Os cidadãos que estavam reunidos no Areópago para ouvir o discurso de Saulo sobre o 'Deus desconhecido' tinham poucos motivos para serem otimistas quanto ao futuro da religião. Os Caminhos Antigos estavam morrendo, os Deuses Antigos pareciam abstratos e embora cultos e filosofias apareciam em todo lugar, nenhuma delas pareciam ser ideais para a tarefa de dar às pessoas desse Império Cosmopolita uma visão moral capaz de fazer sentido em um mundo tão diferente do mundo de seus ancestrais. A velha religião agrária trazia nostalgia, mas era obsoleta e incompatível para governar um Império Cosmopolita; as filosofias gregas do Platonismo e do Estoicismo eram intelectualmente satisfatórias, mas tinham pouco apelo ao homem comum; o Judaismo estava se espalhando e tinha seus atrativos, mas a questão política da independencia judaica tornava dificil reconcicliar com o patriotismo romano; as religiões de mistério de deuses-salvadores como Dioniso ou Mithra produziram poderosas experiências religiosas, mas elas não davam pistas de como canalizar essa energia para algum propósito social útil.
- Homens de Atenas! Em tudo vejo que vocês são muito religiosos. Porque, quando eu estava passando pela cidade, olhando os lugares onde fazem suas reuniões religiosas, encontrei um altar no qual está escrito AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse Deus que vocês adoram sem conhecer á justamente aquele que eu estou anunciando.
A exposição paulina foi curta. Disse à platéia dos aeropagitas que considerava os atenienses o povo mais religiosos do mundo porque, quando visitava a cidade, em meio a incontáveis estátuas de deuses, encontrara uma inscrição singular que lhe chamara a atenção: "ao Deus Desconhecido", dizia ela. Naquele cidade até um deus que ninguém sabia quem era, ou quem fosse, era digno de veneração! A existência desse deus abstrato entre tantos outros cultuados, mostrara a Paulo ter o nascente cristianismo um ponto em comum com os atenienses, pois o Deus que ele pregava "não habita em templo feito por mão humana" e, igualmente, "não é servido por mãos humanas".
Era, pois, também um "Deus desconhecido", que paira sobre tudo e está acima de tudo.
Parece ter comovido poucos. Depois, correndo a noticia da sua chegada, alguns filósofos, supõe-se que estóicos e epicuristas, teriam manifestado o desejo, simples curiosidade, de conhecer o evangelista mais de perto, pois, "os atenienses, com efeito, e também os estrangeiros aí residentes, não se entretinham com outra coisa senão em dizer, ou ouvir, as últimas novidades". Quais seriam suas idéias, e o que vinha aquele pregador da Judéia anunciar que eles de antemão já não soubessem?
Nada ouviram falar dele, mas a cidade há séculos estivera com suas portas abertas para todo e qualquer tipo de pensamento. Atitude aliás, acerbamente reprovada por Sócrates e seu discípulo Platão. Mas Atenas era assim, um bazar da filosofia e da mais diversas excentricidades.
Os atenienses que se interessaram pela nova religião viram nela o potencial que esperavam. Ela unia o monoteismo mitico dos Judeus ao monismo de Platão e adicionava uma advertência para dar a César o que era de César. Ela propiciava um novo salvador cujos rituais eram semelhantes aos de Mithra e produzia uma experiência religiosa poderosa chamada Espírito Santo.
A idéia de um Deus Universal, uma Causa Primordial, não era novo aos Gregos, muito antes de dominarem os Judeus a filosofia de Platão havia cristalizado o conceito do Logos e os Judeus helenizados souberam usar desse conceito para dar ao Deus dos Israelitas uma identidade mais cosmopolita e mais universal.
O que Saulo, como bom proselitista da nova religião, não expôs aos atenienses naquela tarde que em breve não faria muita diferença, eram os detalhes quanto às raízes e origens desse Deus Desconhecido, bem como a terrível doutrina que deveria ser seguida à custa de perder o contato com os amigos, os familiares e a sociedade.
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