terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Bendito Fruto

Ao passear pela internet, pesquisando imagens e textos, eu encontrei o site Morte Súbita. Ali eu acessei a coluna Paganismo e encontrei uma série de artigos que eu irei chamar candidamente de metafísica mamífera.

Eu selecionei quatro textos para escrever um texto inspirado sobre a Deusa que, como o Deus Cristão, está muito mal representada, pelas religiões da Deusa e pelos Diânicos. Nada pode ser mais sacrílego, blasfemo e herético do que negar a sexualidade e a sensualidade da Deusa, mas é isto o que muitos pagãos modernos fazem ao negar ou omitir o Deus, descrevendo a Deusa como se fosse uma Santa Ameba. Nada pode ser mais contraditório do que um sacerdote querer incorporar a Deusa por ainda não ter resolvido suas questões de identidade, opção e preferência sexual. Nada pode ser mais repugnante do que um sacerdote que nega não apenas sua natureza, mas distorce e deturpa a identidade do Deus.

Quando falamos do aspecto divino feminino, conhecido como Deusa, para a mente ocidental, dominada por uma cultura niilista e uma moral judaico-cristã, soa como uma concepção absurda.

Nos primórdios da humanidade, a coisa era bem diferente. A presença maciça de uma Deusa Mãe se estende por todo esse mundo, que é chamado de Gaia não por mera coincidência. O caro dileto e eventual leitor deve se perguntar onde Deus ficava nesse mundo matrilinear e matriarcal. Bom, se você chegou agora e ainda não leu meus outros textos, o Deus está bem presente, como o Guardião do Mistério e Condutor dos Peregrinos, desde pinturas rupestres em cavernas até estátuas em templos.

Mas há uma grande diferença em como nossos ancestrais imaginavam e cantavam a Deusa e em como muitos pagãos modernos, especialmente os que seguem alguma “religião da Deusa” ou alguma forma de Dianismo, imaginam e cantam a Deusa.

Lendo os textos de farsantes e vigaristas travestidos de sacerdotes da Deusa, os atributos que mais percebemos sobre Ela são a compaixão, a misericórdia, a piedade, a caridade... igualzinho aos textos evangélicos sobre o Deus Cristão. Sem dúvida estes são atributos da Deusa, mas são tão... idealizados, mentais, transcendentes, que fica difícil de imaginar que Ela é imanente, carnal, mundana e se manifeste na natureza. Como fica a Deusa em seu aspecto sexual, sensual, feminino, erótico, nesse idealismo... apolíneo?

A Deusa em seu ato mais sagrado e divino chega a ser um desafio e uma afronta ao feminismo histérico e misândrico. A Deusa é a plenitude do feminino, da sensualidade, da sexualidade, do erotismo, do sexo. Ela quer um Deus, Ela quer um Consorte. Ela quer ser beijada, acariciada, beijada. Ela quer ser penetrada. Ela quer oferecer este mesmo desejo, prazer, gozo e êxtase a todos os seus filhos e filhas. Por isso dizemos em nossas celebrações: “Todos os atos de amor e prazer são meus rituais”.

Então os símbolos da Deusa são: a) o triângulo com um vértice para baixo, simbolizando a pélvis e a vagina; b) seios desnudos, fartos, redondos.

Se um recém nascido pudesse falar, a deusa seria a maneira como ele descreveria o seio que o amamenta - se esse seio pudesse falar. De acordo com essa lógica, a imagem da Grande Deusa Mãe seria a extensão no espaço-tempo dos próprios seios”. [Morte Súbita]

Seus seios, por exemplo, eram o motivo pelo qual os Bailônios a chamavam de 'A Mãe dos Seios Frutíferos', aquela cujos seios nunca falhavam, nunca secavam - ocasionalmente eles eram simplificados a aros ou espirais estilizadas, mas geralmente eram expressos com todo seu potencial erótico e, de forma mais impressionante, eram expressos multiplicados para lhes dar mais ênfase”. [Wolfgang Lederer, citado pelo Morte Súbita]

A Deusa que descrevemos não é uma mera mãe humana, dando leite humano para a criança que nasceu de sua própria carne e sangue, nem simplesmente uma mera mãe divina, carregando uma criança humana ou divina: pois de seus mamilos pode sair não leite, mas mel - como na Palestina que, em seu nome, era conhecida como a terra do leite e do mel, ou Delfos, onde suas sacerdotizas eram chamadas Melissai, que significa "abelhas", e seu templo era construído de forma a se assemelhar a uma colmeia. Ela não só é mãe de todo tipo de animais, mas também alimenta a todos, dando a cada um o que é necessário e, sendo a "Alma Mater" que é, ela pode - maravilha das maravilhas - alimentar também homens barbados, estudiosos, lhes dando sabedoria. Resumidamente ela é a fonte de todo tipo de alimento, material ou espiritual”. [Morte Súbita]

Não é de se admirar que ela tenha tanto orgulho de seus seios. E, por causa disso, ela os segura, de forma bem natural, seja para exibi-los, seja para oferecer de forma mais conveniente sua plenitude". [Wolfgang Lederer, citado pelo Morte Súbita]

Estátuas da Deusa, segurando os peitos como se os oferecesse, foram encontradas por toda a Europa e Ásia pré-históricas”. [Morte Súbita]

Quando o antropólogo Weston La Barre diz que "mães criam magos; pais deuses", ele está afirmando que o transe mágico ou xamânico é uma volta ao êxtase no peito da mãe que nutre a todos, enquanto a religião é uma propensão anal de um deus temível que é uma versão aumentada do pai punitivo”. [Morte Súbita]

Várias tradições explicitamente sexuais que surgiram no fim do século XIX e início do século XX se tornaram púdicas e simbólicas. Mas a Grande Mãe persiste, com seus seios à mostra, para aqueles que sabem enxergá-los”. [Morte Súbita]

O que há de mais perturbador, proibido, vergonhoso, escandaloso, para uma sociedade doentia, dominada pela pulsão de morte e pelos recalques oriundos da religiosidade judaico-cristã do que a nudez feminina? O ocidente se julga tão superior ao oriente, tão mais liberal do que os países muçulmanos, mas o sexismo, a misoginia, o patriarcado, a coisificação da mulher, a vulgarização do sexo, a demonização do corpo/desejo/prazer, os tabus/regras/proibições quanto a sexo e relacionamento mostram que não estamos melhores, apenas mais hipócritas. A nudez feminina é permitida apenas como entretenimento do macho, como cabide de produto, como justificativa da supremacia masculina. Quando uma mulher mostra o seio, não se verá a pessoa, suas qualidades, sua humanidade, verá apenas a carne feita para usufruto do macho, desprovida de seu sentido sagrado, religioso ou divino. O que não significa que devemos nos tornar feministas celibatários misândricos, mas que a mulher pode e deve definir como ela quer se relacionar e ter sexo. Para isso, a mulher deve perceber que é uma manifestação da Deusa, aceitar sua sensualidade, sua sexualidade, sua sedução, seu erotismo, seu corpo, seu desejo, seu prazer e procurar vivenciá-lo plenamente, com o Deus, com o homem, além de quaisquer regras, tabus e proibições sociais.

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