Eu imagino
que isso deva acontecer com o eventual e caro leitor. Sua campainha toca de
manhã cedo? A “visita” [não solicitada - spam] quer te falar da Boa Nova ou te
convida para o culto? A mensagem pode ser vista, lida e ouvida em milhares de
canais. O neopentecostalismo se expande, graças à extorsão que os pastores
praticam com seu séquito. Mas eu não estou sendo [muito] rabugento, o fundamentalismo
é uma característica do Cristianismo, senão das religiões abraãmicas.
Sim, o
Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo consideram Abraão o Patriarca dessas
religiões. Eu não vou apontar para os sinais óbvios – Abraão é um personagem
mítico e muito do que se alega dele e de sua crença vem das escrituras
sagradas, escrituras cheias de contradições, interpolações, fraudes, péssimas
traduções, escritos póstumos [apócrifos] e incoerências.
Vamos por
partes, como diz Chico Picadinho. As religiões de livro se baseiam naquilo que
está escrito, pressupondo que ali contém a verdade, porque foi escrita [ou
inspirada] por Deus. E isso é um problema para essas religiões, porque teologicamente
essas religiões não concordam entre si sobre quem é Deus. Olhando a história, os
Cristãos brigaram, lutaram e guerrearam entre si por causa de diferenças
teológicas, eu te convido a ler meu texto sobre a Controvérsia Ariana.
No Judaísmo,
eu aponto as diferenças entre Saduceus e Fariseus, para nos atermos à escritura
sagrada destas religiões. No Islamismo, eu aponto as diferenças entre Sunitas e
Xiitas, só para citar os grupos mais conhecidos. Resumindo, nem entre eles
existe consenso, então como querem que nós simplesmente aceitemos o que eles têm
a falar sobre Deus?
Mas voltemos
a Abraão. Ele nasceu na cidade de Ur, na região da Caldéia, Babilônia. Como
Cananeu, Abraão provavelmente fazia culto a diversos Deuses e Deusas [os Hebreus
eram, originalmente, politeístas], entre eles o Deus El, de onde vem o termo
Elohim, ou Filhos de El, um termo muito usado nas escrituras sagradas para se
referirem ao Deus de Israel, Jeová, que é um dos dez Elohim. Portanto,
encerra-se a alegação de que Jeová é o Deus Único e Verdadeiro.
Mas o
problema não acaba aqui. As escrituras sagradas descrevem esse Deus como o Deus
de Abraão, Isaque e Jacó. Portanto, Ismael, o suposto filho bastardo de Abraão,
de quem Maomé alega ser herdeiro e profeta de Deus [Allah], está fora da
herança.
Ou seja,
mesmo sendo descendente de Abraão, Ismael não pode contar com as promessas feitas
por esse Deus. E tem mais gente de fora desse clube restrito. Os outros filhos
de Abraão estão automaticamente excluídos, só contando Isaque. De seus
descendentes, apenas Jacó recebeu a benção, seu irmão, Esaú, foi excluído, apesar
de seu direito legítimo de progenitura, tendo sido inventado a história de que
ele “vendeu” seu direito por um prato de cozido – ou seja, esse Deus não
garante suas promessas e bênçãos.
Técnica e
logicamente falando, Moisés ficaria de fora, por isso foi inventado a história
que Moisés teve uma revelação desse Deus no monte Horebe. Mesmo assim, existem
exceções. Quando falamos das Doze Tribos de Israel, a saber, que recebem o nome
conforme o descendente de Jacó, a tribo de Benjamin foi apartada [excomungada]
do Reino de Israel. Ou seja, esse Deus quebrou a promessa que fez ao povo que as
escrituras dizem ser o seu povo.
E chegamos
ao ponto nevrálgico da questão. Os Cristãos acreditam em Cristo, sendo que este
personagem, de acordo com as escrituras sagradas, tem por missão congregar o
Povo de Israel para o Juízo Final, após o qual, Deus dará a Israel um Novo
Mundo. Em sua acepção conceitual, segundo as profecias, Cristo, o Ha-Massiah,
não é Filho de Deus, mas um Mensageiro enviado para congregar o Povo de Israel,
para conduzi-lo ao arrependimento e purificação, para que pudessem entrar no
Reino de Deus. Eu vou ser ainda mais específico, segundo as profecias, Cristo
tem que ser da raiz de Jessé e Davi, o que o Cristo dos Cristãos não é, segundo
consta nos Evangelhos. Resumindo, todos os que não são parte do Povo de Israel
não poderão desfrutar das promessas feitas por esse Deus. Todos os que
acreditaram nesse Cristo propalado dos Evangelhos não poderão desfrutar das
promessas desse Deus. Lamento dizer isso aos Cristãos, mas eles estão “comprando”
uma falsa promessa.
O Cristo que vocês acreditam é fruto de uma teologia e
doutrina desenvolvida ao longo dos séculos. O Deus que vocês acreditam é um Frankenstein
teológico, uma multinacional, sem conexão com
qualquer povo ou solo, sem conexão com as origens e raízes das pessoas.
Por minha própria experiência eu sei que
nada do que eu diga irá convencer os Cristãos. Eu ignoro a propaganda enganosa
e jogo no lixo os panfletos mentirosos.
Então um dia eu recebi uma visita
inusitada. Uma bela mulher, em uma túnica cor de violeta, estende um flyer.
- Venha ao Grande Sabá! Vai ser divertido!
Eu abro o convite, achando que é uma
propaganda do dianismo [igualmente enganoso]. Mas evidente que eu não vou poder
falar do conteúdo. Eu levo os votos de sigilo a sério. Um enorme sorriso se
forma em meu rosto, acompanhado de uma igualmente enorme ereção. Eu irei rever
meus ancestrais e meus finados parentes. Eu irei rever meu Doce Senhor. Eu irei
rever minha Deliciosa Senhora. Depois de tanta luta, esforço, dificuldade,
sofrimento e privação, eu poderei entrar no Santo dos Santos, que fica entre as
pernas daquela que eu não ouso dizer o Nome.
Assim seja, assim é, assim será.
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