O dileto e eventual leitor deve estar penando que eu
endoidei de vez. Depois de três “biografias” de personalidades que deram sua
contribuição ao Mundo Contemporâneo, o leitor deve querer saber o que tais personalidades
tem a ver com o Paganismo Moderno.
Caro leitor, toda nossa cultura, filosofia, ciência e
tecnologia nasceram e foram desenvolvidas pelos povos antigos, todos
religiosos. O pensamento contemporâneo ocidental é predominantemente formado
pela Filosofia Neoplatônica. Michel Onfray publicou toda uma série de outros
filósofos e pensadores que seriam a “contra história da filosofia” diante da
supremacia do Platonismo no Pensamento Ocidental. Mas essa é uma falsa noção,
visto que Platão deu ensejo à Aristóteles, o principal teórico do método
científico. Sem os trabalhos de Aristóteles, o ateu não teria fundamento ao
discursar sobre razão, lógica, fato e evidência.
Neoplatonismo é o termo que define o conjunto de doutrinas e
escolas de inspiração platônica que se desenvolveram do século III ao século
VI, mais precisamente da fundação da escola alexandrina por Amônio Sacas (232)
ao fechamento da escola de Atenas imposto pelo edito de Justiniano, de 529.
O neoplatonismo é direcionado para os aspectos espirituais e
cosmológicos do pensamento platónico, sintetizando o platonismo com a teologia
egípcia e judaica. No entanto, os neoplatônicos se consideravam simplesmente
platônicos, e a distinção moderna é devido à percepção de que sua filosofia
continha interpretações suficientemente originais a Platão para torná-la
substancialmente diferente do que Platão escreveu .
Pensadores da escola neoplatônica relacionaram seus
pensadores com outras escolas intelectuais. Por exemplo, certas vertentes do
neoplatonismo influenciaram pensadores cristãos (como Agostinho, Boécio, João
Escoto Erígena e Boaventura de Bagnoregio), enquanto o pensamento cristão
influenciou (e às vezes converteu) filósofos neoplatônicos (como Pseudo-Dionísio,
o Areopagita).
Na Idade Média, os argumentos neoplatônicos foram levados a
sério por pensadores islâmicos e judeus medievais, como al-Farabi e Moisés
Maimônides,[8] e despertou interesse novamente no Renascimento, com a aquisição
da tradução dos textos neoplatônicos em grego e árabe.
O neoplatonismo nasceu em um momento histórico particular,
quando o homem, impulsionado por uma crise interna profunda, sentiu
intensamente a transitoriedade da realidade sensível. Os primeiros
neoplatônicos foram Plutarco, Maximus, Enesidemo e Numênio Apameu, que teriam
vivido no segundo século da era cristã e influenciado Plotino, o sistematizador
do neoplatonismo. Segundo Numênio, havia três deuses, o Pai, o Construtor
(Demiurgo) e o Mundo. Amônio Sacas, de Alexandria, é visto como o fundador da
escola neoplatônica .
O termo "neoplatonismo" é uma construção moderna.
Plotino, que é muitas vezes considerado o "fundador do
neoplatonismo", não teria se considerado um "neoplatônico", em
qualquer sentido, mas simplesmente um expositor das doutrinas de Platão. Este
fato o ter obrigado a formular um sistema filosófico inteiramente novo não
teria sido visto por ele como um problema, pois era, a seus olhos, justamente o
que a doutrina platônica precisava. Em certo sentido, isso é verdade, pois
desde o Antigo Academy encontramos sucessores de Platão lutando com a
interpretação adequada de seu pensamento e chegando a conclusões muito
diferentes. Além disso, na época helenística, certas idéias platônicas foram
retomadas por pensadores de diferentes lealdades - judaicas, gnósticas, cristãs
- e trabalharam em novas formas de expressão que variavam bastante do que
Platão realmente escreveu em seus Diálogos. [Wikipédia]
Isto é algo que é ocultado tanto pela Igreja quanto pela
Academia: tanto nosso pensamento religioso quanto nosso pensamento científico
devem muito ao Neoplatonismo. O Neoplatonismo carregou em si as ideias
sustentadas por Aristóteles, Pitágoras e outros tantos pensadores,
pesquisadores e cientistas. O Neoplatonismo parece um Frankenstein e,
dependendo de quem está dissecando ou costurando esse corpo, algumas partes são
boas e outras podem ser descartadas. Para a Igreja incomoda a ligação do
Neoplatonismo com o Gnosticismo e o Politeísmo, para a Academia incomoda a
ligação do Neoplatonismo com o Hermetismo e o Ocultismo. Para a Igreja o
Neoplatonismo foi útil por sua noção de Logos. Para a Academia o Neoplatonismo
foi útil por sua noção de Alquimia.
Filosofia grega antiga e gnosticismo
As primeiras origens do gnosticismo são obscuras e ainda
contestadas. Por esta razão, alguns estudiosos preferem falar de
"gnosis" ao se referir às ideias do século I que mais tarde evoluíram
para o gnosticismo e reservar o termo "gnosticismo" para a síntese
dessas ideias em um movimento coerente, no século II . Influências prováveis
incluem Platão, o Médio platonismo e as escolas ou academias de pensamento
neopitagóricas e isto parece ser verdade em ambos os gnósticos do setianismo e
os do valentianismo. Além disso, se compararmos diferentes textos setianistas
uns aos outros em uma tentativa de criar uma cronologia do desenvolvimento do
Setianismo durante os primeiros séculos, parece que os textos posteriores
continuam a interagir com o platonismo. Textos anteriores, como o Apocalipse de
Adão mostram sinais de ser pré-cristão e se concentram em Sete, o terceiro
filho de Adão e Eva. Estes primeiros setianistas podem ser idênticos ou
relacionados com a Nazarenos, Ofitas ou aos grupos sectários chamados de
herético por Fílon de Alexandria.
Textos setianos tardios como Zostrianos e Alógenes criam
sobre as imagens de textos setianos mais antigos mas utilizam "um grande
fundo de conceituação filosófica derivada do platonismo contemporânea, (médio
platonismo tardio) com vestígios de conteúdo cristão ". Na verdade, a
doutrina do "um único formado por três" (a trindade) é encontrada no
texto de Alógenes, como descoberto na Biblioteca de Nag Hammadi e é "a
mesma doutrina encontrada nos comentários anônimos em Parmênides (Fragmento
XIV) que são atribuídos por Hadot a Porfírio e também, a encontramos na Enéadas
de Plotino 6.7, 17, 13-26."
No entanto, os neoplatônicos do século III, como Plotino,
Porfírio e Amélio da Toscana atacam os Setianistas. Parece que o Setianismo
começou como uma tradição pré-cristã, possivelmente sincrética que incorporou
elementos do platonismo e do cristianismo à medida que crescia, apenas para que
ambos o cristianismo e o platonismo os rejeitassem se voltassem contra eles. O
Prof. John Turner acredita que este duplo ataque levou à fragmentação do
Setianismo em numerosos grupos menores como Arcônticos, Audianos, Borboritas,
Fibionitas, Estratiônicos e outros.
O estudo sobre o gnosticismo tem avançado muito desde a
descoberta e a tradução dos textos de Nag Hammadi que lançam alguma luz sobre
alguns dos comentários mais intrigantes feitos por Plotino e Porfírio sobre os
gnósticos. Mais importante ainda, as versões ajudam a distinguir os diferentes
tipos dos primeiros gnósticos. Parece claro que os gnósticos setianistas e
valentinianos tentaram "se esforçar para uma conciliação e mesmo
afiliação" com filosofia antiga final, mas foram rejeitados por alguns neoplatônicos,
incluindo Plotino.
Relações filosóficas entre o neoplatonismo e o gnosticismo
Os gnósticos emprestaram várias déias e termos do
platonismo, eles exibem uma profunda compreensão dos termos filosóficos gregos
e do idioma grego koiné em geral; utilizam conceitos filosóficos gregos em todo
o seu texto, incluindo conceitos como hipóstase (a realidade, a existência),
ousia (essência, substância, ser), e demiurgo (Deus criador). Bons exemplos
incluem textos como a Hipóstase dos Arcontes ("Realidade dos Governantes")
ou Protenoia Trimórfica ("O primeiro pensamento em três formas").
Porfírio em A vida de Plotino estabelece uma diferença entre
os genuínos seguidores de Cristo e um outro grupo de mesclava a filosofia
(gnosis) com elementos cristãos e Plotino é antagônico a esta situação ao dizer
"Eles (gnósticos) tiraram algumas ideias de Platão, mas todas as novidades
que acrescentaram para criar uma filosofia original, são fora da
verdade", no mesmo tratado, Plotino critica o elitismo ao dizer que
os gnósticos "visam à formação de uma doutrina especial", Plotino
repreende os gnósticos por desfigurarem a filosofia de Platão e apesar de
sempre sereno em suas exposições fala de modo áspero: "Quando esses
gnósticos afirmam que desprezam a beleza terrena, fariam melhor se desprezassem
a dos meninos e das mulheres, para não sucumbirem à incontinência". É
preciso observar que se os gnósticos, sem exceção tivessem sido libertinos,
Plotino nunca os teria admitido, já que levava uma vida de virtudes.
Outro epíteto dado por Plotino aos gnósticos é o de
charlatães ao "se vangloriaram em poder expulsar doenças com
fórmulas" e ainda segundo Plotino, que as doenças eram consideradas seres
(ou obras) de entidades demoníacas pelo gnósticos de sua época, "Só a
plebe ignara se deixa iludir(...) as doenças não são algo demoníaco.".
Plotino assevera que a moral dos gnósticos é inferior à de Epicuro o qual
"aconselha procurar a satisfação no prazar" e ainda adverte que a
doutrina é temerária porque ridiculariza a virtude e só pensa em interesses
próprios. Para chegar a essas acusações graves, com certeza Plotino levou algum
tempo, ao chegar em Roma, ele encontrou entre seus ouvintes sectários do
gnosticismo com os quais discutia seus pontos de vista.[Wikipédia]
Não se sabe exatamente quem deu origem a quem, ou quem
influenciou quem, mas o conhecimento deixado por estes pensadores e filósofos
antigos chegou até nós embora disfarçado nos textos Herméticos, Esotéricos e
Ocultistas. Em pleno início da Idade moderna, enquanto começava a Renascença,
estas mesmas ideias eram tranquilamente discutidas na Academia, transitando como
o conhecimento científico conhecido por Alquimia. Bem debaixo das franjas da
Igreja, padres e nobres clandestinamente estudavam e praticavam a magia que
estava contida nos famigerados grimórios. Este cenário deu forma e estrutura ao
Movimento Romântico do século XVIII, bem como a incontáveis ordens e sociedades
secretas. Foram estes magos, poetas, escritores e diletantes que foram os
percursores disto que se tornou o Paganismo Moderno.
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