de sangue, me sorri e mos indica, como se filhos dele fossem todos.
(As visões desaparecem.)
Como! É assim!
PRIMEIRA BRUXA - É assim mesmo, mas por que Macbeth treme do que vê? Manas, ele desvaria; infundamos-lhe alegria, revelando de nossa arte a mais sedutora parte; No ar porei muitos encantos.
enchendo-o de sons e cantos, enquanto vós a rodada deixareis bem acabada, para que este rei potente conosco fique contente.
(Música; As bruxas dançam, desaparecendo depois, com Hécate.)
MACBETH - Onde estão? Já se foram? Que maldita se torne sempre esta hora perniciosa no calendário - Entrai! Quem está aí?
(Entra Lennox.)
LENNOX - Que quer Vossa Grandeza?
MACBETH - Acaso vistes as irmãs feiticeiras?
LENNOX - Não, milorde.
MACBETH - Infectado seja o ar em que cavalgam e maldito quem quer que lhes dê crédito; Há pouco ouvi barulho de cavalo; Chegou alguém?
LENNOX - Sim; dois ou três correios, milorde, que a notícia vos trouxeram de que Macduff fugiu para a Inglaterra.
MACBETH - Para a Inglaterra!
LENNOX - Sim, senhor bondoso.
MACBETH - Ó tempo! antecipaste-te a meus atos assustadores! Nunca alcançaremos a intenção fugitiva,
se com ela não fizemos seguir o ato expedito; Doravante ser-me-ão os primogênitos do coração também os primogênitos do braço; E agora mesmo, porque fiquem coroadas as ações com os pensamentos, em prática ponhamos essa idéia; Vou surpreender o burgo de Macduff, de Fife apoderar-me, sua esposa passar à espada, os filhos e, assim, todas as almas desgraçadas de sua raça; Ameaças não farei qual um demente; dobra-se o ferro enquanto ele está quente; Basta de aparições; É os tais senhores, onde se
encontram? Conduzi-me a eles.
(Saem.)
Fonte: https://williamshakespearewilliam.blogspot.com/2009/05/ato-ivcena-i.html
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