Que o Paganismo Moderno e a Bruxaria e a Wicca são compostos
por inúmeros grupos, ideias e vertentes, não é novidade. Que a ausência de
autoridade central e liberdade nos dá a todos a competência para discutir,
discordar e criticar, mesmo altos sacerdotes e altas sacerdotisas, também não é
novidade.
Por sermos tão diversos e divergentes, frequentemente nossas
ideias e concepções se chocam. Sacerdotes e sacerdotisas pisam na jaca, autores
escrevem besteira, celebridades falam abobrinhas. Apenas pessoas inseguras ou incapacitadas
se sentem ofendidas ou consideram sua crença ameaçada pela crítica.
O dileto e eventual leitor sabe das minhas agruras em
defender os princípios e valores da Wicca Tradicional diante do esquisoterismo,
da neo-wicca comercial, da pop-wicca difundida entre adolescentes.
Quando falamos em Bruxaria e Wicca, falamos de um grupo
dentro do Paganismo Moderno. Para fins de elucidação, meu foco é a Tradição, da
Bruxaria e da Wicca, o que deixa de fora muitos grupos, vertentes e práticas.
Mas se você segue ou tem apreço por estas vertentes e práticas. Não se sinta
ofendido, eu não estou discutindo nem negando a autenticidade ou legitimidade
de suas práticas, crenças e teologia. Lembre-se que a característica do
Paganismo Moderno é a diversidade. Meu foco é simplesmente falar o óbvio, que existem
princípios, valores e características intrínsecas a cada vertente. Se isto te
ofende ou ameaça sua crença, sinto muito, mas há de considerar que há algo de
errado em sua opinião ou interpretação disto que você diz acreditar.
Um dos assuntos que mais suscita discussão no meio pagão é a
questão do gênero, da sexualidade, da opção sexual. Quando isto envolve
questões como o Hiero Gamos, o Grande Ritual e magia sexual a coisa fica mais
complicada. Sobretudo quando falamos de grupos ligados ao dianismo radical [exclusivamente
para mulheres nascidas mulheres] ou ligados aos direitos LGBT.
Confunde-se muito gênero sexual e papéis sexuais. Nosso
gênero e opção sexual é resultado de diversos fatores, genéticos, fenótipos,
ambientais, sociais. Mas nada disso tem a ver com a Wicca. Como religião, esta
tem princípios e valores que não precisam nem devem atender, seja questões politicas, seja questões dos direitos
LGBT. A Wicca é uma religião sacerdotal iniciática de mistérios, não há espaço
para o Politicamente Correto.
Causa escândalo e protesto por parte de pessoas que se
sentem excluídas simplesmente quando afirmamos que adoramos um Deus e uma Deusa,
senão diversos Deuses, cada qual com seu gênero e sexualidade, incluindo
divindades hermafroditas, transgêneros e transgressoras. Causa escândalo e
protesto por parte de pessoas ainda envolvidas com o puritanismo cristão
simplesmente quando falamos que o Grande Rito é uma união sexual entre o Alto
Sacerdote e a Alta Sacerdotisa. Causa escândalo e protesto por parte de pessoas
que se sentem prejudicadas simplesmente quando afirmamos que, embora a Wicca
tenha 50 anos, suas raízes, seus mitos e mistérios pertencem à aurora da
humanidade.
Outras formas de Paganismo Moderno, de Culto de Bruxas,
surgiram ao longo dos anos, utilizando elementos dos rituais wiccanos, são
chamados de vertentes wiccanas, tradições e covens utilizam a Wicca como um
rótulo. Respire bem fundo por que eu vou falar do óbvio: nem tudo que leva o
rótulo de Wicca pode ser chamado assim. Infelizmente agora é um rótulo e seu
uso indiscriminado conduz o público achar que a Wicca é “uma filosofia de vida”
ou que é um “vale-tudo”.
O irmão pagão homossexual deve se perguntar: mas fulano de
tal disse... Eu não tenho problema algum com outras formas de crenças pagãs,
outras formas de rituais. Da mesma forma como eu não sinto minha masculinidade
ameaçada por existirem homossexuais, eu não sinto minha crença ameaçada por
cultos homoeróticos ou pelas religiões da Deusa. Eu apenas quero garantir que a
diversidade seja mantida, sem supremacia de nenhuma tradição, sem excluir
qualquer opção sexual.
Dizem que a Wicca deve ser inclusiva. Quem exige isso,
quando uma sacerdotisa diânica discriminou transgêneros? Não era para sermos
inclusivos? Por que tanta exigência para que a Wicca reconheça outras formas de
gênero e sexualidade, se existe espaço para todos? Por que tanta insistência em
criticar a heteronormatividade ou heterocentricidade da Wicca se existe tantos
caminhos pagãos que adotam os mitos e ritos homoeróticos?
Dizem que uma tradição deve evoluir. Tradição não é um
organismo vivo. Não podemos confundir costume com tradição. Costumes mudam, não
uma tradição. Dizem que uma religião tem que progredir. Religião não é nem tecnologia,
nem ciência, mas a busca pelo eterno, pelo divino.
Dentro do círculo, diante dos Guardiões, diante de nossos
ancestrais, os ritos devem ser executados da forma apropriada. A única
exclusividade na Wicca Tradicional é que o interessado deve passar pelo
treinamento e iniciação formais, independentemente de seu gênero e opção
sexual. A Wicca Tradicional não segrega nem exclui o homossexual, apenas não há
espaço para ritos homoeróticos dentro do círculo. Se vê algum mal, a vergonha é
problema seu.
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