“Humanos, por razões evolutivas, temos verdadeira alergia ao fortuito. Não foi por outro motivo que inventamos tantos panteões de deuses” – Hélio Schwartsman.
“Humanos, por razões evolutivas, por ter aversão ao fortuito, também inventaram as diversas ciências” – Profeta do Profano.
“No mundo de Leucipo, há apenas átomos, vazios e movimentos efetuados pelos primeiros no segundo.
Esses átomos organizam-se e produzem simulacros. Eles existem em número ilimitado e, em associações relativas a sua forma, sua ordem e disposição, constituem a matéria e a substância de toda realidade, sem exceção”.
A questão permanece. Se a “matéria”, a “realidade”, é um “simulacro”, como decidimos o que é real, concreto, material e não imagem, ilusão?
Esses simulacros “são compostos de películas imperceptíveis que emanam dos objetos e penetram no corpo por seus orifícios. os átomos em suspensão no ar entram no interior do corpo pelo nariz, pelos olhos, pelos poros ou pelas orelhas. Os cheiros, os sabores as imagens, as impressões táteis, os sons são percepções que atraem essas estruturas em movimento no ar e seu trajeto do objeto e direção ao sujeito”. - Michel Onfray, Contra História da Filosofia, Volume I - As Sabedorias Antigas, pg. 42 – 43.
Tudo é átomo, inclusive o ar, então como os simulacros podem se movimentar sem resistência? Tudo é átomo, inclusive o corpo, o nariz, os olhos, os poros, as orelhas, que também são estruturas de simulacros construídas por átomos. O “corpo” não é um corpo. Tudo é átomo, inclusive a percepção? Tudo é átomo, inclusive o sujeito? Onde ficam os átomos ou o simulacro da percepção, do sujeito? A “percepção” não é uma percepção, o “sujeito” não é um sujeito.
E se nosso modelo de interpretação de nossas percepções não for suficiente para englobar todos os simulacros construídos pelos átomos? Não estaríamos limitando todo um Universo para nossa conveniência? E se os átomos também forem simulacros de partículas, energias e ondas que não tem existência física? Não estaríamos limitando toda uma Existência para nossa conveniência?
Eu sempre achei curioso como alguém define a realidade, geralmente dentro de um conceito arbitrário escolhido, um padrão, fora do qual todo aquilo que não se adequa é descartado.
O descrente fica ofendido quando vê que “ateísmo” é listado como uma religião. O caro dileto e eventual leitor irá ser condescendente comigo enquanto eu explico e analiso a verdade dessa acepção.
Antes de qualquer coisa, eu devo lembrar que religião não é simplesmente acreditar em Deus[es], eis o Budismo que exemplifica bem a questão. Religião é a crença de que um modelo, um padrão, um conhecimento, contém a verdade. A contestação ou crítica ao modelo, ao padrão, ao conhecimento é uma ofensa à verdade “anunciada”.
Diz o descrente: Para existir, para que se conclua pela existência, é preciso evidências. Quase sinto pena do descrente, pois ele concede à evidência uma qualidade transcendental. Algo só existe quando a evidência assim demonstra. A evidência está além do objeto, fato ou circunstância que ela supostamente representa.
Entretanto, o que são as evidencias, provas ou experiências nas quais a Ciência se escora para fazer suas afirmações? Primeiramente é necessário estabelecer um objeto de estudo, uma metodologia, uma coleta de material e trabalho de campo. Todos os itens são catalogados, separados e discriminados em suas características. A isto se chama amostragem, geralmente muito pequena se considerarmos o conjunto total. Esta amostragem é medida, pesada, dissecada para então ser colocada dentro de uma característica de conveniência. Então, cada evidencia até então apenas demonstra a existência da mesma dentro de um conjunto de realidade. O próximo passo é o de tentar comparar entre as amostragens e ver alguma similaridade, algum padrão entre as amostras ou resultados nos exames para, através de fórmulas e estatísticas, se definir o que se chama de leis da Ciência.
Qual é a "realidade" dos ateus? - A inexistência de Deus.
O Paraíso, para o ateu, é esta ilusão de ser mais racional, inteligente, lógico do que outras pessoas, simplesmente pelo fato de se dizer ateu.
O descrente, quando acuado em seus próprios argumentos, ou tropeçado nos exemplos que este mesmo usa para suas analogias, entra no mesmo raciocínio circular muito comum de se encontrar entre evangélicos.
O que se pode aprender ao percebermos a ciência como parte do contexto histórico é que mesmo ela é produto de uma concepção, de um padrão, de uma norma, de uma visão de mundo.
A maior dificuldade ao conceituar e ver quem são os Deuses e Deusas está em nossa percepção, que é finita e imprecisa, nós tendemos a ver a aparência/embalagem e não procuramos ver o conteúdo/essência.
Deus [ou pelo menos aqueles que sejam dignos deste título] não promete um mundo confortável e agradável, aprazível unicamente às necessidades humanas. Isto é aquilo que apenas "amigos imaginários" fazem. Discutir ou definir a existência de Deus nestes termos é incoerente, ilógico, irracional e um completo absurdo.
Há que se explicar muitas coisas quando se fala em Paganismo. Espera-se muitas coisas de nossos Deuses que Eles nunca, ao contrário do Deus Cristão, prometeram. Há que se ler na história, de forma séria e honesta, o que os Deuses Antigos nos davam, o que Eles esperavam de nós e o que nossos antepassados fizeram por Eles.
Uma coisa é certa: os Deuses Antigos nunca prometeram aos seus adoradores uma falsa paz, um falso amor, uma falsa salvação, uma falsa redenção. Eles nunca prometeram que a vida seria mais fácil ou mais branda se nós os adorássemos. Eles nunca nos condenaram nem nos julgaram por nossas falhas, jamais agiram como padrastos que apenas acusa a paternidade quando convém ou quando há uma obediência cega.
O que o ser humano (crente ou descrente) deveria perceber é que os mitos e das religiões não são (ou não deveriam ser) as donas da Verdade, mesmo porque a Verdade é dona de si mesma. Os mitos e as religiões são sistemas, como a Ciência, que aponta os indícios através dos quais se pode ter um vislumbre da Verdade.
A mitologia e a mitografia migrou do imaginário popular para a nobreza e para o clero, de onde vem a concepção moderna estereotipada da imagem do unicórnio. Sua origem e existência há muito foi integrada no imaginário, perdendo sua referência com a biologia das espécies e no mundo asséptico, estéril e mecanicista do ateu, qualquer coisa que não se encaixe ou não passe pelo escrutínio da ciência, o unicórnio é relegado a uma figura fantástica, impossível e improvável de existir, mera superstição e crendice, que deve ser expurgada. Impossível calcular a perda cultural que a humanidade teria se por acaso essa convicção se tornasse uma verdade absoluta e inquestionável.
No fundo, o transeunte apenas busca as mesmas coisas que nós. Quer respostas, quer conforto, quer segurança, quer ter uma ideia do que pode vir a seguir, quer ter a ilusão de que "sabe" de tudo e que tudo está sob seu controle.
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