quinta-feira, 4 de julho de 2024

Sobre títulos e nobreza

Steven Posch escreveu em sua coluna, "Paganistão", algo que é interessante e provocante.

Citando:

Somos pagãos americanos. Vivemos numa democracia e pensamos democraticamente.

Retomando.

Pausa para respirar fundo. Essa declaração tem vários problemas. Eu escrevi em algum lugar que o que nós fazemos é uma reconstrução cultural. Nós nos apropriamos do termo "pagão" e o ressignificamos. Então, nós somos e não somos "pagãos". Eu escrevi em algum lugar que a "democracia" ateniense estava bem longe de ser democrática. Com a ascensão da extrema direita, a "democracia contemporânea" pode desaparecer.

Citando:

Então, o que há com toda a linguagem aristocrática/monárquica – senhores, damas, reis, rainhas – quando falamos sobre os deuses? Tendo abandonado as instituições, por que mantemos a linguagem, e não seria melhor substituí-la por algo mais de acordo com a nossa própria política?

Retomando.

Pausa para respirar fundo. Eu detesto, mas parece aquela pergunta quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. O culto aos Deuses precede, em muito, qualquer instituição humana. Precede até a linguagem. O mais provável é que a humanidade criou a instituição da nobreza, o regime da aristocracia/monarquia depois de decidir como entitular os Deuses. Adendo, Deus é um título também.

Eu escrevi em algum lugar sobre o costume dos nossos ancestrais de casar seus reis com Deusas, algumas cavalos, outras serpentes  ou dragões e por aí vai. Deve ser escândalo nos dias de hoje, muita celebridade no Paganistão tenta esconder isso, mas o hiero gamos era fato e eu sei que grupos mais tradicionalistas ainda realizam o "sexo sagrado".
Mas, assim como o Império das religiões abraâmicas, nós temos que tentar ser ou parecer inclusivos. Eu escrevi em algum lugar que cultos e rituais homossexuais tinham sua devida função nas crenças antigas.

Então Steven escreveu (citando Kris Kershaw) em outra postagem:

Entre os povos pré-letrados, todas as informações importantes, e especialmente qualquer coisa que deva ser aprendida de cor, estão em verso; a forma do verso atua como um dispositivo mnemônico e, ao mesmo tempo, o assunto é retirado do domínio do cotidiano. Todo o conhecimento que o jovem... guerreiro tinha que absorver durante o período de treinamento na Jungmanschaft estava em verso; isso incluiria a história de seu povo, hinos aos deuses e histórias sobre eles, bem como informações gerais sobre como se dar bem na vida em um mundo perigoso e muitas vezes intrigante.

Ele mesmo, comenta:

Não é ainda assim entre os covens da Bruxaria, treinando a próxima geração?

Eu respondo:

Infelizmente não. Em um mundo capitalista, onde o Ofício virou mais um produto para consumo das massas, a conveniência e a facilidade deve estar disponível, mesmo que seja em suaves prestações.

Então Steven, em outra postagem, deixa escapar um mistério do Ofício.

Citando:

Veja agora aquele colar que ela usa, a Senhora das Bruxas; mesmo quando não usa mais nada, ela usa.

Idem:

Veja agora aquele torque que ele usa no pescoço, o Chifrudo; mesmo quando não usa mais nada, ele usa.

Retomando.

Hoje em dia, eu, pobre pagão ordinário (ênfase no ordinário), corro o risco de ser excomungado se falar da nudez cerimonial. Nós dizíamos, orgulhosos, em nossos rituais: vistam-se de céu.

Mas eu deixo a pergunta. O Senhor e a Senhora, são santificados e divinos por usarem o colar e o torque, ou o colar e o torque são santificados e divinos por serem usados pelo Senhor e pela Senhora?

Nenhum comentário: