quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Arquétipos, egrégoras, Deuses

Quando nós queremos comemorar um evento especial ou aniversário nós convidamos apenas a amigos, parentes e a família. Nós temos tanto critério para algo tão informal, devemos ter muito mais critério para algo formal como um culto. Quando convidamos alguém para uma festa, nós temos o cuidado de endereçar os convites corretamente, com o nome e o tratamento adequado a cada convidado. Nós temos tanto cuidado para algo tão informal, devemos ter muito mais cuidado para algo formal como evocar os Deuses em nossas cerimônias.
Assim como meu pai e seu pai são pessoas diferentes a despeito de ambos serem pais e homens, os Deuses não podem ser confundidos ou mesclados em uma mesma cerimônia. Cada Deus ou Deusa tem sua personalidade. Eu considero um desrespeito, um sacrilégio, misturar Deuses de panteões distintos na mesma cerimônia, como se fossem meros arquétipos.
Quando falamos de uma religião genérica, é comum haver sincretismo entre diversas crenças. O Neopaganismo como é uma religião genérica, sem pretensões sacerdotais, permite a nós, Pagãos, que escolhamos os Deuses e os panteões de nossa preferência, uma vez que isto é pessoal. Mas quando falamos com uma religião mais específica, como a Wica, a escolha do panteão é limitada, uma vez que isto é condicional.
Por definição, a Wica é uma religião Duoteísta, ou seja, um Deus e uma Deusa e, dentro das cerimônias, há a adoção de um determinado panteão politeísta, ou seja, os Deuses destes panteões serão evocados abaixo do Casal Divino. Este panteão varia, conforme a tradição, a linhagem e o coven. Em termos gerais, existem alguns critérios para que um panteão possa ser utilizado nessas cerimônias, um deles é a egrégora, outro são os mitos e, por fim, a qual etnia este panteão pertence.
Cada povo (etnia) desenvolveu uma egrégora que, por simpatia e semelhança, atraiu um determinado panteão. Conforme o conjunto entre etnia, egrégora e região, os mitos foram sendo desenvolvidos e, partindo destes, os ritos, até uma religião se consolidar. Ou seja, a identidade e personalidade de cada um dos Deuses estão ligados à egrégora, à etnia e aos mitos.
No tocante à Wica, os panteões mais usados são o Egípcio, o Grego, o Romano, o Celta. Eventualmente o Babilônico, o Assírio, o Fenício, o Sumério. O panteão escolhido deve ter em seus mitos e mistérios alegorias que nos remetam aos ciclos da vida e às estações da natureza. Outros panteões, ainda que os Deuses estejam ligados à uma etnia, ainda que sejam antigos e originais, ou que estejam simbolicamente à natureza, lhes faltam os mitos e os mistérios vinculados a estes elementos.
Um bom exemplo são os chamados Deuses do dito panteão Africano, muito em voga entre os neopagãos brasileiros. Há um equívoco muito comum quando se iguala os Orixás cultuados nas religiões afro-brasileiras com os Deuses Antigos, sobretudo em definir os Orixás como sendo um panteão Africano. A África é um continente, não uma etnia. Os Orixás foram trazidos às colônias espanholas e portuguesas pelos negros que vieram da África por causa da escravidão. Este negros tinham sua etnia e são por estas etnias que a personalidade e identidade dos Orixás pode ser determinada. Afirmar que os Orixás podem ser usados na cerimônia wiccana da mesma forma que os Deuses Egípcios o são é de uma grosseria sem par.
Os Orixás não são Deuses, não pertencem a um panteão Africano. Os Orixás são entidades ligadas à etnia Yorubá, cuja religião não possui mitos ou mistérios vinculados aos ciclos da vida e estações da natureza. Podem ser cultuados privadamente pelos Pagãos que se interessem pelas religiões afro-brasileiras, segundo as tradições e cerimônias estabelecidas. Não faz sentido algum que um bruxo de uma etnia diferente da Yorubá os use em seu Ofício. Não faz sentido que um wiccano de uma tradição diferente da afro-brasileira os use em suas cerimônias. Afirmar, com base na leitura dos arquétipos, que os Orixás podem ser usados em cerimônias wiccanas, faz tanto sentido quanto usar os Santos Cristãos.

2 comentários:

Gabriel Carvalho disse...

Você está equivocado, amigo, pois os orixás são deuses, componde um panteão enorme, possuem mitos e possuem seus mistérios. A religião iorubá não é simples,afirmar o contrário é um grande equívoco. Mas cercada de mistérios que só podem ser conhecidos pelos iniciados. Por favor, reveja seus conceitos e compreenda a mitologia iorubá.

Abraço.

betoquintas disse...

obrigado pela atenção e correção. o foco do texto, deve-se dizer, é que os orixás tem seus mistérios e um sacerdócio próprio, não é algo que se possa adapatar ou assimilar a outra forma de mistério e sacerdócio. e como são Deuses, não é cabivel uma interpretação dos mesmos como se fossem meros arquétipos.