Entre os argumentos teístas listados no artigo de Dan Baker no site do Ateus ponto net, eu vou frisar um interessante por que a analogia e a refutação precisam de uma análise.
Diz Dan Baker, como "argumento" teísta, a seguinte analogia:
"Os ateus não têm discernimento espiritual e dificilmente poderiam criticar a experiência teísta de Deus. Isso seria como uma pessoa cega negando a existência das cores."
A refutação de Dan Baker vem com o seguinte argumento:
"A analogia com o cego não é apropriada porque as pessoas cegas não negam o sentido da visão, nem negam que as cores existam. Os cegos e os que veem vivem no mesmo mundo, e ambos podem compreender os princípios naturais envolvidos. O caminho da luz pode ser traçado através de um olho normal até ao cérebro. As frequências podem ser explicadas e o espectro pode ser experimentado independentemente da visão."
A análise vai se basear no quesito existência e evidência.
O ateu não crê na existência dos Deuses baseado na acepção de que não há evidências de que os Deuses existem.
A analogia teísta vem de encontro a este argumento basilar do ateu ao argumentar que negar a existência dos Deuses é similar ao cego negado a existência das cores. Explicando melhor, o ateu nega porque não percebe a existência dos Deuses. O caso que deve ser melhor explicado e detalhado é se o cego nega a existência das cores a despeito de sua deficiência sensorial.
Neste ponto há uma falha no argumento de Dan Baker, pois ele descreve o processo de como percebemos as cores, não uma evidência de que as cores existam. No caso do cego, pela lógica do ateu, sem evidências não se pode dizer que as cores existam, portanto a refutação falhou.
Voltemos às questões quanto ao processo de percepção, ao caso do cego, à existência das cores e às evidências.
A percepção das cores não pode ser considerada evidência da existência das cores porque a) os cães, a despeito de ter um órgão sensitivo, percebem as coisas apenas em preto-e-branco b) os humanos, a despeito de serem capazes de perceber as cores, são limitados e não percebem todos os espectros de cores. Portanto, o processo de percepção das cores não é evidência da existência das cores. Para que haja a percepção das cores primeiramente as cores devem existir para então haver a percepção das mesmas através dos órgãos sensitivos.
O autor não explica nem dá provas quanto ao cego, então devemos pressupor que o cego não negue o sentido da visão nem negam a existência das cores. Obviamente, pessoas desprovidas de visão vivem no mesmo mundo que o nosso, mas isso não prova a existência das cores e, como nós vimos, o processo de percepção das cores não pode ser considerada evidência da existência das cores. O autor argumenta que ambos [cegos e não cegos] podem compreender os princípios naturais envolvidos, mas para "compreender" algo denota alguma forma de aprendizado, cultura e percepção. Ora, se as cores não existissem, não haveria a percepção, ainda que tivéssemos os órgãos sensitivos; não haveria compreensão porque sem elementos de exemplo para o aprendizado seria nulo o conceito de "cor" e, sem um conceito, não há a formação de uma cultura para explicar esse estímulo sensitivo como sendo "cor". Portanto a refutação falhou.
Sendo falha a refutação nesse quesito, permanece o dilema – como fazer um cego crer na existência da cor, considerando que: a) para a concepção do ateu, não se pode crer na existência da cor sem que existam evidências; b) falta ao cego a capacidade sensitiva para perceber a cor; c) a existência da cor precede conceito, aprendizado e explicação; d) o ambiente natural é comum a todos, mas existem condições para compartilhar a mesma concepção de mundo.
A medicina e a tecnologia são capazes de substituir o órgão sensitivo, tornando o cego capaz de "ver". Sem qualquer parâmetro ou referência, o cego terá que "aprender" a associar esse estímulo sensitivo como sendo "cor". Apenas e só então o cego poderá crer na existência da cor, pois será capaz de reconhecer aquele estímulo como sendo "cor" e, pelo reconhecimento, será evidência da existência da cor.
Nesse sentido, o argumento teísta tem sentido pois, a despeito do ateu e do teísta pertencerem ao mesmo mundo e serem capazes de compreender os princípios naturais envolvidos, cada um tem uma concepção de mundo diferente. A concepção do ateu é uma percepção do mundo apenas em sua aparência física e mecânica, desconsiderando ou ignorando qualquer coisa que não tenha evidência, ainda que a evidência não seja percebida por uma deficiência sensitiva. Nisso o cego é melhor que o ateu, afinal, ainda que ao cego lhe falte a capacidade sensitiva, este não nega o sentido da visão nem a existência da cor. Estabelecendo uma correlação com o cego, o ateu nega o sentido da crença e a existência dos Deuses porque a) não tema percepção; b) nega o "aprendizado" recebido; c) nega os parâmetros associativos d) nega as evidências se baseando no conceito de que não foram "testadas" ou "confirmadas" pela ciência.
Para que o ateu possa perceber a evidência da existência dos Deuses ele terá que a) desenvolver a percepção; b) abandonar os preconceitos e as doutrinas; c) procurar e desenvolver uma experiência religiosa; d) procurar conhecer e reconhecer os Deuses como são, onde estão. Este é um desafio e tanto, considerando o crescente ressentimento dos ateus contra todo tipo de crença, religião ou concepção "não científica". Mas aos ateus que não tem medo, receio ou vergonha de admitir que podem não saber de tudo, saibam que são muito bem vindos, com todas suas dúvidas e críticas, ao Paganismo.
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