A foice e o martelo no brasão da URSS são os símbolos mais conhecidos do poder soviético. A história de sua origem é cheia de segredos e mistérios. Esses símbolos, cruzados no brasão soviético, têm ligação com a maçonaria, o hinduísmo e a antiga mitologia ariana e eslava.
A origem do emblema soviético é nebulosa. No início de sua criação, havia várias opções: foice e martelo, martelo e ancinho, martelo e forquilha, martelo e arado. O martelo era tradicionalmente considerado um símbolo dos trabalhadores nos países europeus. Além de instrumento de trabalho rural, ele simbolizava a famosa frase de Lênin sobre a unidade do proletariado e da população trabalhadora rural. Em abril de 1918, foi aprovada a versão final do emblema. Seu autor era Evgueni Kamzolkin, o artista de Moscou. Oficialmente, a aprovação final do emblema ocorreu no 5º Congresso dos Sovietes, no verão de 1918.
Um fato curioso é que Kamzolkin não só não era comunista, como também era um homem profundamente religioso, de uma família bastante rica. Ele era membro há mais de dez anos da comunidade mística de arte de Leonardo da Vinci e podia entender bem o significado dos símbolos. Em primeiro lugar, a foice e o martelo associavam-se ao símbolo maçônico "cinzel e martelo". Esses objetos simbolizaram o objetivo claro (cinzel) e sua realização (martelo). Em emblemas religiosos europeus, o martelo representa o poder agressivo masculino, tanto físico (martelo de ferreiro de Hefaísto na Grécia), quanto letal. O deus dos trovões eslavo Svarog e o escandinavo Thor seguram-no em suas mãos. Na China e na Índia é um símbolo do triunfo das forças do mal destruidor.
É difícil dizer qual significado Kamzolkin atribuiu ao desenho. Se ele agiu apenas para cumprir a tarefa de criar a imagem da união da classe camponesa ou se ele escolheu os símbolos da morte, guerra e triunfo do mal para expressar sua atitude a respeito do poder revolucionário.
O filósofo russo Aleksêi Losev deu ao brasão a seguinte interpretação: "Esse é um símbolo que move as massas e não é apenas um sinal, é o princípio construtivo técnico para as ações humanas e expressão da vontade. (...) Aqui temos o símbolo da unidade dos trabalhadores e camponeses, o símbolo do Estado soviético."
O famoso historiador acadêmico Iúri Gauthier escreveu em seu diário em 1921:
"Há alguns dias prevalece em Moscou uma inquietação: como isso vai terminar? A resposta está nas palavras ‘martelo e foice’, lidas em ordem inversa.”
O fato é que essas duas palavras na ordem inversa soam como "Altar de pedra": assim os moscovitas aludiam aos métodos ditatoriais dos bolcheviques.
Em várias religiões, foice é o símbolo da morte. O feno e a colheita no cristianismo se associam com as almas humanas que Deus reúne após o fim do mundo. É curioso que na Idade Média a morte não foi representada pela foice de cabo comprido, ou gadanha, mas pela foice de cabo curto.
No paganismo indo-europeu e eslavo, a deusa Mara ou Morana –que equivale à deusa da morte, Kali, irmã de Shiva, no hinduísmo– representa a morte, segurando tradicionalmente uma foice na mão esquerda. Um fato interessante é que no brasão da Áustria revolucionária a águia segura uma foice na perna esquerda, assim como no brasão soviético, onde a foice se encontra nesse mesmo lado.
Fonte: Gazeta Russa
Nota da casa: Isso vai pirar muito cristão e pagão.
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