Nós dizemos em nossos rituais a Carga da Deusa.
A versão mais conhecida diz em um trecho: “Cante, festeje, dance, faça música e amor, todos em minha presença, pois meu é o êxtase do espírito e minha também é a alegria sobre a terra”.
Há outro trecho onde se diz: “Pois meu é o êxtase do espírito e minha é a alegria do mundo; pois a minha lei é o amor para todos os seres”.
Em uma versão mais antiga há um trecho que diz: “Há uma porta secreta que eu fiz para estabelecer o caminho para experimentar mesmo na terra o elixir da imortalidade. Digam, ‘seja meu o êxtase e alegria na terra’”.
A maioria de nós nasceu em uma cultura que ficou soterrada pelo recalque, pela opressão e repressão ao corpo, ao desejo, ao prazer, ao amor e ao sexo, fruto da crença judaico-cristã. A postura do Paganismo Moderno é bem revolucionária em relação à maioria das religiões majoritárias ao colocar o corpo, o mundo, o desejo, o prazer, o sexo e o amor como parte do caminho e busca espirituais.
Em sua estrutura ritualística, a Wicca Tradicional celebra a fertilidade com o Grande Rito, não há como vivenciar e entender o mistério de nossa religião sem que o sacerdote incorpore o Deus e sem que a sacerdotisa incorpore a Deusa e realizem o Hiero Gamos. Esta liturgia ainda sobrevive em covens mais tradicionais, mas foi perdido com a popularização da Wicca e com a chegada da neowicca. Hoje em dia se fala com naturalidade no rito simbólico e em auto iniciação, abriu-se mão de diversos princípios tradicionais para se conseguir maior aceitação do público.
A história antiga mostra que nossos ancestrais sabiam como celebrar. Antigamente os festivais religiosos eram eventos populares, havia música, dança, canto, a multidão tinha alegria e êxtase nesses atos voluntários de adoração aos Deuses. Quanta coisa nós perdemos quando concedemos poder a uma instituição religiosa, quanto nós perdemos ao conceder uma autoridade a uma religião oficial. Tudo que se ouve nas igrejas é lamúria, choro, remorso, arrependimento, sofrimento, dor.
Em pleno mundo contemporâneo não vemos muitas demonstrações públicas de canto, dança, música, júbilo, alegria e êxtase. A Sociedade, o Estado e a Igreja nos permitem apenas o Carnaval, festas juninas, natal. Imaginar uma cidade inteira em festa por meses em louvor a um Deus ou uma Deusa é impensável, mesmo para as religiões oficiais. O que vemos nas mídias, em termos de entretenimento e notícia, é violência, tragédia, sofrimento, dor. Falar em amor, júbilo, alegria e êxtase em tais sociedade e cultura doentias é loucura.
Como percebemos, entendemos e realizamos a alegria e o êxtase na terra, em nossas vidas, em nossas cidades, em nossos países, parecem ser questões surreais. A alegria está ligada ao contentamento, a uma vida feliz, um sentimento de satisfação. A condição de estar contente ou ser feliz, nesse mundo consumista e egoísta, parecem ser impossíveis. O êxtase está ligado ao arrebatamento, ao estado de satisfação absoluta, quando obtemos um prazer total, onde nossas necessidades deixam de existir e vivemos na plenitude divina. A percepção de que o mundo “real” é uma simples miragem, espelho, reflexo, ilusão de algo maior, nesse mundo niilista e materialista, parecem ser sonhos.
O pagão, o bruxo e o wiccano vai além de celebrar, nós vivenciamos essa prática, diariamente, pois dizemos: “todo ato de amor e prazer” são os rituais de nossos Deuses.
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