Olá, sr Ponde, faz um tempo que eu não te escrevo. Eu li seu artigo na folha elogiando Putin, o que foi ecoado pelo Rodrigo Constantino - o artigo e o argumento, eu não sei se foi extensivo ao elogio. O que é curioso, porque o que faria Putin, Ponde e Constantino concordarem? Pondo Putin a parte [uma péssima punch line], que quer recriar a Mãe Russia/URSS, o que incomodaria tanto Constantino e o sr para valer artigos concórdios?
Seria o assistencialismo às "minorias"? O assistencialismo fez ruir Grécia, Espanha, Portugal. Fazer assistencialismo pode render votos mas acaba com as finanças de qualquer país. Mas não parece ser o caso. Seria o debate sobre a questão do gênero e da opção sexual? Eu vou apostar que sim, sexo ainda é um tabu em nossa civilização ocidental. Discutir estas questões incomodam e muito certos pruridos e consciências, certamente resultado de um recalque latente. O debate não é invenção de professores com problemas de identidade sexual nem ocupação de gente riquinha. A intenção do debate é exatamente o de acabar com o autoritarismo da ideologia de gênero, imposta sem qualquer base biológica ou psicológica - uma imposição feita, via de regra, por dogmatismo eclesiástico. Se há debate é porque há o que se discutir, especialmente quando está em decadência o monopólio e a ditadura da Igreja sobre as sexualidades. Se é pertinente, é um caso à parte e talvez seja nisto que se escora o texto do sr e do Constantino, eu espero.
Seria interessante entender porque se discute e isto tem a ver com o aspecto do Estado enquanto responsavel pela garantia dos direitos à todos e da assistência social. Politica sexual, se me permitir usar o termo, torna-se uma questão de saúde pública, quando há um aumento de doenças venéreas, aumento de adolescentes que engravidam, aumento da violência sexual contra um gênero. Curiosamente mas não coincidentemente, estas políticas estremecem a autoridade da Igreja, a Católica e a Protestante - pudemos ver ad nauseam os monólogos de Feliciano, Malafaia e Bolsonaro mostrando como uma visão política sexual diferente da "normal" acaba produzindo muita neurose e paranóia. Então o debate é pertinente. Os EUA também tinham "coisas mais importantes" para debater e, mesmo assim, levaram o homem à lua.
Então o problema é que se está debatendo sobre sexo, gênero e opção sexual, sem seguir os padrões impostos pelo stablishment. O que a biologia, a anatomia e a fisiologia demonstram é que todos os seres vivos nascem com sexo. Como tal fator irá se desenvolver, ser percebido e exercido depende de outros fatores - genótipos, fenótipos, habitat. No caso da nossa espécie temos que considerar o enorme peso da cultura e da sociedade. Nós somos a única espécie problemática, criamos categorias de tipos de sexo, chamado de gênero e criamos papéis definidos para cada um. Mas a realidade é bem mais complexa, o espectro de variantes de sexualidade e de gênero é maior do que essa dicotomia imposta, "homem", "mulher". Quem não se adequa ou é morto, ou é internado em um manicômio, ou é excluído. Como se isso não fosse suficiente, nossa espécie criou uma escala absurda e arbitrária, sem considerar que o metabolismo de cada indivíduo amadurece de formas diferentes, mas o órgão, as funções, as glândulas, estão bem ali no corpo, independentemente de nossa faixa etária. Ou seja, criança tem sexo, mas ainda não amadureceu para ter uma sexualidade, nem adquiriu consciência de como ele/ela percebe, vê e sente o seu sexo. Talvez devamos contestar tentativas de legislar sobre a sexualidade das crianças "avant la lettre", mas é inegável que não podemos tratar a criança como um ser assexuado, nem podemos tentar ocultar delas esta sexualidade, nem negar que vivemos em uma sociedade que explora a sexualidade comercialmente da pior forma possivel. O que devemos e podemos fazer é criar uma política sexual que dê educação sexual para adolescentes e campanhas para adultos tratarem seus desvios sexuais. Sim, é possível chegarmos à lua. Apesar de trogloditas como Putin.
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