Eu sigo minha vida como espectro no Mundo
Espiritual e no meu emprego na cafeteria na Vila dos Deuses, a Cafeteria
Pantheon. O lado bom é que eu estou trabalhando, o lado ruim é que não
tem descanso, férias, folga ou fim de semana.
Então é inevitável que eu adormeça durante o serviço. O
gerente grita, bravo. Eu acordo e me dou conta de que eu estou entre as pernas
de uma cliente. Desajeitado e acanhado, eu saio do meio das pernas dela e meu
creme de nozes escorre fartamente por entre suas coxas.
- Mil perdões, senhora.
[risos]- Não por isso. Eu sou culpada, afinal, eu solicitei
o “serviço especial”.
O gerente continua bravo e gritando. Eu imagino que seja
ciúme.
- Por favor, não comente isso com as outras Deusas.
- Ah, eu não sou uma Deusa.
[surpreso]- Eu discordo. A senhora tem o porte de uma Deusa.
[risos]- Eu também vou querer repetir a dose, seu tolo. Mas
eu não sou uma Deusa.
- Nesse caso, a quem eu devo a honra e o privilégio de
preencher o ventre?
- Leda, rainha de Lacedemônia, aposentada.
[surpreso]- Perdão por conspurcar vosso majestoso ventre,
rainha.
[risos] – Eu sou a culpada. Eu pedi por esse seu serviço.
- Então perdoe a minha indiscrição, majestade. O que a
trouxe para a Vila dos Deuses?
- Ah, coisas da minha vida mortal. Eu sou ornitóloga e minha
especialidade é os anatídeos.
- Isso é fascinante, vossa majestade, mas como isso vos deu
acesso ao monte Olimpo?
- Eu dispenso gentílicos. Apenas Leda. Bom, eu gosto muito
de anatídeos. Patos, marrecos, gansos e cisnes. Eu gosto tanto que acabei indo
para a cama com um cisne que depois eu descobri que era Zeus disfarçado.
[surpreso]- Deve ter sido desagradável.
[risos]- Ah, nem tanto. Patos são engraçados, mas tem pouco
pescoço. Gansos são vigorosos, mas são muito escandalosos. Cisnes... oh,
puxa... além de serrem graciosos tem pescoços bem longos.
[provocando]- Então o tamanho importa.
[risos]- Ah, depende. Muito grande pode ser bom, mas dói e
causa muito sangramento interno. Eu gosto de avaliar o encaixe e a técnica.
- Então o prazer proporcionado é o que importa.
[séria]- Ah, sim, com certeza.
- Eu posso pressupor, pela sua expressão no seu rosto quando
eu acordei, de que meu “serviço” foi satisfatório?
[roxa]- Divino.
- Mas por que, Leda? Com tantos Deuses, semi-deuses e
heróis, por que escolheu um mero espectro que trabalha em um café?
[se abanando]- Oh, bem... Calisto vive se gabando que
transou com Zeus disfarçado de urso, Europa vive se gabando que transou com
Zeus disfarçado de touro, eu não posso me gabar de ter trepado com Zeus
disfarçado de cisne.
[intrigado]- Isso não explica por que me escolheu.
[assoviando]- Por acaso eu ouvi as Moiras tagarelando algo
sobre um certo espectro.
- Boatos!
- Então... eu andei pesquisando. O senhor tem reputação
entre as Deusas mesopotâmicas. Parece que o senhor carrega consigo o espírito
do Antigo. Eu fiquei intrigada e interessada em saber como é a sensação de
trepar com o Antigo.
- Eu não recordo muito do que aconteceu. A senhora conseguiu
o que queria?
[roxa]- Sim. Ele veio. Você ficou, tipo, três vezes maior e
melhor.
- Isso me deixa feliz e contente. Tem algo mais em que eu
possa servi-la?
[se abanando]- Oh, bem, vamos trocar os números e vamos
manter contato.
- Aqui está meu número. Eu me sinto honrado e privilegiado.
[provocando]- Este é o meu. Na próxima, se você conseguir
manter a consciência, pode fazer o favor de usar a porta de trás.
Leda paga a comanda e deixa algumas dracmas de ouro na caixa
de gorjeta. Ela sai da cafeteria, lançando beijos no ar em minha direção. O gerente
continua a gritar. Que escândalo. Quem vai ter que fazer hora extra sou eu.
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