No Patheos, na seção de Paganismo, o texto de Megan na
coluna “Pagan Tama” intitulado “A árvore caída na floresta foi ouvida”
reascende uma conversa parecida que eu tive com Mauro Bartolomeu sobre o que eu
vou chamar de “Paradoxo da árvore de Berkeley”.
George Berkeley propõe o seguinte exercício de pensamento: “Se
uma árvore cai numa floresta, mas não há ninguém por perto, ela faz barulho?”
Parece uma questão simples, mas não é, a filosofia
praticamente pode ser dividida em duas escolas: uma diz que a realidade existe
por si mesma e a outra diz que o conceito de realidade depende da apreensão pelos
sentidos.
Megan faz, mais ou menos, a mesma analogia que eu fiz com o
Mauro, mas os cientistas não “ouviram” as ondas gravitacionais, visto que o som
não se propaga no vácuo, mas as ondas foram detectadas, melhor dizendo, foram
percebidas graças a um aparelho. Relembrando minha conversa com Mauro, a
questão então é realidade ou sensação, o que define que algo existe?
O paradoxo pode ser dividido em duas partes: o evento e o
observador. O evento acontece e é percebido pelo observador que, então, dá um
sentido e significado ao evento. Dependendo da cultura, do conhecimento, da
época e da sociedade em que o observador vive, esta interpretação terá diversas
variações emocionais [para não usar a palavra sensitiva ou sensorial, o que
tiraria o sentido do meu raciocínio]. Uma provocação mais que suficientemente
para crentes e descrentes: a existência de algo [ou alguém] independe de um
observador.
Ainda que não haja um observador, um evento deixa pistas e
sinais que podem ser coletados, medidos e quantificados por um observador
posteriormente. Nisto consiste o paradoxo de Berkeley: o observador precisa ter
certas condições para poder perceber, ainda que posteriormente, o evento. O que
nos conduz ao paradoxo da cor vermelha ao cego. Nós podemos alterar a realidade
e pensar em como o aborígene brasileiro percebeu e entendeu a chegada dos
navios portugueses.
Por isso que a discussão ainda está longe de ser resolvida:
o fato existe de forma independente do observador, mas a existência do fato
será variável conforme a percepção, sensação, interpretação e significado que o
observador faz dele.
Voltando para a descoberta das ondas gravitacionais, esta
descoberta ainda está em disputa, bem como seus desdobramentos e
possibilidades. No entanto a explicação científica não esgota a questão, afinal
tudo em nosso universo é feito de elementos, que ora são partículas, ora são
energias, que sequer podem ser considerados reais, no sentido físico. Mesmo a
ciência contêm diversas teorias que não possuem comprovação e evidências,
inclusive algumas teorias se aproximam do esoterismo e apontam para uma
realidade holística, multidimensional.
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