Este texto é uma continuidade necessária ao texto “Polaridade
Sagrada”.
Ali eu citei um aforismo famoso: “conhece a ti mesmo”,
geralmente atribuído à Sócrates, por Platão [assim como a frase “eu só sei que
nada sei”]. O interessante é que tais frases são apócrifas [como o “Paradoxo de
Epicuro”], os registros são posteriores e alegados por terceiros.
O aforismo faz parte de uma lista de aforismos oriundos do Templo
de Apolo em Delfos. Consultando o Oráculo Virtual [Google], eu cheguei na
página do Wikipédia com as 147 máximas do Templo de Apolo em Delfos:
001. Siga a Deus [honre
o Divino].
002. Obedeça a lei.
003. Respeite os Deuses.
004. Respeite seus pais.
005. Seja governado
pela justiça.
006. Saiba o que aprendeu.
007. Perceba o que ouviu.
008. Conheça a ti mesmo.
009. Intencione se casar.
010. Conheça sua oportunidade.
011. Pense como um mortal.
012. Se você é
estrangeiro, aja como tal.
013. Honre o lar/a
lareira (Hesita).
014. Controle-se.
015. Ajude seus amigos.
016. Controle a raiva.
017. Exerça
prudência.
018. Honre a providência.
019. Não use de juramento.
020. Ame a amizade.
021. Apegue-se à disciplina.
022. Persiga a honra.
023. Almeje a sabedoria.
024. Louve o bem.
025. Não culpe ninguém.
026. Louve a virtude.
027. Pratique o que
é justo.
028. Favoreça os amigos.
029. Afaste os inimigos.
030. Exerça nobreza
de caráter.
031. Evite o mal.
032. Seja imparcial.
033. Proteja o que
é seu.
034. Evite o que
pertence aos outros.
035. Escute a todos.
036. Tenha boa reputação.
037. Cuide do que é
seu.
038. Nada em excesso.
039. Use o tempo
com moderação.
040. Preveja o futuro.
041. Despreze a insolência.
042. Tenha respeito
pelos suplicantes.
043. Acomode-se em tudo.
044. Eduque seus filhos.
045. Dê o que tem
[o que é excedente].
046. Tema o engano.
047. Fale bem de todos.
048. Torne-se um amante/amigo
da sabedoria.
049. Escolha o divino.
050. Aja quando souber.
051. Evite
assassinar.
052. Deseje coisas possíveis.
053. Consulte o sábio.
054. Teste o caráter.
055. Devolva o que
recebeu [o que pegou emprestado].
056. Menospreze a ninguém.
057. Use sua habilidade.
058. Faça o que lhe
é devido fazer.
059. Honre a generosidade.
060. Não inveje a ninguém.
061. Vigie-se.
062. Louve a esperança.
063. Despreze um caluniador.
064. Ganhe posses justamente.
065. Honre bons homens.
066. Conheça quem é
o juiz.
067. Controle seus casamentos.
068. Reconheça a sorte.
069. Evite um penhor.
070. Fale
abertamente.
071. Associe-se com
seus iguais.
072. Domine suas despesas.
073. Contente-se
com o que tem.
074. Respeite um
senso de vergonha.
075. Retorne o favor.
076. Ore por felicidade.
077. Abrace seu destino.
078. Ouça e observe.
079. Trabalhe pelo
que pode possuir.
080. Despreze a contenda.
081. Deteste a desgraça.
082. Refreie a língua.
083. Evite a violência.
084. Faça
julgamentos justos.
085. Use o que tem.
086. Seja incorruptível
em seu julgamento.
087. Acuse quem
está presente.
088. Diga quando souber.
089. Não tenha violência.
090. Viva livre de arrependimentos.
091. Conviva gentilmente.
092. Termine a
corrida sem recuar.
093. Seja gentil
com todos.
094. Não amaldiçoe
seus filhos.
095. Governe sua
esposa.
096. Beneficie a si
mesmo.
097. Seja cortês.
098. Dê uma
resposta oportuna.
099. Lute pela glória.
100. Aja com decisão.
101. Arrependa-se
dos seus erros.
102. Controle o olho.
103. Dê um conselho
oportuno.
104. Aja sem hesitação.
105. Vele pela amizade.
106. Seja grato.
107. Busque a harmonia.
108. Guarde em
segredo o que for segredo.
109. Tema o poder.
110. Busque o que é
proveitoso.
111. Aceite a
medida devida.
112. Acabe com as inimizades.
113. Aceite a velhice.
114. Não se
vanglorie do poder.
115. Exerça
silêncio (religioso).
116. Evite
inimizade.
117. Adquira
riqueza justamente.
118. Não abandone a
honra.
119. Despreze o mal.
120. Assuma riscos prudentemente.
121. Não se canse
de aprender.
122. Não deixe de
ser frugal.
123. Admire os oráculos.
124. Ame quem você
cria/educa.
125. Não se oponha
a alguém ausente.
126. Respeito o ancião.
127. Ensine ao jovem.
128. Não confie na riqueza.
129. Respeite-se.
130. Não inicie a violência.
131. Honre seus ancestrais.
132. Morra por sua pátria.
133 Não se
descontente com a vida.
134. Não faça piada
com os mortos.
135. Divida o fardo
dos desafortunados.
136. Gratifique sem
danos.
137. Não lamente
por ninguém.
138. Produza o bem
do bem.
139. Não faça
promessas a ninguém.
140. Não faça mal
aos mortos.
141. Faça dentro de
suas possibilidades mortais.
142. Não confie na sorte.
143. Quando for criança,
seja bem comportado.
144. Quando for
jovem, seja bem disciplinado.
145. Quando for
adulto, seja justo.
146. Quando for
velho, seja sensível.
147. Quando chegar
o fim, que seja sem tristeza [sem arrependimento].
Eu estou citando a lista do Wikipédia de seus verbetes em
português e inglês.
Mas, afinal, quem é esse “eu”, ou “self”, ao qual se deve
conhecer?
“A filosofia do si ou self, ou filosofia do eu, em
referência ao eu essencial ou si mesmo, define, entre outras coisas, as
condições de identidade que tornam um sujeito da experiência distinto de todos
os outros. As discussões contemporâneas sobre a natureza do self não são,
portanto, discussões sobre a natureza da personalidade ou da identidade
pessoal. O eu às vezes é entendido como um ser unificado essencialmente
conectado à consciência, autopercepção e agência (ou, pelo menos, com a
faculdade da escolha racional). Várias teorias sobre a natureza metafísica do
eu foram propostas. Entre elas, a natureza metafísica do eu foi proposta como
sendo a de uma substância imaterial”.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia_do_si
Ainda assim, até que ponto o “eu”, o “self”, ou consciência,
pode ser afirmada, experimentada, evidenciada ou expressa? Parece que existe um
limite, senão não há como falar no conceito de “Eu”, “Self” [I] ou “Ser/Estar”
[Am] Supremo.
O “conhecimento de si mesmo” [autoconhecimento] é um estudo
que faz parte da psicanálise. Em termos da espiritualidade, nós podemos separar
em duas escolas: a ocidental e a oriental.
Na escola oriental, “o ser humano é frequentemente concebido
como estando na ilusão da existência individual e da separação de outros
aspectos da criação. Esse [...] senso de existência individual [...] acredita
que deve lutar por si mesma no mundo; é, em última análise, despercebido e
inconsciente de sua própria natureza verdadeira. O ego é frequentemente
associado à mente e ao sentido do tempo, que pensa compulsivamente para ter
certeza de sua existência futura, em vez de simplesmente conhecer o seu próprio
eu e o presente. O objetivo espiritual de muitas tradições envolve a dissolução
do ego, em contraste ao Self essencial, permitindo que o autoconhecimento da
própria natureza verdadeira se torne experiente e atuado no mundo.” [Wikipédia –
Filosofia do Si].
Na escola ocidental, o neoplatonismo aparentemente concorda
com a escola oriental, ao definir o conceito do Um [ou Uno] e do Nous
[intelecto/razão], o primeiro sendo um Mundo Invisível [transcendental] e o
segundo um Mundo Fenomenal [que é emanação do primeiro]. Um bom exemplo disso é
a filosofia de Platão quanto ao Mundo das Ideias e das Formas. O terceiro
princípio no Neoplatonismo é a Anima Mundi [Alma], princípio fundamental da
vida e força vital presentes na natureza. O que não se explica é como essa
Anima Mundi se torna múltipla e individual, dividida e proporcional, conforme
as características dos seres vivos.
Eu citei, também, a Teosofia e o Movimento “I Am” [“Eu Sou”],
atribuído a Saint Germain. Apesar de algumas convergências conceituais com a
escola oriental [sobretudo com o Advaita Vedanta], o Movimento “I Am” endossa a
existência de uma hierarquia de seres espirituais, dentre estes, os chamados
Mestres Ascencionados, que conquistaram tal “evolução espiritual” após
sucessivas reencarnações. Curiosamente, tais “mestres ascencionados” são
capazes de se comunicar apenas com determinados mensageiros “escolhidos”.
Guy Ballard foi o primeiro dos “escolhidos” que encontrou no
monte Shasta, com o próprio Conde de Saint Germain na [suposta] Grande
Fraternidade Branca. Racismo?
O Conde de Saint Germain é um personagem lendário na
Teosofia. A pessoa real, entretanto, mostra que ele “era um aventureiro europeu,
com interesse em ciência, alquimia e artes. Ele alcançou destaque na alta
sociedade europeia em meados do século XVIII. [...] St. Germain usava uma
variedade de nomes e títulos, uma prática aceita entre a realeza e a nobreza da
época. [...] A fim de desviar as investigações sobre suas origens, ele faria
afirmações rebuscadas, como ter 500 anos de idade [...]. Seu nome verdadeiro é
desconhecido enquanto seu nascimento e origem são obscuros [...]”.
https://en.wikipedia.org/wiki/Count_of_St._Germain
Um impostor sendo usado por outro impostor. Algo infelizmente
muito comum no meio esotérico [e no meio do Paganismo Moderno].
Voltemos ao “Eu” ou “Self”. O aforismo diz que é necessário
conhecer. Isso indica que há algo a aprender, bem como um ensinamento. Tem um
objeto a ser observado, um observador e a observação. Tem algo a ser conhecido,
tem um conhecedor e o conhecimento. Então nós podemos incluir um professor e
uma escola. O conhecimento do “Eu” ou do “Self” só pode ser concluído por assimilação,
compreensão, percepção, comparação, contraste, discriminação e categorização.
No ultimo episódio de Neon Genesis Evangelion, o diálogo
final tem algo que nos interessa. Ali, Rei Ayanami diz: “você não pode se ver a
menos que haja outros”. A ideia [imagem] de humano começa a existir e ter
sentido a partir do momento em que ocorre essa percepção de que há identidade e
personalidade distintas entre a pessoa “eu” e a pessoa “outro”. Como podemos
ver no discurso de Misato Katsuragi: “ao perceber a diferença entre você e os
outros, você forma a sua imagem”. O mundo também é percebido em uma forma de
ideia [imagem] e é necessário ocorrer a distinção/separação entre o mundo e a
pessoa para que a identidade faça sentido. Ainda que seja uma ideia [imagem],
sem contraste é impossível formar a noção/ a consciência de mundo e pessoa. O
mesmo é verdadeiro, quando pensamos na noção de “Eu”, de “Self”, como a própria
filosofia do Advaita Vedanta reconhece [embora não tenha percebido essa falha
no raciocínio]: só se pode conhecer o “Eu”, o “Self”, conhecendo o que não seja
o “Eu”, o “Self”. Uma metafísica interessante e esquisita, pois baseia a existência
do Absoluto na existência do inexistente.
Quem ou o quê é esse “Eu”?
Como e por que esse “Eu” formou a vida e o mundo?
Como e por que esse “Eu” se tornou múltiplo, individual,
dividido e proporcional?
Infelizmente eu não tenho elementos suficientes para
resolver essa questão existencial.
Se for possível, eu vou pensar nas respostas no colo da
Deusa. };)
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