Polêmica, a imagem de Baphomet é comumente associada à figura do próprio demônio pela sociedade e é ligada a diversos grupos místicos ou religiosos, com uma conotação negativa na maioria das vezes. Afinal, o que é esse ser bizarro e por que tanta gente o enxerga como Satanás?
O relato mais antigo do nome “Baphomet” foi encontrado em uma carta sobre o cerco de Antioquia, que ocorreu em 1098, durante a Primeira Cruzada. Historiadores acreditam que, nesse contexto, a palavra era usada pelos cruzados para se referir a Maomé, o fundador do islamismo.
Posteriormente, a figura de Baphomet teria sido ligada a uma “divindade” adorada pelos Cavaleiros Templários a partir do século XII. O nome aparece em diversos registros da Inquisição contra essa ordem no século XIV, quando foram perseguidos pela Igreja Católica, especialmente na França, pelo rei Felipe IV e pelo papa Clemente V. Na visão dos cristãos, tratava-se de um deus pagão adorado secretamente dentro dessa sociedade secreta e, por isso, o Baphomet passou a ser relacionado ao diabo.
Entre as diversas descrições de Baphomet feitas pelos templários torturados pela Igreja Católica estão: uma cabeça decepada sobre um altar; um gato preto; uma cabeça com diversas faces; um bode; um pentagrama (normal ou de cabeça para baixo), etc.
Vale notar que todas as informações sobre esse suposto Baphomet têm origem em documentos cristãos da Inquisição; logo, não há nenhuma, por parte dos próprios templários, que não tivesse sido obtida sem pressão ou tortura.
Uma das possíveis histórias de origem dos maçons da atualidade diz que a maçonaria seria uma continuidade da ordem dos Cavaleiros Templários, extinta no século XIV quando o último grão-mestre, Jacques de Molay, foi queimado vivo a mando do rei Felipe IV e do papa Clemente V. A maçonaria contemporânea teria surgido no século XVIII a partir de conhecimentos e práticas mantidas vivas pelos templários, o que incluiria essa suposta ligação com Baphomet.
No século XIX, o Baphomet passou a ter uma conexão forte com o misticismo e o ocultismo, ganhando popularidade nos trabalhos de Eliphas Levi, em especial no livro Dogma e ritual da alta magia. É dessa obra que vem a imagem mais famosa dessa figura e nela o autor também a chama de “bode de Mendes”, ligando-a ao antigo culto egípcio na cidade de Mendes (nome grego para Djedete), onde um bode era adorado como divindade, segundo relatos do historiador Heródoto.
Essa relação do Baphomet com um bode se dá também pela história bíblica do bode expiatório, um costume hebraico do Yom Kipur, o “Dia do Perdão”, em que um desses animais era solto no ermo para que levasse consigo os pecados e as impurezas das pessoas, enquanto outro era sacrificado em honra do Deus judaico. Esse bode era chamado Azazel, que posteriormente os cristãos associaram a um anjo caído que acabou se tornando demônio por introduzir conhecimentos proibidos aos humanos.
Além disso, Levi também chama Baphomet de “bode do Sabá”, conectando a figura a deuses pagãos europeus venerados em reuniões de praticantes de bruxaria na Idade Média. Esses cultos foram severamente perseguidos pela Inquisição da Igreja Católica, acusados de apresentarem adoração ao demônio.
Existem muitas teorias sobre o que significa a palavra “Baphomet”. Algumas delas são:
uma maneira “alterada” de se falar Maomé no francês arcaico;
uma palavra cifrada com origem na frase em latim basileus philosophorum metaloricum (algo como “o soberano dos filósofos metalúrgicos” em tradução livre), o que faria referência à prática da alquimia pelos templários;
uma adaptação da palavra grega βαφη μητouς ou baphe metous, que significaria “batismo de sabedoria” em tradução livre, um termo ligado à visão gnóstica maniqueísta de Deus herdada dos templários;
a soma dos nomes de três deuses pagãos — baph seria ligado a Baal, um deus de civilizações (como sumérios e acádios), pho faria referência a Moloch, uma divindade da religião dos cananeus, e met teria conexão com o deus egípcio Set;
Baphomet, em hebraico bpwmt, seria uma codificação numérica cabalística referente a šwpy, interpretado como sophia, palavra grega que significa “sabedoria”;
ainda segundo a cabala judaica, o termo seria escrito de trás para a frente, tem. o. h. p. ab, sendo uma abreviação do latim templi omnium hominum pacis abbas, em português “abade” ou “pai do templo da paz de todos os homens”.
São bem diversas as imagens ligadas a Baphomet por toda a história, como já foram citadas, e elas divergem de acordo com quem as relata. A versão mais “moderna” da figura é a registrada pelo místico Levi (já citada). Ela representa uma série de elementos que deve ser interpretada em conjunto, resultando em uma simbologia alquímica da natureza humana, tanto física quanto metafísica. É também uma representação panteística e mágica do absoluto.
O que vemos é uma figura zooantropomórfica, ou seja, com componentes humanos e animais, e que retrata um ser hermafrodita, com características femininas e masculinas. Juntamente aos braços de Baphomet, um aponta para cima e outro para baixo, com as palavras latinas solve (“separar”) e coagula (“juntar”), esses elementos retratam opostos binários, encarnando opostos e contrastes.
As mãos de Baphomet são humanas e apresentam apenas dois dedos esticados, gesto que pode ser visto, inclusive, em algumas imagens de Jesus Cristo. Esse elemento tem origem nos supostos trabalhos de Hermes Trismegisto, um personagem místico lendário originário da fusão de crenças gregas e egípcias. Seu significado é “aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo”, ou seja, uma indicação de correspondência entre diferentes planos de existência e uma analogia entre macrocosmo e microcosmo.
As pernas cruzadas e cobertas por um pano simbolizam o conhecimento hermético esotérico, a sabedoria “velada” que só é revelada para “iniciados”, buscadores dessas informações ocultas. O cetro que surge de seu ventre é o caduceu, o emblema do deus Hermes, um símbolo fálico associado ao equilíbrio moral, ao caminho de iniciação e ao de ascensão energética.
O torso de Baphomet tem seios, que além de darem a ideia da dualidade masculino e feminino, representam a fertilidade, a maternidade e o trabalho — sinais de redenção. A cabeça de bode também é uma síntese de outros animais, com características de cão, touro e burro, ela representa a responsabilidade só da matéria e a expiação dos pecados corporais. Sobre ela, há uma tocha entre os dois chifres, representando a inteligência equilibrante do ternário.
A ligação entre a figura de Baphomet e a maçonaria ainda é alvo de muita especulação. Tudo começou com um caso conhecido como “fraude de Taxil”, quando o escritor e jornalista francês Léo Taxil (1854-1907) criou uma fake news sobre a maçonaria após ter sido expulso da ordem na década de 1890.
Ele escreveu um livro chamado Os mistérios da maçonaria revelados por Léo Taxil que tinha na capa a imagem de Baphomet e afirmava haver um culto satânico dentro das lojas maçônicas que o autor chamou de paladismo. Anos depois, Taxil confessou que tudo não passava de ficção para difamar a ordem, mas o estrago já tinha sido feito.
Movimentos antimaçonaria, principalmente surgidos entre seguidores de religiões judaico-cristãs, passaram a propagar múltiplas formas de discriminação contra a ordem, que iam de difamações a perseguições violentas, ligando os membros da organização a todo tipo de prática “negativa” (do ponto de vista deles, claro), incluindo a adoração a divindades diversas e ao satanismo.
Hoje, as lojas maçônicas negam adorar Baphomet ou sequer usá-lo como símbolo em seus rituais. Elas também afirmam não ter relação com o uso de pentagramas, da figura do bode ou algo semelhante.
Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/baphomet-a-verdadeira-historia-do-simbolo-ligado-a-maconaria/amp/
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