Outro bom livro e escrito em português é de autoria de Carlos Roberto Figueiredo Nogueira.
Ao estudante, eu insto a ler tudo sobre a Arte, mesmo que seja de livros cristãos, o conhecimento tem formas e vem de fontes inauditas. Este livro é um exemplo disto. Editado pela EDUSC, se ignorarmos o viés cristão e a generalização psicoanalítica, o livro tem dados históricos e antropológicos fundamentais ao estudante do Ofício.
Eu citarei algumas partes interessantes.
Na antiguidade, a magia se ajustava a uma determinada concepção de mundo, onde os homens, os deuses, os planetas, os elementos, os animais, as plantas, se associavam, por intermédio de relações especiais e muito concretas, constituindo um universo simpático. Dentro deste mundo, a magia, se relaciona com a idéia de força particular atribuída a determinadas pessoas que inclusive podiam atuar sobre os deuses e patrocinadas por algumas divindades.[pg 19-20]
[...]a natureza e a moral, a divindade e o homem não constituíam entidades separadas, pos nos sistemas religiosos da antiguidade clássica os deuses estavam submetidos a leis físicas e morais do mundo dos homens, atuando neles e sofrendo a sua atuação.[pg 22]
A magia se aparta, radicalmente das pequenas práticas mágicas individuais, tornando-se um aprendizado e uma ciência de difícil acesso e rígidos princípios éticos, aos quais o vulgo não poderia ter acesso.[pg 34]
Os mestres das "artes antigas", renovadas pelo renascimento, encontram-se mergulhados no seio de um universo povoado de espíritos, de demônios, de seres que são agentes, os instrumentos da casualidade, manejando as forças naturais e produzindo o encadeamento de um fenômeno aos outros, em uma mesma realidade, una e múltipla, material e espiritual.
Assume então a magia, junto ao imaginário, uma nova roupagem; cristaliza-se como uma atividade antiga, herdada de épocas remotíssimas e por vias secretas[...][pg 35]
O termo feitiçaria traz consigo a idéia de "algo feito", para alguns autores estando relacionado ao latim fatum=destino. Sua origem européia parece estar ligada à magia amatória ou erótica, desenvolvida na Grécia, ou melhor dizendo, às operações mágicas vinculadas aos desejos e paixões amorosas, com o auxílio da observação e de técnicas comuns e correntes às práticas amorosas.[pg 42]
Pode-se dizer que a feitiçaria é um fenômeno social arquetípico - oriundos de antigos sistemas agrícolas de tendência matriarcal, onde a mulher, além de responsável pelo cultivo da terra, serviu também de sacerdotisa de cultos ctônicos e lunares.
Prática rural de tempos remotos,a feitiçaria muda-se para a cidade durante o período clássico da antiguidade, para ali estabelecer um ofício, [...] para sofrer uma redução de suas atividades [...], só retmando sua plenitude com a reurbanização da Europa[...][pg 48]
O termo bruxaria aparece pela primeira vez no ano de 589, diz respeito às campinas e é fundamentalmente no meio rural que permanecerá localizado[...][pg 57]
A irrupção da bruxaria se dá no meio rural fundamentalmente, onde a presença de antigas tradições e a ausência da tutela ortodoxa lhe permite exercer as suas atividades, se não maléficas [...] ao menos mágicas.[pg 61]
Eu reitero a recomendação para ler o livro por inteiro. O que eu posso ressaltar, em resumo, em relação à Bruxaria, História e a Academia, pode-se concluir que a Bruxaria surgiu e foi formada a partir de crenças que sobreviveram ao Cristianismo ou foram assimiladas por ele, bem como foi construída da "folclorização" do Cristianismo, recebendo influências de diversos sistemas religiosos e magistas, oriundos do Norte da África, da Espanha, da Grécia e do Oriente Médio, o que põem em xeque a teoria que a Bruxaria seja apenas vinculada às crenças "pré-cristãs" e estejam limitadas por uma "tradição cultural íbero-celta".
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