Nessa segunda semana de outubro, em que se comemora o Dia das Crianças, convoco todas e todos a refletir sobre o futuro que queremos construir. Queremos deixar como legado uma sociedade com consciência social, inclusão e respeito à diversidade ou alienada, fanática e excludente? As sementes que estamos plantando hoje serão colhidas, sobretudo, pelas nossas crianças no amanhã.
No cenário da disputa presidencial para o segundo turno, somos instados a nos posicionar sobre temas relacionados à educação sexual, que retornaram a ser utilizados de forma manipulativa e equivocadamente. Nos últimos dias, uma política pública antigênero tem assumido a pauta da campanha presidencial: a oposição à política pública de banheiros unissex nos colégios.
A questão é muito mais complexa do que se querer ou não que sua filha use o mesmo banheiro que um menino. Trata-se de uma demanda de inclusão social: todas as pessoas, independentemente de seu gênero e sexualidade, têm direito de utilizar espaços públicos sem sofrer qualquer tipo de violência ou discriminação.
Ao invés de ser debatido com seriedade, com prognósticos sobre como realizar a inclusão social e prevenir eventuais violências sexuais que possam vir a ser cometidas, o tema é utilizado como um novo instrumento de instauração de pânico moral em nossa sociedade, reproduzindo o cenário da campanha anterior do atual presidente.
Nas eleições de 2018, o tema surgiu sob o manto das fake news sobre o “kit gay”, que, conforme anunciado em rede nacional, consistiria na compra pelo governo do livro “Aparelho Sexual e Cia” como material didático da rede pública de ensino. A desinformação pareceu ser decorrente da contrariedade do então candidato ao “Programa Brasil Sem Homofobia”, que tinha por objetivo promover a inclusão social, com a implementação de ações de respeito às orientações sexuais e identidade de gênero no âmbito escolar.
Debater gênero e sexualidade no ambiente escolar não significa incitar a homossexualidade, tanto porque nós não escolhemos nossa orientação sexual; mas acolher as diferenças, combater à discriminação e respeitar a diversidade, em nítida consonância com o que determina nosso texto constitucional.
O movimento antigênero vem se fortalecendo com a nova onda neoconservadora que dominou a política nos últimos anos, com a propositura de projetos como “Escola Sem Partido” e “Infância Sem Pornografia” (que, apesar do nome, nada tem a ver com a criação de políticas públicas de prevenção ao acesso de materiais pornográficos por crianças). Nesse contexto, os cenários dos dois últimos períodos eleitorais são bastante ilustrativos sobre como a educação sexual tem sido alvo de uma verdadeira caça às bruxas.
Hoje em dia, quando alguém fala sobre educação sexual, o que vem à cabeça das pessoas é que estão querendo falar sobre sexo para as crianças. Imagine: educadores ensinando sobre sexo para seu filho, ainda criança, ou conversando sobre isso com adolescentes. O terror que os conservadores tentam atiçar com o argumento de que se estão querendo ensinar sexo para as crianças, nada tem a ver com as demandas em torno da educação sexual que os setores mais progressistas da sociedade pleiteiam.
Educação sexual não é sobre ensinar sexo para as crianças.
Educação sexual é muito mais sobre conhecimento do próprio corpo, estabelecimentos de limites e combate ao abuso sexual. Uma verdadeira educação sexual deve ser intencional, consciente e sistemática, levando em consideração as diferentes etapas de desenvolvimento dos indivíduos (da infância à fase adulta – sim, adultos também precisam de educação sexual!).
Quando direcionada às crianças, a educação sexual é voltada a ensiná-las a conhecer o seu próprio corpo, distinguir o que são partes íntimas e das partes não íntimas, nomear as partes de seus próprios corpos, sendo uma ferramenta importante no combate ao abuso sexual infantil. Quando direcionada aos adolescentes, a educação sexual tem por objetivo ensinar sobre as funções desempenhadas por seus órgãos sexuais, a prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e à gravidez indesejada.
Aos pais dessas crianças, a educação sexual é de fundamental importância para evitar que se gerem traumas relacionados à sexualidade e a autoestima de seus filhos, ensinando como devem reagir quando veem seus filhos tocando nas partes íntimas e sobre como responder perguntas relacionadas à sexualidade feitas por eles (como a origem dos bebês).
Aos pais de adolescentes, a educação sexual também ocupa um papel importante, ao ensiná-los como abordar esses assuntos em casa, a exemplo de como conversar sobre o consumo de pornografia e as distinções entre sexo abusivo e sexo consentido.
Adultos que tiveram educação sexual sabem diferenciar a uretra do clitóris e da vagina, sabem que o xixi não sai pelo mesmo lugar que a menstruação, que um ciclo menstrual normal não precisa ter 28 dias, que o atraso de mais de 12 horas em ingerir pílula anticoncepcional e episódios de diarreia ou vômitos 3 ou 4 horas após a sua ingestão diminuiu substancialmente a sua eficácia e aumenta o risco de gravidez, que a ereção ocorre por causa da chegada de mais sangue ao pênis e que a próstata é uma zona erógena. Além disso, a educação sexual também auxilia na diminuição de comportamentos agressivos contra as mulheres, ao desconstruir estereótipos de gênero e ensinar sobre autoestima, autonomia e prazer.
Ao se posicionar contrariamente à educação sexual nas escolas e políticas de inclusão sexual de gênero e sexualidade, você está plantando sementes de um futuro de frutos amargos. Defenda nossa juventude, aprenda para ensinar seus filhos, não entre histeria coletiva infundada de que os educadores estão querendo ensinar sexo nos colégios, para que assim você possa desejar realmente uma infância feliz e segura para todas as crianças.
Nesse Dia das Crianças, o melhor presente que você pode dar ao seu filho é se posicionar contra a alienação e defender a educação sexual!
Fonte: https://www.cartacapital.com.br/opiniao/educacao-sexual-nas-escolas-saiba-porque-e-importante/
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