terça-feira, 21 de outubro de 2014

As dezoito Ménades

Na mitologia grega, as Ménades, ou Mênades, (de mainomai, ”enfurecido”), também conhecidas como bacantes, tíades ou bassáridas, eram mulheres seguidoras e adoradoras do culto de Dioniso (ou Baco, na mitologia romana). Eram conhecidas como selvagens e endoidecidas, de quem não se conseguia um raciocínio claro.

Durante o culto, dançavam de uma maneira muito livre e lasciva, em total concordância com as forças mais primitivas da natureza. Os mistérios que envolviam o deus, provocavam nelas um estado de êxtase absoluto, entregando-se a desmedida violência, derramamento de sangue, sexo, embriaguez e autoflagelação.

Normalmente são representadas nuas ou vestidas só com peles de veado, com grinaldas de Hera e empunhando um tirso (bastão envolto em ramos de videira). [Wikipédia]

O viajante seguia pelo caminho entre o Bosque Sagrado quando teve sua passagem impedida por uma mulher.

- Não prossigas adiante! Aqui é solo sagrado.

- Quem és tu e a quem este solo é consagrado?

- Eu sou Licaste, meu nome é a chave para passar pelo espinheiro.

- Deixa-me passar que na volta te trago algo para aliviar teu sofrimento.

- Descanse teu cajado de freixo e leve este ramo de teixo.

O viajante segue e encontra um nemeton onde homens, mulheres, fadas e faunos dançavam alegremente em torno de uma bétula.

- Viajante venha dançar conosco!

- Quem és tu e a quem esta dança é oferecida?

- Eu sou Calícore, meu nome é a chave para entrar e sair da roda.

- Deixa-me passar que na volta te trago um bardo para cantar nesta formosa dança.

- Troque teu sapato de amieiro por esta bota de salgueiro.

O viajante segue e passa por uma taverna onde duas mulheres pareciam embaraçadas.

- Viajante, nos ajude! Entre na taverna e resgate nossa irmã!

- Quem sois vós e quem é vossa irmã? Quem vos prende a esta taverna?

- Estesícore é nossa irmã. Eu sou Rode e esta é Ereuto. Perdoe-a, viajante, por sua timidez. Nosso dever é levar nossa irmã para Calícore, nossos nomes são a chave do regozijo e do recato.

- Deixem-me passar que na volta vos trago um cavaleiro para defender sua virtude e um cavalheiro para ofuscar vossa vergonha.

- Tire o cardo de sua lapela e coloque essa flor de sorveira.

O viajante segue e passa por duas mulheres em uma disputa de velocidade. Uma estava vestida com uma simples túnica e a outra estava carregada de livros.

- Viajante, seja juiz nesta competição e diga qual de nós duas é mais rápida.

- Quem sois vós e por que disputam?

- Eu sou Oquínoe e esta é Protoe. Ela conhece apenas a força muscular enquanto eu conheço aquilo que o corpo não chega. Nossos nomes são a chave para resolver as diferenças entre a mente e o corpo.

- Deixem-me passar que na volta vos trago um justo juiz para vos conciliar.

- Leva contigo esta coroa de azevinho e este casaco de carvalho.

O viajante segue e passa por um grande jardim cuidado por quatro mulheres.

- Viajante, as flores brotaram e os frutos estão maduros. Vinde, faça a colheita conosco e aproveite dos frutos.

- Quem sois e de quem é este jardim?

- Eu sou Bruisa, eu cuido para que as flores cresçam. Esta é Eupétale, ela cuida que as flores desabrochem. Aquela é Arpe que faz da flor o fruto e a outra é Trígie que colhe o fruto do mistério. Nossos nomes são a chave para a vida eterna.

- Deixem-me passar que na volta vos trago o graal com a Água da Vida.

O viajante segue e encontra uma mulher ricamente vestida e adornada.

- Viajante, vinde e descanse. Eis que te concedo beber de minha fartura.

- Quem sois e de quem recebeste tal benção?

- Eu sou Cálice, em mim a Água da Vida é derramada sem desperdício. Meu nome é a chave para receber o Senhor.

- Deixa-me passar que na volta te trago quem possa te encher até a borda.

O viajante segue e encontra uma nobre dama em um vestido carmesim.

- Viajante, chegue bem perto e vêde como eu sou aquilo que corre em suas veias e que repousa no graal.

- Quem sois e de quem é o graal?

- Eu sou Acrete e conhecer-me é conhecer minha irmã que te levará ao Senhor.

A mulher chama por sua irmã e com as duas juntas chega outra terceira. A mulher se aproxima do viajante como um vulto.

- Viajante, eu ouvi teu chamado. Por Cálice e Acrete, eu vim. Tens as chaves para que possa ver ao Senhor?

- Eu tenho a vara, a medida, a coroa, o manto. Eis aqui as vinte cinco letras das árvores sagradas. Quem há de me mostrar ao Senhor?

- Eu sou Mete, o meu nome é a chave para evocar a sacerdotisa do Senhor. Vede, que ela veio por teu chamado.

- Viajante, está deixando o Mundo dos Homens. Sabes o que te espera?

- Dizei teu nome e mostra-me, formosa sacerdotisa.

- Eu sou Silene e silente eu te abro as portas do Universo. Vem e vede.

Abre-se o Firmamento e o viajante fica diante de uma mulher como jamais vira igual.

- Eu sou Egle. Vede em mim o esplendor do Senhor refletido em mim. Há algo que eu possa te oferecer por ter chego até aqui?

- Eu te peço, Véu do Santo dos Santos, que me conceda o canto e o instrumento.

Das dobras do vestido da mulher, semelhante ao vestido de uma galáxia, a mulher faz vir adiante uma jovem mulher, vestida em outro e prata.

- Viajante, eu entrego meus dons, sabedorias, estratagemas, técnicas para teu uso. Toque meu corpo de forma errada e tudo será reduzido às cinzas.

- Poderosa instrumentadora do Senhor, dizei teu nome e a quem serve?

- Eu sou Ione e teu dever agora é cuidar de mim. Leva-me para Calícore para que o encerramento seja o princípio.

O viajante começava a retornar de sua caminhada quando uma mulher de cútis toda branca e vestindo uma mortalha impediu sua passagem.

- Viajante, daqui não podes retornar.

- Quem és tu e por que não posso completar minha missão?

- Eu sou Enante. Por mim ninguém e todo mundo passa. Meu nome é a chave dos ossos. O que tens não pode me comprar, o que sabes não me impressiona e o que cantas não me seduz. A quem irá recorrer?

- Eu canto a vós, Senhor. O primeiro existente que nasceu neste mundo. Aceitou nascer, viver e morrer como todos que vem a este mundo, por que vós sois o mestre dos mistérios e conhecedor de todos os caminhos. Vieste a este mundo como o carvalho e o azevinho. Vós fostes posto no solo como semente, brotou, cresceu, floriu, frutificou e foi ceifado. Vós viestes a este mundo como o lobo e o cervo. Vós fostes posto dentro de um ventre, passou pela infância, adolescência, maturidade e senilidade. Conheceu o leite, comeu da terra, gerou muitos para depois aceitar a morte. Vós viestes a este mundo como a caça e o caçador. Vosso é o domínio dos grãos, do gado, das feras, da floresta. Por vós, tudo é santificado e sacramentado. Em vossos rituais nos reencontramos ao celebrar o êxtase da vida. Vós sois o arado que abre a terra, a chuva e a força que faz a semente brotar. Vós viestes a este mundo como bebê, criança, jovem e adulto. Vós fostes o camponês, o sacerdote, o guerreiro e o rei. Vós viestes a este mundo como filho, pai e consorte. Vosso é o domínio do amor, do desejo, do prazer, do sexo. Por vós, tudo é belo e divino. Em vossos bosques sagrados, nos santuários das cavernas, entre rios, vales, morros e encruzilhadas, nós festejamos. Vós sois aquele que nos tira do ventre e nos conduz para a tumba. Vós viestes a este mundo como vencedor e vencido, como herói e monstro. Vossa são as dádivas da vida e da morte. Ave Dioniso, ave Cernunnos, ave Herne, ave Pan!

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