sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Pau de Santo Antonio

Direto da Marreta do Azarão:
Depois de conspirar e prejudicar o próximo, bebedeira e putaria vêm em segundo lugar no ranking das preferências humanas. O ser humano gosta de pôr pra jambrar, gosta é de rosetar. E tanto melhor se houver justificativas hipócritas para tal. A ciência e a religião - as duas filhas prediletas da humanidade - se prestam a isso perfeitamente, ora uma ora outra.
Um exemplo dos mais hipócritas do que falo é a festa do Pau de Santo Antônio. Em diversas localidades do país, um grupo de homens, que pode passar dos 100 integrantes, se embrenha na mata em busca de um imenso tronco, que varia de acordo com a região, alguns até de madeira protegida pelo IBAMA, aroeira, jatobá, angico, carnaúba etc.
O tronco é derrubado e carregado em procissão até o arraial da aldeia onde dar-se-á a festa de Santo Antônio; alguns troncos, como o de jatobá, podem medir mais de 20 metros e pesar 2 toneladas. Os heroicos homens não são movidos apenas por sua fé, parte da força necessária ao tranporte do pau do santo é oriunda da boa e velha cachaça, um carrinho vai acompanhando o cortejo e quando os homens se cansam, largam o pau para tomar um fôlego e bebem da cachaça abençoada pelo padre da paróquia local.
Em certas partes mais acidentadas do trajeto, há o cansaço e esmorecimento natural dos homens a carregar o vergalhão santo, é nessas horas que entra a figura do Capitão do Pau, um senhor já de idade, incapaz de levantar pau algum, que vai à frente da comitiva incentivando e insuflando os ânimos : "É a tradição, gente, não vamos esquecer. Esta é a maior festa de Santo Antônio do muuundo! Vamos lá, vamos levantar esse pau! Vamos pôr ele pra cima!"
Ao chegar ao arraial com sua preciosa carga, o grupo de homens é recebido com festa do povaréu, principalmente das beatas, aquelas "tias" encruadas, gordas, com pernas cheias de pelos e varizes e bucetas que fazem gambá morrer de inveja. A turba feminina, desesperada por um casamento, toma de assalto o pau de Santo Antônio, pegam no pau, abraçam o pau, beijam o pau, sentam no pau e arrancam cascas do pau para fazer um chá, simpatia que, dizem, é tiro e queda para conseguir marido. O pau do santo, já todo esfolado, babado e embucetado, finalmente é erguido no meio do arraial e hasteada nele a bandeira de Santo Antônio. A festa, cuja origem remonta os tempos do Império, só está começando, ainda serão mais 24 horas de muita cachaça e pegação no pau.
Bebida e putaria, tudo em nome e patrocinado pela Santa Igreja Católica.
Como diria o imortal filósofo e pensador Paulo Silvino : "Ai, como era grande !!!"

Um comentário:

A Marreta do Azarão disse...

É uma honra me ver publicado num blog de tal nível e tão informativo.
Obrigado.