Outro tema que chamou minha atenção após a leitura do livro de Lee Morgan, “Deed Without a Name”, é a tão afamada “marca da bruxa”.
Para os nossos ancestrais tudo possuía substância, ou um “corpo”, a ideia de que o corpo carnal é algo distinto ou separado do corpo sutil apareceu mais tarde, com outras correntes espirituais. Nosso corpo e alma estão interligados, interconectados, então o limite de nosso “corpo” vai além de nossos limites físicos.
Com o treino e domínio do corpo e alma, o bruxo consegue manipular sua sombra e dar forma a uma segunda pele. Com o desenvolvimento dessa habilidade o bruxo consegue entrar em contato com o seu daimon, tornando a caminhada e o aprendizado mais fácil, mais suave, mais dinâmico, mais surpreendente. O daimon ainda é parte do nosso “eu”, muito embora o inverso seja mais verdadeiro.
O acesso à nossa consciência espiritual nos deixa mais próximo do mundo divino e do submundo, através do daimon a bruxa atrai para si dois espíritos, duas entidades complementares, o espírito consorte e o espírito familiar. Com o primeiro a bruxa tem um relacionamento marital e com o segundo a bruxa tem uma relação filial.
O provável é que o espirito familiar seja progênie da união entre a bruxa e o espirito consorte, se não for por adoção. O importante, nesse caso, é que a bruxa tem que alimentar essa entidade, geralmente por uma teta falsa (verruga?) que é a “marca da bruxa”.
Um tema controverso, visto que este sinal é citado em muitos dos julgamentos de bruxas, mas havemos de considerar que os juízes (seculares e clericais) não teriam tal imagem se isto não fizesse parte de um folclore antigo. Ainda que as confissões sofram de um vício de procedimento (feito sob tortura), muitos testemunhos feitos voluntariamente relatam essa circunstância.
Chegamos ao consenso que de que uma bruxa tem um espirito consorte, tem um espirito familiar e tem uma marca. Discutir ou definir a Bruxaria sem essas características torna-se inútil ou desonesto. Esta marca é um dom que veio de nascença ou foi recebido por um ente - tema delicado e polêmico no meio pagão - que é o “Diabo”. A associação da bruxa com este Deus e Mestre, essa figura do Bode Negro, em relatos de bruxas do passado e atual, cuja imagem e conceito carregam muito da visão judaico-cristã e visões pós-modernistas, sem dúvida deve tocar em um ponto sensível nas mentes suscetíveis, o que talvez requeira um texto para apaziguar a identidade, personalidade e papel do “Diabo” na Bruxaria.
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