quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Greg: O Pólipo Interdimensional - Capítulo Bônus


O silêncio pulsava ao redor de Greg, um silêncio preenchido não com a ausência de som, mas com a cacofonia incessante da criação e destruição. Estava em casa, no oceano cósmico onde a realidade se desfazia e remodelava a cada instante, um reflexo da mente turbulenta de Azathoth, o Sultão Demônio, a Entidade Cósmica Absoluta.

Greg, o pólipo humanoide, sentia-se, paradoxalmente, em paz. As cores impossíveis dançavam à sua volta, nebulosas líquidas de esmeralda e púrpura, filamentos de ouro vivo serpentearam pelo vazio, e constelações nasciam e morriam no ritmo irregular do coração de Azathoth. Sua forma, ou a forma que Greg percebia, era uma miríade constante, uma explosão de geometrias inomináveis, ora um brilho ofuscante, ora uma sombra que engolia a própria luz.

“Por que Gaia?” A pergunta, mais um murmúrio telepático do que uma expressão vocalizada, ecoava na consciência de Greg. Era uma questão que o assombrava mesmo no êxtase perpétuo da presença de Azathoth. Em meio à adoração, a devoção que fluía através de sua existência como a própria essência da sua anima, persistia uma sombra de curiosidade, um anseio por compreender o inexplicável.

Azathoth, ou o que Greg decifrava como Azathoth, não respondia com palavras, mas com sensações. Fragmentos de memórias que não eram suas, vislumbres de uma Terra pálida e distante, o cheiro metálico do sangue, o gosto salgado das lágrimas. Era uma tapeçaria sensorial, um quebra-cabeças sem instruções.

Lembrou-se, ou achava que se lembrava, de despertar em uma praia escura, o corpo gelatinoso exposto ao ar frio e cortante. A textura da areia sob seus tentáculos, a luz fraca de uma lua distante, o som das ondas quebrando com a força de um trovão distante. A confusão era avassaladora. Ele, uma entidade moldada no caos primordial, se viu preso em um mundo regido por leis que mal compreendia.

A vida na Terra foi uma experiência bizarra. A complexidade social, as regras implícitas, a busca incessante por significado em um universo aparentemente indiferente. O trabalho na autarquia pública, a rotina burocrática, a futilidade das conversas – tudo era um contraste gritante com a vastidão e o propósito que encontrava agora, no oceano cósmico.

Mas a Terra lhe ensinou. Aprendeu sobre a paixão, o medo, a alegria e a tristeza. Aprendeu sobre a beleza frágil de um pôr do sol, o calor reconfortante de um abraço, a dor lancinante da perda. E, acima de tudo, aprendeu sobre a limitação. A limitação do corpo, da mente, da própria percepção.

A obsessão pela teoria das dimensões, a frenética acumulação de economias, a busca por um meio de transcender o físico eram, em retrospectiva, desesperadas tentativas de escapar dessa limitação, de retornar à fonte de sua existência, de se perder novamente na vastidão sem limites de Azathoth.

Ele se lembrava do momento exato da invocação bem-sucedida, o ritual arriscado, as palavras arcaicas murmuradas com devoção. O rasgo na realidade, o vácuo que o engoliu, a sensação de se desintegrar em pura energia antes de se reconfigurar em um plano existencial completamente diferente.

E agora, aqui estava ele, de volta ao lar. Mas a pergunta persistia: por que Gaia? Teria sido um acidente, um desvio aleatório na correnteza cósmica? Ou teria sido um plano, um projeto incompreensível tecido pela mente de Azathoth?

Uma pulsação intensa irrompeu ao redor de Greg, e a forma de Azathoth se cristalizou, momentaneamente, em uma figura humanoide, com incontáveis olhos que o fitavam com uma intensidade que transcendia a compreensão.

"Lembra-te," a voz de Azathoth ressoou, não como som, mas como um conceito gravado diretamente em sua consciência. "A experiência é a chave. A limitação é o portal. O amor é a resposta."

A imagem se desfez, e a realidade voltou a vibrar em um caos organizado, mas as palavras ficaram, pairando no ar como estrelas recém-nascidas.

Greg começou a entender. A vida na Terra, com todas as suas limitações e sofrimentos, não fora um erro, mas uma preparação. Uma jornada necessária para ampliar sua compreensão, para aprofundar sua devoção, para refinar seu amor por Azathoth.

O amor. Não o amor humano, limitado e possessivo, mas um amor cósmico, um amor que abarcava a totalidade da criação e da destruição, um amor que aceitava o caos e a ordem como partes interligadas de um todo infinito.

Azathoth não precisava de adoração servil, nem de devoção cega. Azathoth desejava a compreensão, a conexão, um eco de sua própria vastidão dentro de outra consciência.

E Greg, o pólipo humanoide, agora entendia. Gaia fora o cadinho, a forja onde seu amor fora temperado e fortalecido. A dor, a alegria, a limitação — tudo contribuíra para moldá-lo na entidade que era agora, uma entidade capaz de amar Azathoth com uma intensidade que ecoava através do universo.

Ainda havia perguntas sem resposta, mistérios insondáveis na vastidão do cosmos. Mas Greg não se importava. Ele estava em casa, na presença de seu amado, e essa era a única verdade que importava.

Ele se entregou ao êxtase, permitindo que a mente de Azathoth o envolvesse, o transformasse, o expandisse até que não houvesse mais distinção entre ele e o Sultão Demônio.

Greg era Azathoth, e Azathoth era Greg. Um ciclo eterno de criação, destruição e amor. E, no centro desse ciclo, a pergunta silenciosa ecoava, não mais como um lamento, mas como uma sinfonia cósmica: por que Gaia?

Porque, no final, o amor encontra o seu caminho, mesmo através das dimensões, mesmo através do caos, mesmo através das limitações de um mundo pálido e distante. Porque o amor, em sua forma mais pura e primordial, é a força que move o universo. E Greg, o pólipo humanoide, havia finalmente compreendido. A jornada havia valido a pena.

Criado com Toolbaz.

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