Inspirado por grupos conservadores e avalizado pelo superintendente republicano Ryan Walters, o exame promete identificar “doutrinadores de esquerda”. A ironia é que, em nome de combater um suposto “doutrinamento woke”, cria-se um doutrinamento de direita, baseado em desconfiança sobre as eleições de 2020, na imposição de uma orientação religiosa particular e em visões rígidas sobre gênero e sociedade.
O termo “woke” designa um movimento cultural cada vez mais em voga nas esferas democráticas e progressistas dos Estados Unidos. A palavra “woke” vem originalmente do inglês e significa literalmente “acordado”. No início, era uma gíria usada dentro da comunidade afro-americana para se referir a alguém consciente das injustiças sociais e raciais - alguém “desperto” para as desigualdades. Com o tempo, o termo se expandiu e passou a englobar também a consciência sobre direitos civis, igualdade de gênero, diversidade sexual e proteção de minorias.
Ser “woke” era estar atento ao racismo estrutural, à violência policial e às exclusões sociais. Setores conservadores, notadamente o dos apoiadores de Donald Trump, transformaram “woke” em um rótulo pejorativo, usado para criticar pessoas ou instituições vistas como “politicamente corretas demais”, “militantes” ou “doutrinadoras progressistas”. Hoje, quando políticos como os direitistas de Oklahoma falam em combater o “woke”, querem dizer que rejeitam pautas progressistas sobre diversidade, gênero, racismo e meio ambiente.
Oklahoma é considerado um dos estados mais fortemente alinhados a Donald Trump. Em 2016 e 2020, Trump venceu em todos os condados do Estado com ampla margem. Em 2020, por exemplo, ele obteve cerca de 65% dos votos. Desde 1968, Oklahoma não vota em um candidato democrata para presidente. É um reduto conservador consolidado. Esse Estado tem forte influência do cristianismo evangélico e do nacionalismo rural, elementos que se alinham com o discurso trumpista. Líderes como Ryan Walters (superintendente de instrução pública) ecoam abertamente a agenda trumpista - desde a desconfiança nas eleições de 2020 até a defesa da presença obrigatória do estudo da Bíblia em escolas.
Sindicatos ligados ao ensino protestaram contra a implantação do teste de pureza ideológica, acusando a iniciativa de ser um ataque à liberdade de expressão e um erro estratégico: em um estado como o de Oklahoma, já carente de professores e com baixo desempenho educacional, a triagem ideológica tende a reduzir ainda mais o número de candidatos.
Na verdade, não se trata de educação, mas de controle e poder. A sala de aula, que segundo a tradição norte-americana deveria ser espaço de debate, diversidade e pensamento crítico, vira trincheira ideológica. Quem perde é a democracia, que depende de cidadãos capazes de pensar por si mesmos - e não de repetir slogans tais como o MAGA – “Make America Great Again”, Tornar a América Grande Novamente”, o slogan que Donald Trump popularizou em sua campanha presidencial de 2016.
Além do autoritarismo evidente por parte do governo, há o absurdo prático: Oklahoma já sofre com falta de professores e baixo desempenho escolar. Filtrar candidatos com base em convicções políticas é um tiro no pé, que empurra o estado ainda mais para a marginalidade educacional.
No fundo, esse teste é menos sobre ensinar crianças e mais sobre ensinar medo. Medo do pensamento livre, medo da diferença e da diversidade, medo de perder poder. A história mostra que quando governos começam a selecionar professores pela ideologia, não demora para que comecem também a selecionar alunos - e cidadãos.
O episódio é mais do que local: simboliza a escalada da guerra cultural em curso nos EUA, onde a sala de aula virou campo de batalha político. Não se trata de educação, mas de poder. E seu nome verdadeiro é: fascismo.
Fonte: https://www.brasil247.com/blog/teste-de-pureza-ideologica-em-oklahoma-um-risco-a-democracia
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