Sarkozi, se me perdoam pelo péssimo trocadilho, está procurando sarna para se coçar.
Na França está proibido o uso do véu ou qualquer outra roupa que evite a identificação dos cidadãos. Ou melhor, a proibição visa as muçulmanas que, por hábito familiar ou preceito religioso, usam o véu. A lei, que está sendo considerado inconstitucional, debruça-se sobre a segurança do Estado, contra possíveis atos de terrorismo. Aqui no Brasil tivemos uma experiência ruim com leis feitas em nome da segurança do Estado. Especialistas acreditam que a lei será inócua. E muçulmanas estão protestando contra o governo francês, usando os véus em público depois da lei.
Neste blog eu comentei no texto "Roupa, sociedade e religião" e no texto "Escravidão espiritual" meu estranhamento. Sarkozi tentou ludibriar a opinião pública que este seria uma lei que iria "libertar" a mulher. Vindo de um governante patriarcal, só podia ter dado nisso. E a lei foi feita para aplacar o crescimento da direita e da xenofobia na França.
Para as muçulmanas que realmente acreditam que o véu a dignifica e que o Islamismo é uma religião "compreensiva" com as mulheres, eu recomendo a leitura do drama das mulheres curdas:
"Diyarbakir (Turquia), 14 abr (EFE).- Ferihan (nome fictício) foi obrigada a se casar quando ainda era menor de idade. Seu marido, um parente muito mais velho do que ela, a forçou durante anos a se prostituir e por isso a mulher decidiu fugir com o homem que amava.
Infelizmente, o marido conseguiu encontrá-la e levou Ferihan de volta para casa, onde foi "julgada" por seus próprios familiares e condenada à morte por ter "manchado a honra da família".
Ferihan teria sido assassinada - como muitas outras mulheres do conservador sudeste da Turquia, onde se concentra a população curda - caso seu irmão, contrário à decisão da família, não tivesse pedido ajuda ao colégio de advogados de Diyarbakir.
Apesar de os nacionalistas curdos, que controlam a política do sudeste do país, trabalharem há anos para incorporar a mulher à administração, o domínio dos homens nas ruas e nos postos de trabalho das regiões curdas é bastante forte.
Nas áreas rurais, os clãs ainda têm poder para decidir sobre a vida de seus membros, e o código de conduta tradicional, a "töre", está acima das normas ditadas pela laica República da Turquia. Nestes lugares, a honra é a lei suprema.
"As mulheres não podem viver livremente, não podem se casar nem amar quem quiserem. Quando chegam os 14 ou 15 anos, o clã decide quem vai casar com a menina e recebe dinheiro ou animais da família do noivo", conta Gül Kiran, da Associação de Mulheres de Van (Vakad).
"Segundo as normas tradicionais, a mulher não é mais do que uma propriedade do clã", explica.
No ano passado, 72 mulheres morreram assassinadas nas regiões curdas (frente às 265 no resto do país) e outras 269 foram hospitalizadas vítimas de violência machista.
Além disso, 113 mulheres foram obrigadas a se suicidar por suas famílias ou porque não conseguiram suportar as condições nas quais viviam.
Türkan Turan, encarregada de assuntos da mulher na Prefeitura de Diyarbakir, afirma que desde a chegada ao poder do Partido da Justiça e o Desenvolvimento (AKP, moderado), em 2002, o número de mortes de mulheres aumentou, algo que atribui à visão "machista" do governo de Recep Tayyip Erdogan.
Segundo dados dos serviços sociais de Diyarbakir, 13 assassinatos de mulheres curdas cometidos em 2010 foram executados em nome da honra.
E essa honra pode ser manchada muito facilmente, de acordo com os costumes locais: basta que uma jovem fale com um menino; que uma mulher casada peça o divórcio ou até que seja estuprada.
"Basta um simples rumor", explica Nilgün Yildirim, do Centro de Mulheres de Diyarbakir (Kamer).
O marido pedirá à família dela que limpe sua honra e a assembleia familiar deverá decidir como castigar a mulher que "desonrou" o clã.
"Se uma mulher à qual a sociedade considera merecedora de castigo não for punida, a vida para a família se torna impossível: os vizinhos não te cumprimentam e nas lojas não te vendem nada. Todo mundo tenta marginalizar a família que não lavou sua honra", relata Yildirim.
Muitas vezes, são os homens da família que avisam as associações como a Kamer que um crime está a ponto de ser cometido.
"São pessoas que se opõem ao assassinato, mas não têm poder para impedi-lo dentro da assembleia familiar", acrescenta o especialista.
"Denunciar não é fácil para uma mulher, é preciso muita coragem. A pessoa se expõe a um grande risco. Apesar de tudo, nos últimos anos houve um grande aumento das denúncias", relata Demet Öztürk, do colégio de advogados de Diyarbakir.
Para essa mudança, contribuem as campanhas de conscientização das associações de mulheres e a rede formada pelos serviços sociais das prefeituras e os advogados, que permite proteger as vítimas da violência ao levá-las para casas de amparo e oferecer assessoria jurídica.
As associações também conseguiram com que o governo elevasse as penas de prisão para quem comete crimes machistas e desde 2005 é possível acusar todos os membros da família que participaram da decisão de matar uma mulher.
"A Promotoria pode chamar um povoado inteiro para depor. E também são muito importantes os registros telefônicos, para saber quem e até que nível está envolvido", conta a advogada Gülay Alan.
"De qualquer forma, apesar de a lei ser boa, a mentalidade impede que seja colocada em prática integralmente", lamenta-se Yildirim.
"Nós crescemos aqui e sabemos como as coisas funcionam. Quando uma mulher ameaçada quer voltar para casa, procuramos uma pessoa dentro de sua família que queira protegê-la. Esta pessoa deve dar sua palavra que ninguém voltará a tocá-la e, além disso, procuramos alguém respeitado - um prefeito ou um imame - que garanta que a palavra dada vai ser respeitada", explica.
Felizmente, nas regiões curdas, a palavra de uma pessoa tem tanta importância quanto a honra."[G1]
Por fim, se o problema é a segurança do Estado, a França deveria proibir também que freiras usassem véus. Quem me garante que debaixo daquela batina uma freira não leva uma bomba? Aliás, por que não remover também os vestidos de todas as mulheres? Vamos todos andar pelados, assim o Estado pode descansar em paz, em segurança.
Infelizmente, o marido conseguiu encontrá-la e levou Ferihan de volta para casa, onde foi "julgada" por seus próprios familiares e condenada à morte por ter "manchado a honra da família".
Ferihan teria sido assassinada - como muitas outras mulheres do conservador sudeste da Turquia, onde se concentra a população curda - caso seu irmão, contrário à decisão da família, não tivesse pedido ajuda ao colégio de advogados de Diyarbakir.
Apesar de os nacionalistas curdos, que controlam a política do sudeste do país, trabalharem há anos para incorporar a mulher à administração, o domínio dos homens nas ruas e nos postos de trabalho das regiões curdas é bastante forte.
Nas áreas rurais, os clãs ainda têm poder para decidir sobre a vida de seus membros, e o código de conduta tradicional, a "töre", está acima das normas ditadas pela laica República da Turquia. Nestes lugares, a honra é a lei suprema.
"As mulheres não podem viver livremente, não podem se casar nem amar quem quiserem. Quando chegam os 14 ou 15 anos, o clã decide quem vai casar com a menina e recebe dinheiro ou animais da família do noivo", conta Gül Kiran, da Associação de Mulheres de Van (Vakad).
"Segundo as normas tradicionais, a mulher não é mais do que uma propriedade do clã", explica.
No ano passado, 72 mulheres morreram assassinadas nas regiões curdas (frente às 265 no resto do país) e outras 269 foram hospitalizadas vítimas de violência machista.
Além disso, 113 mulheres foram obrigadas a se suicidar por suas famílias ou porque não conseguiram suportar as condições nas quais viviam.
Türkan Turan, encarregada de assuntos da mulher na Prefeitura de Diyarbakir, afirma que desde a chegada ao poder do Partido da Justiça e o Desenvolvimento (AKP, moderado), em 2002, o número de mortes de mulheres aumentou, algo que atribui à visão "machista" do governo de Recep Tayyip Erdogan.
Segundo dados dos serviços sociais de Diyarbakir, 13 assassinatos de mulheres curdas cometidos em 2010 foram executados em nome da honra.
E essa honra pode ser manchada muito facilmente, de acordo com os costumes locais: basta que uma jovem fale com um menino; que uma mulher casada peça o divórcio ou até que seja estuprada.
"Basta um simples rumor", explica Nilgün Yildirim, do Centro de Mulheres de Diyarbakir (Kamer).
O marido pedirá à família dela que limpe sua honra e a assembleia familiar deverá decidir como castigar a mulher que "desonrou" o clã.
"Se uma mulher à qual a sociedade considera merecedora de castigo não for punida, a vida para a família se torna impossível: os vizinhos não te cumprimentam e nas lojas não te vendem nada. Todo mundo tenta marginalizar a família que não lavou sua honra", relata Yildirim.
Muitas vezes, são os homens da família que avisam as associações como a Kamer que um crime está a ponto de ser cometido.
"São pessoas que se opõem ao assassinato, mas não têm poder para impedi-lo dentro da assembleia familiar", acrescenta o especialista.
"Denunciar não é fácil para uma mulher, é preciso muita coragem. A pessoa se expõe a um grande risco. Apesar de tudo, nos últimos anos houve um grande aumento das denúncias", relata Demet Öztürk, do colégio de advogados de Diyarbakir.
Para essa mudança, contribuem as campanhas de conscientização das associações de mulheres e a rede formada pelos serviços sociais das prefeituras e os advogados, que permite proteger as vítimas da violência ao levá-las para casas de amparo e oferecer assessoria jurídica.
As associações também conseguiram com que o governo elevasse as penas de prisão para quem comete crimes machistas e desde 2005 é possível acusar todos os membros da família que participaram da decisão de matar uma mulher.
"A Promotoria pode chamar um povoado inteiro para depor. E também são muito importantes os registros telefônicos, para saber quem e até que nível está envolvido", conta a advogada Gülay Alan.
"De qualquer forma, apesar de a lei ser boa, a mentalidade impede que seja colocada em prática integralmente", lamenta-se Yildirim.
"Nós crescemos aqui e sabemos como as coisas funcionam. Quando uma mulher ameaçada quer voltar para casa, procuramos uma pessoa dentro de sua família que queira protegê-la. Esta pessoa deve dar sua palavra que ninguém voltará a tocá-la e, além disso, procuramos alguém respeitado - um prefeito ou um imame - que garanta que a palavra dada vai ser respeitada", explica.
Felizmente, nas regiões curdas, a palavra de uma pessoa tem tanta importância quanto a honra."[G1]
Por fim, se o problema é a segurança do Estado, a França deveria proibir também que freiras usassem véus. Quem me garante que debaixo daquela batina uma freira não leva uma bomba? Aliás, por que não remover também os vestidos de todas as mulheres? Vamos todos andar pelados, assim o Estado pode descansar em paz, em segurança.
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