Em minhas pesquisas pela internet e leituras de sites como Patheos, eu encontro textos que dão uma ideia ou tema para meus textos.
Eu leio um pouco de tudo na internet, textos científicos, textos históricos, textos esotéricos, textos ateístas e textos cristãos.
Em uma destas oportunidades, lendo o Evangelical Channel do Patheos, eu encontrei um texto que evangélicos devem conhecer e usar com frequência em seu proselitismo: As Quatro Leis Espirituais. O texto, como todo texto cristão da vertente evangélica, é uma sucessão de trechos escolhidos e pinçados da Bíblia. O texto em si contém muitas contradições e controvérsias em comparação com outros trechos da fonte usada, sem falar das questões da originalidade, autenticidade ou autoridade deste texto sagrado.
Nós podemos dizer que toda forma de espiritualidade, crença ou religião tem suas leis espirituais e o Paganismo Moderno não é exceção. Para o pagão moderno não faltam textos sagrados e mesmo filosóficos, de diversos autores da Antiguidade Clássica, para servir de orientação e inspiração.
Então se meus caros diletos e eventuais leitores forem condescendentes, eu vou apresentar aquilo que se pode considerar como as leis espirituais do Paganismo Moderno.
1. Faça aos outros o que queres que te façam.
Mais conhecida como Regra de Ouro, está presente em diversas espiritualidades, crenças e religiões. Para quem não entendeu, eu vou ser mais claro: o Cristianismo e demais religiões monoteístas copiaram esta lei das demais religiões, uma regra que está presente inclusive no Paganismo Antigo.
2. O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo.
Uma regra da alquimia que é muito utilizada na prática das Artes da Magia e da Bruxaria. Em um sentido mais amplo, para o Pagão [antigo e moderno], não há separação entre o Mundo Material e o Mundo Divino. O Mundo Material é uma manifestação, uma imagem, um reflexo do Mundo Divino.
3. Se aquilo que buscas não encontras dentro de ti então não irás achar fora de ti.
Esta lei pertence aos rituais wiccanos, mas devemos dar um desconto, pois o ensinamento é maior do que essa vertente do Paganismo Moderno. Uma poesia inspiradora que mostra que muitas vezes procuramos em lugar errado. Uma vez eu brinquei com um ateu que a ciência não vê evidência da existência dos Deuses porque procura no lugar errado, com o método errado. O ateu não entendeu a brincadeira, restringindo-se a repetir a mesma retórica do catecismo do ateísmo. Este é um ensinamento incômodo para os vigaristas, farsantes e estelionatários que fazem carreira dentro de uma religião. Eu ficava muito incomodado quando via um falso sacerdote criar um verdadeiro culto à personalidade em torno dele, usando sua popularidade e influência para divulgar suas opiniões pessoais como se fossem textos sagrados. Eu ficava incomodado com o excessivo enfoque na Deusa e na promoção da auto iniciação. Eu passei pela decepção e desencanto que acontece depois da entrega a um/a mestre/a. Caro dileto e eventual leitor, um sacerdote, uma sacerdotisa, um coven, um grupo, uma tradição não são o Pote de Ouro, eles vão te dar os métodos, as direções e as orientações, mas o Caminho do Arco Iris está dentro de ti.
4. Colherás aquilo que plantares.
Uma lei que é uma verdade conhecida por qualquer agricultor, mas precisamos dar outro desconto, pois este é um ensinamento que é uma verdade em relação a outros assuntos da vida. Esta lei ensina que nós somos responsáveis, pelos nossos atos e palavras. Esta lei ensina que o sucesso não tem lugar para o fraco, o covarde, o tímido, o preguiçoso, o postergador, o chorão, o reclamão. Nós sofremos não porque somos pecadores, mas porque a dor é parte da vida e do aprendizado. O pecado é uma moeda bem usada pelos vigaristas, farsantes e estelionatários da crença. Nenhum Deus nos daria uma vida e uma natureza para depois, sadicamente, nos oprimir com mandamentos impossíveis de serem observados. Esta lei não deve ser confundida com Fortuna ou Destino, nem com a Lei do Karma, está mais para a Lei da Física onde para cada ação existe uma força igual em sentido contrário.
5. Honrarás e reverenciarás teus ancestrais.
Esta lei está nas mais diversas religiões, antigas e contemporâneas. Ela está presente na religião familiar e na religião das urbes. Mesmo o Cristianismo e outras formas de monoteísmo, a despeito de sua mensagem exclusivista, escatológica e desumana, reconhece esta lei. Honrar, respeitar e reverenciar os ancestrais significa reconhecer o esforço daqueles que nos antecederam, é reconhecer o quanto nós devemos a estas pessoas, é reconhecer nossa posição como herdeiros e sucessores, o que requer humildade e responsabilidade. Esta honra, respeito e reverência são extensivos aos nossos pais, professores, sacerdotes e governantes. Se eles não forem merecedores de tal tratamento, ainda assim devemos honrá-los, respeitá-los e reverenciá-los, isso irá constrangê-los e eles irão fazer de tudo para merecer esta posição honrada. Esta lei é um ganho mútuo.
6. Cumpra o devido serviço e obrigação, com sua família, com sua comunidade, com seus Deuses.
Uma lei que é um escândalo no Mundo Contemporâneo e seu sistema baseado no individualismo. Em um mundo calcado no egoísmo, falar em cumprir o dever é uma ofensa, mas quem vive alguma forma de espiritualidade sabe que “servir” é uma lei espiritual. Esta lei mostra que nós fazemos um culto, um ritual, uma cerimônia, não porque queremos, mas porque devemos. Isso inclui a piedade, a caridade, a compaixão e a misericórdia. O dever consiste em agradecer por aquilo que recebemos em benção, gratuitamente, imerecidamente. Recebemos de nossa família um lar, educação e comida. Recebemos da comunidade nossa identidade, nossa origem e os laços de fraternidade. Eu seria indelicado e ineficiente em listar aquilo que recebemos dos Deuses. Por muitos anos eu comprei briga com os falsos sacerdotes que divulgavam suas opiniões pessoais como se fossem a Letra da Lei e ofendi muitos pagãos simplesmente porque uso o mote que eu sirvo aos Deuses.
7. Saibas tu que tudo o que vês, tocas, sentes, ouves, experimentas, é sagrado, é divino.
Esta lei eu tive que refletir um pouco, pois tem a ver com a forma como percebemos a vida, o mundo, a existência e de como nos relacionamos com isso. O ateu acha [acredita?] que apenas aquilo que tem evidência é existente, em um sentido bem materialista. O cristão acredita que o mundo, a natureza, o corpo, o desejo, o prazer, o amor e o sexo são coisas malignas, prejudiciais, maculadas, impróprias. A crença do ateu é limitada, a questão da existência está bem além da mera evidência. A crença do cristão é deficiente, nosso mundo, nosso corpo, nossa natureza e nossas necessidades são sagrados e divinos. A lei demonstra que a existência, o mundo, a vida e nós somos manifestações do divino.
8. Tua jornada e experiência espirituais são teus cuidados.
Esta lei eu formulei com base que a jornada de uma pessoa em sua busca, material, mental ou espiritual, sempre é individual. Torna-se desagradável e até vergonhoso quando alguém, em sua euforia por ter encontrado um “caminho” para a Verdade, toma o caminho pela Verdade em si mesma e começa a fazer proselitismo. Guerras, massacres, genocídios, aculturamento e outros crimes contra a humanidade foram cometidos em nome de uma ideia e um ideal. Nenhuma organização ou instituição religiosa tem o direito ou a autoridade de impor suas doutrinas. Ninguém tem o direito de invadir nosso sossego, nosso trabalho, nossa viagem, com suas prédicas religiosas.
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