Aproveitando meu primeiro dia de férias, me debruço sobre a tragédia mais recente que engordou a conta bancária da nossa Imprensa Abutre, chamada de Chacina do Realengo.
Eu estava no serviço quando o pessoal começou a comentar sobre o atentado. Minha primeira reação foi lembrar que casos assim eram comuns nos EUA e nós, brasileiros, em nosso provincianismo e bairrismo, dizíamos como era bom que isso não acontecia no Brasil. Então jogaram ao público que o autor estava envolvido com o Islamismo. Nós também diziamos, quando víamos notícias internacionais sobre atentados praticados por radicais e fundamentalistas islâmicos, como era bom que isso não acontecia no Brasil.
Conforme avançavam as investigações, novas "explicações" surgiam, mas não convencem nem justificam: a mãe dele era esquizofrênica, ele era reservado, ele era tímido, ele sofria discriminação na escola. Ah sim, a palavra da moda, bullying. Antes a palavra da moda era pedofilia. Mas o que vemos é a sociedade e o comércio estimulando a erotização precoce das crianças e adolescentes, como o lançamento de lingeries com enchimento para meninas de seis (6!) anos.
Nenhuma das explicações servem. A minha mãe tem esquizofrenia e eu fui zoado na escola. Muitos brasileiros tem histórias semelhantes. Mas nem eu nem estas outras pessoas foram em busca de "vingança" por algo que aconteceu na infância e adolescência, descontando em cima de gente inocente que não tem culpa alguma. O que tentam evitar, fora o "perfil de distúrbio mental" do criminoso, é sua evidente identificação com uma ou mais formas de fundamentalismo religioso. Cenas na residência do autor mostram inúmeros livros "religiosos", a saber, bíblias e o Livro de Mórmon.
A comunidade islâmica tratou de desmentir que o matador fosse membro de alguma mesquita. A comunidade das Testemunhas de Jeová também desmentiram que ele fosse membro de alguma igreja. Se tivessem encontrado algum livro de bruxaria, ninguém iria perguntar ou ouvir a comunidade pagã, como já aconteceu em outros crimes. Apesar da negação, basta ler estes livros e estudar a doutrina para ver que o germe do fundamentalismo e do fanatismo estão ali, como um ovo de basilisco. Mas mesmo isso não é suficiente para entender a tragédia.
O elemento que mais se quer evitar de falar está na nossa sociedade. Nós vivemos e reproduzimos um sistema onde a violência é encorajada, aplaudida, comercializada. Basta vermos os filmes e jogos de sucesso. Basta vermos as ações militares pelo mundo. Basta vermos as ações policiais pela cidade.
A política da administração de empresas é a agressividade. O comportamento mais elogiado diante da comunidade é a agressividade - o assédio moral, o bullying, é apenas um sintoma. A sociedade apenas recebeu de volta os frutos de sua beligerância, neste e em outros casos.
Nós estamos criando e chocando um ovo de basilisco. Se o brasileiro quer realmente saber quem é o culpado pelo atentado em Realengo, basta ele olhar-se no espelho.
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