Karl Popper foi um teórico do conhecimento e um teórico da física quântica. Em seu livro “O Mundo de Parmênides”, Karl Popper nos brinda com uma profunda reflexão sobre a verdade objetiva e o conhecimento. A base de sua reflexão provém do poema de Parmênides “Da Natureza”, onde um filósofo pré-socrático apresenta sua cosmogonia como uma revelação de uma Deusa.
Aqui eu faço um parêntese com o livro “Contra história da Filosofia”, de Michel Onfray, onde o autor fala de outros filósofos pré-socráticos que foram “excluídos” da história da filosofia, evidentemente como um preâmbulo para as preferências de Michel Onfray. Ele não deve ter lido os originais ou não deve ter considerado o contexto destes pensadores antigos. Antes de qualquer evidencia, prova ou teoria, pensadores gregos apregoavam um materialismo e um atomismo, quase um prenúncio do niilismo de Nietsche. Quanto ao cacoete descrente de Michel Onfray, eu fiz minhas considerações anteriormente. Neste texto eu irei explorar o conceito de Karl Popper sobre o ser, o não-ser, verdade objetiva e a verdade conjectural.
Quando falamos de conhecimento, devemos nos referir ao conhecer, ou melhor, no latim, co-gnos-cere. No cerne do conhecimento encontramos a palavra grega gnose, algo que descrentes devem descartar como misticismo e superstição. Gnosis, episteme, aletheia, sophia, são todas palavras que tem em comum o saber e a verdade. Apenas podemos saber de algo quando aquilo que sabemos se aproxima da verdade. Esta é a verdade objetiva, que eu contrastaria da verdade conjectural.
Esta é a Via Dupla de Parmênides. A verdade objetiva é referente ao objeto, a verdade conjectural é referente ao aporte sensorial do observador. Popper chama a filosofia de Parmênides como sendo crítica ao sensualismo. A filosofia de Parmênides consiste na crítica ao ponto de vista que o conhecimento provém daquilo que se percebeu pelos sentidos, então cabe dizermos sentimentalismo, sensorialismo.
Então qual seria a fonte do conhecimento para se chegar próximo da verdade? Para desespero dos descrentes, Parmênides recorre à revelação da Deusa. Afinal, Parmênides diferencia o ser do não-ser, apenas podemos saber [conhecer] algo que é, o ser; o não-ser não pode ser conhecido porque não é real, mas uma ilusão. O conhecimento conjectural é o conhecimento oriundo dos sentidos, portanto, subjetivo, uma percepção aparente do real, pode até se aproximar da verdade, ser provável, plausível, semelhante, mas não é a verdade. A verdade, o objeto, a coisa em si, apenas pode ser conhecida pela razão. Mas onde fica a razão, se devemos descartar os organismos e os sentidos advindos destes? Onde fica a mente, o pensamento, o raciocínio, se nós temos que descartar o cérebro, visto que como órgão sensorial é sujeito ao engano da ilusão? Eis que aqui eu identifico a Deusa da revelação, não Diké, mas Maya. O ser, imutável, imóvel, que abarca o todo, do qual nós não podemos escapar, onde tudo é uma ilusão, inclusive a noção de tempo, espaço e movimento.
Para deixarmos a matrix, devemos superar a ilusão dos sentidos e as conjecturas que formulamos a partir deles. Ao estabelecermos a evidencia como sendo a verdade objetiva, estabelecemos um padrão, que é uma conjectura e, portanto, uma ilusão. Ao estabelecermos o resultado como sendo uma forma de estabelecer se um método é confiável, estabelecemos um padrão, que é uma conjectura e, portanto, uma ilusão. O real não pode ser definido a partir daquilo que tem evidência de existência, o real não pode ser compreendido a partir de mecanismos eficientes e eficazes. Nossas construções, a despeito de serem confiantes, eficazes, eficientes e práticas, são parte desse mesmo mundo de conjecturas, de ilusão, que apenas funcionam porque simulam ou reproduzem as forças e as leis da verdade objetiva, a natureza, a Deusa, Maya, imanente e transcendente.
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