domingo, 26 de outubro de 2014

O Deus de Schrodinger

Caros diletos e eventuais leitores, este é um texto que não é um texto. Magritte em forma de palavras. Este é um texto que é tanto uma análise, quanto uma crítica, quanto uma reflexão, quanto uma paródia. Seja o caro dileto e eventual leitor crente ou descrente, coloque seu bom humor na frente.

Schrodinger foi um físico teórico que usou o paradoxo que leva seu nome para explicar como as partículas se comportam em nível subatômico, tornando-se um modelo mental para a Física Quântica. O paradoxo, conhecido como o Gato de Schrodinger, propõe um modelo mental onde um gato é colocado em uma caixa lacrada, junto com um frasco de veneno. Na caixa existe um mecanismo que pode ou não acionar o veneno, a questão de Schrodinger é que não é possível, depois de determinado tempo, afirmar se o gato está vivo ou morto. Se um observador abrir a caixa, o paradoxo permanece, pois a ação de pegar ou abrir a caixa pode disparar o mecanismo que aciona o veneno e matar o gato, em suma, a ação do observador altera a natureza do objeto observado. Schrodinger é ateu, como muitos cientistas. O que é curioso é que ele tenha que recorrer a uma analogia, um modelo mental, uma explicação filosófica, para explicar uma teoria científica. Muito mais curioso é ler um texto ou comentário ateu afirmando que a filosofia em nada contribuiu para a ciência.

Essa analogia pode ser usada para outras questões, como a existência dos Deuses. Crentes ou descrentes, segurem um pouco sua raiva e reação. Eu devo lembrar que a ciência não afirma que os Deuses não existem, apenas que não tem evidência de existirem. Eu devo lembrar também que o objeto de estudo da ciência é o mundo material, considerações sobre a existência pertencem ao objeto de estudo da filosofia e da religião.

Antes eu vou citar alguns resultados tirados do oráculo virtual [Google]:

“Da mesma forma, a existência de Deus pode ser visto como o conhecimento se o gato está vivo ou morto. Contudo, não podemos olhar na caixa o que torna o paradoxo como imutável. Você pode acreditar que o gato está vivo ou morto, não há nenhuma maneira de saber se você está certo e como não há maneira alguma de realmente olhar na caixa, esse estado paradoxal continua. Da mesma forma, se você olhar para a existência de Deus, você vai encontrá-lo e se você não fizer isso você não vai encontrá-lo”. [News24]

“A coisa sobre o gato de Schrodinger é que é uma tentativa de colocar um fenômeno que só existe no nível quântico e visualizá-lo em uma escala macroscópica, e, por várias razões, eu não acho que isso é possível. O gato estar vivo ou morto teria uma influência mensurável sobre o mundo real (ondas sonoras do batimento cardíaco, energia térmica, etc).

A coisa é, se existe um deus, deísta ou não, a sua existência deve ter algum tipo de efeito mensurável sobre o mundo real”. [skeptical avenger]

“Mas embora não se saiba se o gato esta vivo ou morto, assim como não se vê Deus, nem tão morto como Friedrich Nietzsche julgou estar, e nem tão vivo como queremos acreditar sim, porque como consequência ou como resultado, daquilo que somos é baseado naquilo que acreditamos, imagina qual a consequência em nós, o resultado em nós em acreditar em alguém que nunca vimos? Loucura? Insensatez? ou simplesmente o fato de que acreditamos, independentemente se vimos ou não, ou não o conhecemos tão bem quanto achamos que conhecemos a nós mesmos, ou a palma de nossas mãos.

Acreditamos porque sabemos que Ele está lá. De alguma forma ele está lá, e diga-se de passagem aqueles que por menor que sejam a sua fé, se apesar dos pesares se manterem firmes a essa pequena chama como o fogo de uma vela com um pequeno pavio, sim! esses serão os maiores sábios e homens de Deus assim como menores homens entre os próprios homens que você poderá conhecer, as mais preciosas lições estarão com eles não os holofotes, e você será um bem-aventurado se conseguir captar ao menos uma palavra”. [vontade descabida]

Caso a platéia ainda não dormiu, o paradoxo do gato de Schrodinger não é apenas se o gato existe ou não, se o gato está vivo ou morto, mas também que a observação altera a natureza do que é observado. Por mais objetivo e imparcial que seja o observador [pesquisador, cientista], sua mera presença [e bagagem cultural] irá alterar a natureza do objeto observado, bem como a interpretação [evidência] de sua existência. Eu sinto que estou começando a irritar os descrentes. Eu vou empatar esse jogo.

Se o paradoxo do gato de Shrodinger pode ser usado como uma analogia para a existência dos Deuses, então não há, em absoluto, qualquer afirmação exata que se possa fazer a respeito da existência dos Deuses, quem são Eles e qual a relação Deles com a natureza. A observação, a natureza do que foi observado, a impressão do que se observou, será sempre individual. Nenhuma pessoa, grupo, organização ou instituição pode fazer qualquer afirmação tendo por base sua visão, observação ou experiência pessoal [subjetiva] a respeito dos Deuses. Eu sinto que consegui irritar os crentes. Eu vou empatar de novo.

Crentes e descrentes fazem afirmações sobre e a respeito da existência dos Deuses com base na filosofia, não em fatos mesuráveis, quantificáveis, reproduzíveis. Nem poderiam ser, pois os Deuses não são objetos inertes, tente estabelecer padrões constantes e fixos para o comportamento humano e verão como há sempre exceções que desafiam a regra.

Descrentes tem razões de sobra para criticarem crentes, mas lhes falta razão quando fazem tábua rasa e jogam todas as religiões e religiosos no mesmo saco.

Crentes tem razões de sobra para criticarem descrentes, mas lhes falta razão quando não aplicam o mesmo rigor para analisar sua crença.

O descrente tem seu próprio método [caminho] para se situar no mundo, na vida, na existência. O crente tem seu próprio método [caminho] para se situar no mundo, na vida, na existência. Ao invés de ficarmos nos atacando, deveríamos discutir e debater as ideias, os argumentos. A experiência científica é válida dentro de seu escopo, a experiência religiosa é válida dentro de seu escopo, no fim, apenas quem passa pela experiência pode avaliar, de forma subjetiva, particular e pessoal, se a experiência é legítima.

Quanto ao gato e Deuses, eu devo ser um dos poucos religiosos que também é cético. O gato está e não está no texto. Os Deuses estão e não estão na natureza. Este texto foi e não foi lido. Nada é simples, quando tentamos colocar em palavras o Universo.

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