“O que está em um nome? Uma rosa é uma rosa é uma rosa.”
Eu devo ter lido pela milésima vez esse tipo de argumento.
Essa frase tornou-se famosa graças a Umberto Eco e seu livro “O Nome da Rosa”,
embora sua fonte original venha da tragédia “Romeu e Julieta” de William
Shakespeare:
“Aquela a que chamamos rosa, o mesmo doce odor teria se
outro nome tivesse.”
Como o pessoal costuma dizer, texto fora de contexto gera
pretexto. Uma citação perde todo seu sentido quando tirada do contexto ou conceito
que seu autor deseja transmitir.
Incorre no mesmo erro quem repete a citação de Dion Fortune:
“Todas as Deusas são a Deusa, todos os Deuses são o Deus”.
Eu pretendo explicar e demonstrar os erros que existem nessa
frase.
Rosa é apenas um nome. Nome do que, exatamente? Rosa pode
ser uma flor, uma cor, uma pessoa. Se rosa é apenas um nome, por que diferenciar
a flor da cor e da pessoa?
A rosa verdadeira, por favor, se levante.
Se falamos da flor chamada rosa, ela é apenas uma das muitas
flores. Mas um nome é apenas um nome, então vamos dar o nome de rosa a todas as
flores.
Podemos ir mais adiante, as flores são apenas uma de muitas
plantas. Mas um nome é apenas um nome, então vamos dar o nome de rosa a todas
as plantas.
Podemos ir mais adiante, as plantas são apenas um dos seres
vivos. Mas um nome é apenas um nome, então vamos dar o nome de rosa a todos os
seres vivos. A lista poderia continuar infinitamente, mas acho que o leitor
entendeu.
Se falamos da cor chamada rosa, isto não vive, não tem
cheiro nem tem forma. Mas um nome é apenas um nome então vamos chamar de rosa
todas as cores. Isto vai complicar a vida da Rosa, a pessoa. Como se não fosse
complicado o suficiente ser confundida com uma cor e uma flor.
Vamos falar então da Rosa como o nome de uma pessoa. Ora,
nomes são apenas nomes, então vamos chamar todas as mulheres de Rosa. O seu
noivado com a Letícia vai acabar rapidinho. Como se isso não bastasse, o que aconteceria
se a Rosa fosse afro-descendente? Sua pele é negra ou parda. Mas ora, um nome é
apenas um nome, a pele da Rosa só pode ser rosa, evidente. Podemos ir mais
adiante, cada ser humano, cada pessoa, suas etnias, origens e nomes... nomes
são apenas nomes, então todas as pessoas, etnias, origens e nomes pessoais vão
ser chamados de rosa.
Acredito que este exercício tenha deixado claro que, quando
falamos em nomes, falamos em linguagem, em ortografia, em gramática. Existe um
objeto e um símbolo, um referente e um referido. Quando esta conexão deixa de
existir, a própria razão de existir o nome rosa é seu sentido de diferença e
singularidade entre tantos nomes, sinônimos, artigos, pronomes, verbos. Se vamos
abolir todo o sentido da linguagem, então podemos ir mais adiante e voltar a
grunhir como animais para nos comunicar.
Então os analfabetos funcionais e intelectualmente
desonestos que me perdoem, mas as palavras possuem conceitos e diferenças. Assim
como as religiões tem seus preceitos e características. Assim como os Deuses
tem suas identidades e personalidades.
Uma rosa pode se referir a coisas e pessoas distintas. Não se
pode chamar de rosa um cardo. Não vai chamar sua noiva Letícia de Rosa. Não pode
dizer que pintou sua casa de rosa se você usou tinta verde. Você pode chamar
uma maçã de laranja e ela continuará sendo vermelha.
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