Como se não bastasse a crise econômica na nossa porta, o brasileiro, nos últimos dias, teve que enfrentar uma crise midiática. Trabalho extra para a Patrulha Ideológica do Politicamente Correto.
Como publicitário eu considero pobre o uso do apelo sexual nas campanhas mas, para a lingerie, a linha entre o bom-gosto e a vulgaridade é mais fina e mais frágil.
A Hope (ou melhor, a agência que ela contratou) rasgou essa linha em sua mais recente campanha ao "criativamente" utilizar o maior ícone da moda, Gisele Bundchen, para "ensinar" as mulheres como dar más notícias para seus homens. A reação foi imediata, vinda da Secretaria de Política das Mulheres, que intimou o Conar a suspender o anúncio. A análise simplista é que o comercial reduz a mulher a um mero objeto sexual. O comercial tentou fazer "humor" e quase reeditou a queima dos sutiãs. A realidade é bem outra, na verdade, o papel da Gisele no comercial foi a de mostrar a força e o poder da mulher e da sensualidade. Nós, homens, não temos poder ou defesa alguma e, nesse sentido, o comercial foi feminista.
Outra situação similar foi o mais recente promotor da indigência cultural, do baixo nível, que assola o Brasil. E eu não estou falando de Rafinha Bastos, que tomou um pé-na-bunda da Band. Eu estou falando do Bruno, da dupla sertaneja "Bruno e Marrone", que perdeu a chance de ficar calado. Em um espetáculo nos EUA, Bruno soltou a pérola que a mulher brasileira é piranha. Pior é que as mulheres na platéia ainda riam e aplaudiam o cantor. Se eu fosse mulher e lá estivesse, sairia do teatro, levando comigo meu pai/filho/irmão/marido e faria boicote ao cantor.
O pior é que o cantor é apenas um caso simbólico. No exterior, esta é a fama das brasileiras, indicando que o buraco é mais embaixo. O problema é cultural: na mídia, na arte, no espetáculo existem muitas mulheres que fazem sucesso e riqueza, não pelo seu talento, mas pelo seu corpo e exposição planejada de sua sensualidade. Isso deixando o carnaval e nossas praias de fora da fatura.
Não dá para criticar o cantor pois uma pesquisa recente feita na Terra em Transe mostrou que está havendo um aumento do número de mulheres que tem um relacionamento extra-conjugal. Até aí, nada de mais, direitos iguais, coisa e tal, mas não custa lembrar que vivemos em uma sociedade sexualmente conservadora, repressora e opressora. A indústria da pornografia e da prostituição não são bem sucedidas por mero acaso. E os ditos "relacionamentos alternativos" existem em círculos tão exclusivos e secretos que acabam reforçando o sistema.
As reações e os protestos mostram que queremos mudar e melhorar nossas vidas erótico-afetivas, mas diante da estagnação e da dificuldade do brasileiro em ter a capacidade de mobilização, organização e conscientização política, continuaremos a assistir esses espasmos de dignidade.
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