Pelas condições de nosso surgimento e pelos meios que percebíamos nossa existência surgiu o maravilhamento, o assombro, o medo. Desse amalgama de sensações e sentimentos nós percebemos alguns sinais que entendemos como de origem espiritual e, da mesma forma como tentamos estabelecer relações com o meio natural e social, nós temos tentado estabelecer uma relação com o mundo espiritual.
Esta busca constante foi se desenvolvendo e se manifestando em diversas formas até se estruturarem como religião e conseqüentemente a ideologia da religião afetou as manifestações e as formas de perceber os sinais do além.
O sinal mais comum de perceber a existência desse além é a comunicação com os espíritos de pessoas falecidas.
Um provinciano ri da simpatia do camponês que coloca moedas nos olhos do falecido sem perceber que a missa de sétimo dia contém o mesmo mecanismo fetichista debaixo de toda a aparente sofisticação cerimonial. Um cético ri da mesma forma das evidências da existência da vida pós-morte, mas as explicações dadas aos fenômenos são confusas e contraditórias. Um ateu diz que tal empenho é desnecessário, não há comunicação porque não há nada com o que se comunicar.
O primeiro indício de comunicação com os mortos foi tanto acidental como casual, as experiências foram sendo registradas de forma amadora e, em sua maior parte, em eventos que ocorreram de forma voluntária, sem que fossem possíveis de mensuração ou repetição.
Seguiram-se então tentativas de estabelecer de forma técnica e científica a comunicação, o que foi conseguido e relatado no que é conhecido como Experimento Scole.
Eu ainda não li algum artigo da comunidade científica ou análise de céticos e ateus quanto a esse relatório supostamente científico de comunicação com o mundo espiritual, mas eu fico intrigado com os resultados, se forem confiáveis. Mais ainda, eu fico cismado com a presença da doutrina kardecista na interpretação das evidências resultantes dessa comunicação.
Considerando que nosso mundo seja apenas uma parcela de uma realidade mais ampla, é de estranhar que as manifestações dos espíritos contenham ou manifestem apenas a doutrina kardecista, sem discordâncias, sem divergências. Entre tantas pessoas que morreram, não houve nenhuma manifestação na língua, no pensamento ou na religião da época ou do local que o finado pertencia. Eu considero perturbador imaginar que o mundo espiritual tenha um pensamento homogêneo, nós lutamos tanto nesse mundo contra a tirania e a massificação para irmos a um outro mundo que mais parece uma utopia orwelliana?
Eu espero, como pagão e humano, que o mundo espiritual seja mais divinamente diversificado que este mundo, com pessoas com pensamentos, opiniões e idéias diferentes. Eu espero que o mundo espiritual não seja um clube de campo exclusivo de uma religião, mas que tenha espaço para todos e que cada um tenha um lugar adequado para descansar, conforme suas crenças.
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