quarta-feira, 20 de outubro de 2021

A falsa promessa

Eu imagino que isso deva acontecer com o eventual e caro leitor. Sua campainha toca de manhã cedo? A “visita” [não solicitada - spam] quer te falar da Boa Nova ou te convida para o culto? A mensagem pode ser vista, lida e ouvida em milhares de canais. O neopentecostalismo se expande, graças à extorsão que os pastores praticam com seu séquito. Mas eu não estou sendo [muito] rabugento, o fundamentalismo é uma característica do Cristianismo, senão das religiões abraãmicas.

Sim, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo consideram Abraão o Patriarca dessas religiões. Eu não vou apontar para os sinais óbvios – Abraão é um personagem mítico e muito do que se alega dele e de sua crença vem das escrituras sagradas, escrituras cheias de contradições, interpolações, fraudes, péssimas traduções, escritos póstumos [apócrifos] e incoerências.

Vamos por partes, como diz Chico Picadinho. As religiões de livro se baseiam naquilo que está escrito, pressupondo que ali contém a verdade, porque foi escrita [ou inspirada] por Deus. E isso é um problema para essas religiões, porque teologicamente essas religiões não concordam entre si sobre quem é Deus. Olhando a história, os Cristãos brigaram, lutaram e guerrearam entre si por causa de diferenças teológicas, eu te convido a ler meu texto sobre a Controvérsia Ariana.

No Judaísmo, eu aponto as diferenças entre Saduceus e Fariseus, para nos atermos à escritura sagrada destas religiões. No Islamismo, eu aponto as diferenças entre Sunitas e Xiitas, só para citar os grupos mais conhecidos. Resumindo, nem entre eles existe consenso, então como querem que nós simplesmente aceitemos o que eles têm a falar sobre Deus?

Mas voltemos a Abraão. Ele nasceu na cidade de Ur, na região da Caldéia, Babilônia. Como Cananeu, Abraão provavelmente fazia culto a diversos Deuses e Deusas [os Hebreus eram, originalmente, politeístas], entre eles o Deus El, de onde vem o termo Elohim, ou Filhos de El, um termo muito usado nas escrituras sagradas para se referirem ao Deus de Israel, Jeová, que é um dos dez Elohim. Portanto, encerra-se a alegação de que Jeová é o Deus Único e Verdadeiro.

Mas o problema não acaba aqui. As escrituras sagradas descrevem esse Deus como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Portanto, Ismael, o suposto filho bastardo de Abraão, de quem Maomé alega ser herdeiro e profeta de Deus [Allah], está fora da herança.

Ou seja, mesmo sendo descendente de Abraão, Ismael não pode contar com as promessas feitas por esse Deus. E tem mais gente de fora desse clube restrito. Os outros filhos de Abraão estão automaticamente excluídos, só contando Isaque. De seus descendentes, apenas Jacó recebeu a benção, seu irmão, Esaú, foi excluído, apesar de seu direito legítimo de progenitura, tendo sido inventado a história de que ele “vendeu” seu direito por um prato de cozido – ou seja, esse Deus não garante suas promessas e bênçãos.

Técnica e logicamente falando, Moisés ficaria de fora, por isso foi inventado a história que Moisés teve uma revelação desse Deus no monte Horebe. Mesmo assim, existem exceções. Quando falamos das Doze Tribos de Israel, a saber, que recebem o nome conforme o descendente de Jacó, a tribo de Benjamin foi apartada [excomungada] do Reino de Israel. Ou seja, esse Deus quebrou a promessa que fez ao povo que as escrituras dizem ser o seu povo.

E chegamos ao ponto nevrálgico da questão. Os Cristãos acreditam em Cristo, sendo que este personagem, de acordo com as escrituras sagradas, tem por missão congregar o Povo de Israel para o Juízo Final, após o qual, Deus dará a Israel um Novo Mundo. Em sua acepção conceitual, segundo as profecias, Cristo, o Ha-Massiah, não é Filho de Deus, mas um Mensageiro enviado para congregar o Povo de Israel, para conduzi-lo ao arrependimento e purificação, para que pudessem entrar no Reino de Deus. Eu vou ser ainda mais específico, segundo as profecias, Cristo tem que ser da raiz de Jessé e Davi, o que o Cristo dos Cristãos não é, segundo consta nos Evangelhos. Resumindo, todos os que não são parte do Povo de Israel não poderão desfrutar das promessas feitas por esse Deus. Todos os que acreditaram nesse Cristo propalado dos Evangelhos não poderão desfrutar das promessas desse Deus. Lamento dizer isso aos Cristãos, mas eles estão “comprando” uma falsa promessa.

O Cristo que vocês acreditam é fruto de uma teologia e doutrina desenvolvida ao longo dos séculos. O Deus que vocês acreditam é um Frankenstein teológico, uma multinacional, sem conexão com qualquer povo ou solo, sem conexão com as origens e raízes das pessoas.

Por minha própria experiência eu sei que nada do que eu diga irá convencer os Cristãos. Eu ignoro a propaganda enganosa e jogo no lixo os panfletos mentirosos.

Então um dia eu recebi uma visita inusitada. Uma bela mulher, em uma túnica cor de violeta, estende um flyer.

- Venha ao Grande Sabá! Vai ser divertido!

Eu abro o convite, achando que é uma propaganda do dianismo [igualmente enganoso]. Mas evidente que eu não vou poder falar do conteúdo. Eu levo os votos de sigilo a sério. Um enorme sorriso se forma em meu rosto, acompanhado de uma igualmente enorme ereção. Eu irei rever meus ancestrais e meus finados parentes. Eu irei rever meu Doce Senhor. Eu irei rever minha Deliciosa Senhora. Depois de tanta luta, esforço, dificuldade, sofrimento e privação, eu poderei entrar no Santo dos Santos, que fica entre as pernas daquela que eu não ouso dizer o Nome.

Assim seja, assim é, assim será.

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